COM O TEMPO UMA IMPRENSA CÍNICA, MERCENÁRIA, DEMAGÓGICA E CORRUPTA, FORMARÁ UM PÚBLICO TÃO VIL COMO ELA MESMO

Joseph Pulitzer

domingo, 8 de janeiro de 2017

Um anestesista para todo o país. Grávidas morrem em todo o país

Uma mulher de 24 anos entrou no bloco operatório a esvair-se em sangue. Morreu em 20 minutos numa mesa de operações do Hospital Simão Mendes, em Bissau, vítima da urgência mais comum no país: um parto que requer cesariana.

Ia ter o primeiro filho, mas nem ela nem o bebé resistiram a uma viagem de centenas de quilómetros com uma hemorragia no útero, recorda Ramón Soto, o único anestesista de que o Estado guineense dispõe para satisfazer cerca de milhão e meio de habitantes.

Este é um dos casos com que justifica a importância da formação que está a decorrer de 35 técnicos em anestesia a distribuir pelas regiões - porque sem anestesia, não há cesariana, logo, os casos são encaminhados para Bissau por caminhos que, por vezes, mal servem para andar a pé.
Assim que terminem o curso de um ano, os 35 enfermeiros vão regressar às regiões de origem para começar a salvar grávidas de uma viagem de risco para a capital.
A taxa de mortalidade materna do país é a maior do mundo lusófono: morrem 549 mulheres por cada cem mil nascimentos (em Portugal são dez por cada cem mil, dados da Organização Mundial de Saúde de 2015).

A maioria dos partos acontece sem um profissional qualificado, acompanhamento que só é uma realidade para 45% das mães, segundo os dados do Inquérito aos Indicadores Múltiplos (MICS) de 2014.
A falta de recursos humanos é tão grande na Guiné-Bissau que é fácil ser o único profissional ou especialista em qualquer área.
Mas quando se trata de "uma especialidade como a Anestesiologia, que é 'anémica' até no primeiro mundo, com poucos profissionais", há um risco acrescido de não haver ninguém com nível científico para a praticar ou ensinar, realça Ramón Soto.

Há dois anos deixou Cuba e aceitou o desafio do programa H4+ de promoção da saúde materna e infantil, uma iniciativa de agências das Nações Unidas financiada pela cooperação sueca.
Os responsáveis pelo programa diagnosticaram o problema e escolheram Ramón Soto para o atacar, assumindo o papel de único anestesista da saúde pública de um país inteiro.
Já passou por uma responsabilidade que transformou este médico cubano, 54 anos, num homem hipertenso.
Na sala de operações, "às vezes pede-se uma epinefrina [estimulante cardíaco] e não há ou o carro de reanimação não está completo ou faltam medicamentos e tudo isso é fundamental para uma anestesia em segurança", descreve, ao falar dos sobressaltos que o consomem.

"Há problemas, há stresse", que desafiam Ramón Soto, pese embora os anos de experiência em cuidados intensivos e noutras cinco missões internacionais -- uma das quais no Iraque, que coincidiu com uma invasão militar.
Mais difícil ainda vai ser o trabalho dos técnicos em anestesia que está a formar, que podem ter que improvisar com menos meios do que na capital.
"Há muitas mortes, porque as mulheres não vão logo para o hospital. Ficam em casa e só na fase final procuram ajuda. Às vezes é tarde demais", queixa-se Júlio Nanque, 33 anos, enfermeiro no Hospital Regional de Catió, onde já viu a tragédia acontecer mais que uma vez, a 300 quilómetros da capital.
É um dos formandos que está a aprender a aplicar anestesia geral e local.
"Vamos aprender a trabalhar com epidural", destaca Maitana Cardoso, 35 anos, do Hospital de São Domingos, no norte, a meia-dúzia de quilómetros do Senegal.
A anestesia obstétrica está no centro da formação.

Resta saber se depois de colocados os novos técnicos, as grávidas conseguem ter tudo o resto do seu lado, para afastar o risco de morte, porque problemas não faltam.
"São precisos mais especialistas e mais recursos", acrescenta Soto.
Para já, em abril de 2017, haverá mais 35 técnicos em anestesia para dar esperança numa frente renovada de combate à mortalidade materno-infantil fazendo mais cesarianas nas regiões.

Lusa

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Tudo a "arder"...

O Estado da G-Bissau tem vindo a endividar-se novamente através de empréstimos e neste momento deve mais de 200 milhões de euros ao mercado financeiro de países da Africa Ocidental, revelou, quarta-feira (4), o novo ministro da Economia e Finanças.


