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Joseph Pulitzer

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Evocação do Hino de Timor Leste

Composto em 1975 por Afonso de Araújo e com letra de Francisco Borja da Costa, o hino timorense foi usado pela primeira vez a 28 de novembro desse ano quando a Fretilin declarou unilateralmente a independência de Timor-Leste.


Borja da Costa acabou por ser morto dias depois, a 07 de dezembro, quando se concretizou a invasão indonésia do país mas o seu legado ficaria vincado na simbologia nacional.

O hino acabou por ser formalmente declarado hino nacional numa votação histórica a 18 de março de 2002, quando a votação do artigo 165A da Constituição da República Democrática de Timor-Leste se transformou num 'debate musical', cheio de contornos mais lúdicos.

Como de música se tratava, membros da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente) arranjaram um pequeno 'walkman', com os respectivos auriculares, colocando um dos mini auscultadores junto ao microfone normalmente usado para os debates.

O som do hino lá chegou às colunas da sala, suscitando imediato coro de grande parte da bancada da Fretilin e até de membros de outros partidos, conhecedores da letra.

A cantoria acabou por suscitar ainda mais debate, com alguns deputados a sugerirem que faltavam "características marciais" à melodia, outros a sugerir alterações à letra e outros até a solicitarem uma nova interpretação.

Foi o caso de Clementino Amaral (KOTA) que afirmou que "apenas aquelas quatro senhoras", apontando para quatro deputadas da Fretilin, tinham sabido dar ao tema "o tom marcial" que era devido.

"Eu pedia para elas cantarem outra vez", disse, perante risos dos restantes deputados e da pouca gente que acompanhava o debate.

Descontraídos, deputados e presidente da Assembleia, esqueceram por momentos o protocolo, com Feliciano Fátima (ASDT) a oferecer-se "para acompanhar" nova tentativa.

O próprio presidente, Lu-olo acabou por se juntar à descontracção momentânea, perguntando a Jacob Xavier (PPT) se mais um pedido de intervenção "também é para cantar".

Já estava o debate mais ao mesmo encaminhado - depois de referências a Beethoven, à "música clássica europeia" e até à necessidade de reformular o texto, quando Aliança Araújo (PNT) lança mais uma proposta na mesa.

Como alternativa ao "Pátria Pátria" sugere o actual hino da FRETILIN "Foho Ramelau", de Abílio Araújo e Borja da Costa.

"Eu fiz aqui esta proposta e sei que não vai passar, mas como já me doeu a mão para a escrever vou apresentá-la na mesma", disse, perante risos de alguns dos presentes.

E como a proposta também era "multimédia", Aliança Araújo saca de uma cassete, e vá de tocar uma das versões mais clássicas do hino do maior partido timorense.

Não fugindo à tradição que tinham acabado de criar, os deputados voltaram a juntar-se em coro, numa interpretação que no fim teve direito a sessão de palmas e tudo. Ainda que depois a ideia do "Foho Ramelau" fosse recusada, porque a FRETILIN teria que desistir do seu hino partidário.

Quanto ao assunto mais importante e depois do interessante processo de debate, os membros da Assembleia Constituinte decidiram primeiro aprovar, retirando a palavra "provisório" do artigo intitulado "Hino Nacional".

Logo a seguir, com 67 votos a favor, três contra e oito abstenções - numa sessão a que faltaram 10 deputados - foi aprovado o artigo que define como hino nacional "a melodia 'Pátria-Pátria, Timor-Leste a nossa nação'".

Cinco anos depois o parlamento aprovou a lei 2/2007, dos símbolos nacionais, clarificando que "o hino nacional, designado por Pátria, é composto por música de Afonso Redentor de Araújo e letra de Francisco Borja da Costa".

"A pauta musical do hino nacional, obedece à instrumentação original e recuperação de Paulo Pereira dos Santos e de Abílio de Araújo", nota ainda.

Mais adiante o texto nota que "ninguém pode ser admitido como funcionário público ou integrado, sob qualquer regime laboral, em serviço público sem que demonstre conhecimento da letra integral do hino nacional".
 



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