“Estou tranquilíssimo. Dialogamos e eu não sinto qualquer tipo de dificuldades em dizer aquilo que penso e como é que eu acho que as coisas vão ser”.



O chefe do próximo Governo guineense não se pronuncia sobre a continuidade do general António Indjai, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), líder do golpe de Estado de abril de 2012 e procurado pela justiça dos Estados Unidos por alegado envolvimento em tráfico de droga.
A liderança dos militares é uma questão “que tem algum grau de sensibilidade e, por isso, vamos estar muito atentos e ponderar cada medida, cada mecanismo da sua abordagem”.
“Não é algo banal que vamos resolver no primeiro dia, mas também não é algo que podemos deixar em aberto e rever daqui a algum tempo”, acrescentou.
No que aos militares diz respeito, Domingos Simões Pereira diz compreender a intranquilidade da comunidade internacional, mas pede ao exterior que confie na Guiné-Bissau para encontrar soluções.

“O que estamos a pedir é que acreditem em nós e deixem que sejamos nós a fazer a condução deste processo e a encontrar as soluções mais adequadas para as questões que se colocam” ao nível da reforma das forças armadas, destacou.
Alinhado com o discurso de tomada de posse do Presidente José Mário Vaz, o chefe de Governo entende que os militares podem “participar no esforço de reconstrução nacional: as forças armadas “têm que ser produtivas, não apenas um encargo”.

Internamente, para arrumar de vez o passado de instabilidade e violência entre políticos e militares, Domingos Simões Pereira pretende ver lançado “um processo de diálogo a favor da reconciliação” em que o Governo é um entre vários intervenientes.
Começar a discussão pela aprovação ou não de uma amnistia “é um mau ponto de partida: o final tem que ser a reconciliação e o ponto de partida é o diálogo. Se pelo meio tivermos que passar por amnistias ou outro tipo de mecanismos, que os interpretemos como mecanismos, não como condições, nem como objetivos”.
“De outra forma ficamos num braço de ferro”, considerou, sublinhando que a Guiné-Bissau “não precisa desses confrontos, temos que evitar as formulações que pretendem ver tudo a preto ou tudo a branco – ou amnistia ou impunidade total. Temos que deixar estes quadros”.

O novo Governo vai entrar em funções numa altura em que o antigo chefe da Marinha guineenses, Bubo na Tchuto, detido em Nova Iorque, confessou-se culpado depois de ter sido apanhado numa ação anti-droga em 2013.
O primeiro-ministro garante que o Governo “terá todo interesse em colaborar, sem renitências, com as instâncias internacionais que promovam a justiça”.
No entanto, como político, diz ter que se preocupar em saber “como é que um general guineense, um Combatente da Liberdade da Pátria, alguém que teve a consciência de ir à luta da libertação e aparecer praticamente como um herói, pôs isso tudo em causa juntando-se ao mundo do crime”.
“A mim choca-me. Não me posso contentar com o simples facto de me dizerem ‘prendemos um narcotraficante’”, frisou na entrevista à Lusa.