João Fadiá reuniu-se hoje com os operadores económicos para lhes transmitir as suas ideias para a nova política económica que pretende encetar na Guiné-Bissau para contrariar a falta de recursos públicos e o endividamento do Estado.
O ministro da Economia e Finanças guineense aproveitou a ocasião para criticar a opção tomada pelos governos nos últimos dois anos, nomeadamente por terem contraído dívidas que disse terem sido utilizadas apenas no pagamento de bens de consumo de luxo e salários.

"Hoje as Finanças Públicas têm uma situação muito grave (...) o que não pode continuar", indicou João Fadiá, para sublinhar que a dívida do Estado para com a banca comercial e ao mercado financeiro da União Económica e Monetária Oeste Africana (UEMOA) "não trouxe melhorias para a população".
Disse que o dinheiro foi utilizado para o pagamento de despesas de consumo e luxo, nomeadamente compra de viaturas sem que se construísse nada que pudesse servir para a população.

João Fadiá quer mudar a tendência, propondo o aumento de arrecadação de receitas públicas, centralização das mesmas, contenção de despesas do Estado e do endividamento.
O ministro da Economia e Finanças, que até à sua entrada para o Governo, no passado mês de novembro, era diretor do Banco Central de Estados da Africa Ocidental (BCEAO) para a Guiné-Bissau, diz-se preocupado com o ritmo do endividamento do país após o perdão da dívida aos parceiros bilaterais e multilaterais em 2010.

A dívida externa da Guiné-Bissau ascendia a cerca 1,5 milhões de dólares e foi perdoada depois de o país cumprir com uma série de critérios no âmbito da iniciativa de apoio aos países altamente endividados (HIPC, na sigla inglesa).
Na altura, ficou acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que o país devia "ter cuidado e critério" nos próximos endividamentos caso viesse a ter necessidade disso.

Braima Camará, presidente da Camara do Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços (CCIAS), que falava em nome dos empresários que atuam na Guiné-Bissau, enalteceu as medidas propostas pelo ministro da Economia e Finanças e disponibilizou total apoio do setor privado para acompanhar o novo Governo.
"Se as Finanças Públicas estão com problemas, o setor privado está ainda pior", enfatizou Camará, que apontou a persistência da crise política como estando a inibir o ambiente de negócios na Guiné-Bissau.



Conselho de Segurança da ONU está a estudar a aplicação de sanções a políticos da G-Bissau pela não implementação do Acordo de Conacri

A medida está a ser estudada no seguimento da Cimeira da CEDEAO em Abudja, Nigéria, na qual esta organização reconheceu que a crise política em Bissau não foi resolvida com a nomeação de Umaro Sissoko para o cargo de Primeiro Ministro a meio de Dezembro último.


Logo após a nomeação de Sissoko para o lugar de Primeiro Ministro, o PAIGC veio a público referiu que não aceitava esta escolha, uma vez que nas reuniões mantidas em Conacri o nome de consenso aceite por todos os participantes foi o de Augusto Olivais, ex-Secretário Geral do partido.

Alpha Condé, Presidente da Guiné-Conacri e mediador internacional da crise guineense, deverá apresentar em breve o relatório final da Cimeira de Abudja aos membros do Conselho de Segurança. Se o documento referir o nome de Augusto Olivais como a escolha consensual em Conacri, o Conselho de Segurança irá estudar a possibilidade de aplicação de sanções políticas contra grupos ou indivíduos, entre os quais o próprio Presidente José Mário Vaz, que impeçam a resolução do impasse político guineense pela aplicação do referido acordo.

O comunicado final da Cimeira de Abudja deixa em aberto a possibilidade de que a escolha de Sissoko não tenha sido consensual entre os actores políticos em confronto, nomeadamente o PAIGC e o grupo dissidente dos 15 e o partido da oposição PRS. A escolha de um Primeiro Ministro de consenso era uma das condições do Acordo de Conacri, a par da nomeação de um Governo que respeitasse as forças políticas no Parlamento e a reintegração no PAIGC do grupo de dissidentes.

O actual Governo de Umaro Sissoko é composto por elementos oriundos do PRS, segundo partido mais votado nas últimas legislativas, por elementos do grupo dissidente do PAIGC, e por elementos de outras formações políticas.



quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Domingos S Pereira e Nuno G Nabiam, notificados pela PGR

O Ministério Público da Guiné-Bissau notificou o presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira, e antigo candidato presidencial e líder da Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau, Nuno Gomes Nabiam para comparecerem nesta quinta-feira, 5, na Procuradoria-Geral da República (PGR).


Domingos Simões Pereira diz desconhecer o objecto da notificação, enquanto Nuno Gomes Nabiam vai ser ouvido na sequência de declarações recentes sobre um hipotético plano de assalto ao Parlamento guineense.

Na opinião do PAIGC, a convocação do seu líder por parte da PGR, representa um acto de “perseguição e de intimidação” lançada pelo Presidente da República, José Mário Vaz, ao mesmo tempo que acusa o Chefe de Estado de assumir uma “postura errática e seletiva contra todos os que não se conformem com a política ditatorial a ser implementada”.

Uma fonte do PAIGC disse, entretanto, que a notificação de Simões Pereira carece de legalidade porque “ele é um deputado, por isso antes de comparecer junto ao Ministério Público a sua imunidade parlamentar deve ser levantada, o que não foi o caso”.
A mesma fonte afasta a possibilidade do antigo primeiro-ministro ser ouvido esta quinta-feira na Procuradoria-geral da Republica.

O Ministério Público convocou ainda, para esta quinta-feira, o presidente da Assembleia do Povo Unido–Partido Democrático da Guiné-Bissau, Nuno Gomes Nabiam, no âmbito das suas recentes declarações sobre um hipotético plano de assalto ao parlamento guineense.
Ao reagir à notificação, a direcção superior daquela formação política, dirigida pelo antigo candidato às eleições presidenciais em 2104, contra o actual Presidente da República, José Mário Vaz, convocou os seus militantes e dirigentes para uma concentração na residência do Nabiam, momentos antes deste se dirigir para o Ministério Público.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Paraiso dos ladrões...

O Estado da Guiné-Bissau tem vindo a endividar-se novamente através de empréstimos e neste momento deve mais de 200 milhões de euros ao mercado financeiro de países da África Ocidental, revelou hoje o novo ministro da Economia e Finanças.


João Fadiá reuniu-se hoje com os operadores económicos para lhes transmitir as suas ideias para a nova política económica que pretende encetar na Guiné-Bissau para contrariar a falta de recursos públicos e o endividamento do Estado.
O ministro da Economia e Finanças guineense aproveitou a ocasião para criticar a opção tomada pelos governos nos últimos dois anos, nomeadamente por terem contrariado dívidas que disse terem sido utilizadas apenas no pagamento de bens de consumo de luxo e salários.

"Hoje as Finanças Públicas têm uma situação muito grave (…) o que não pode continuar", indicou João Fadiá, para sublinhar que a dívida do Estado para com a banca comercial e ao mercado financeiro da União Económica e Monetária Oeste Africana (UEMOA) "não trouxe melhorias para a população".
Disse que o dinheiro foi utilizado para o pagamento de despesas de consumo e luxo, nomeadamente compra de viaturas sem que se construísse nada que pudesse servir para a população.

João Fadiá quer mudar a tendência, propondo o aumento de arrecadação de receitas públicas, centralização das mesmas, contenção de despesas do Estado e do endividamento.
O ministro da Economia e Finanças, que até à sua entrada para o Governo, no passado mês de novembro, era diretor do Banco Central de Estados da Africa Ocidental (BCEAO) para a Guiné-Bissau, diz-se preocupado com o ritmo do endividamento do país após o perdão de dívida aos parceiros bilaterais e multilaterais em 2010.

A dívida externa da Guiné-Bissau ascendia a cerca 1,5 milhões de dólares e foi perdoada depois de o país cumprir com uma série de critérios no âmbito da iniciativa de apoio aos países altamente endividados (HIPC, na sigla inglesa).
Na altura, ficou acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que o país devia "ter cuidado e critério" nos próximos endividamentos caso venha a ter necessidade disso.

Braima Camará, presidente da Camara do Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços (CCIAS), que falava em nome dos empresários que atuam na Guiné-Bissau, enalteceu as medidas propostas pelo ministro da Economia e Finanças e disponibilizou total apoio do setor privado para acompanhar o novo Governo.
"Se as Finanças Públicas estão com problemas, o setor privado está ainda pior", enfatizou Camará, que apontou a persistência da crise política como estando a inibir o ambiente de negócios na Guiné-Bissau.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

JOMAV vai ouvir candidato derrotado em eleições

Fonte da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), sem representação parlamentar, liderado por Nuno Nabian disse hoje à agência Lusa que o político irá comparecer no Ministério Público na quinta-feira, a partir das 10:00 (mesma hora em Lisboa).


Nabian será ouvido no âmbito de um processo de inquérito aberto pela Procuradoria para que esclareça as denúncias que fez segundo as quais estaria em marcha um alegado plano para prender e destituir de funções o líder do Parlamento guineense, Cipriano Cassamá.
Numa reunião do seu partido, Nuno Nabian afirmou estar na posse de informações que apontavam pela iminência da execução do alegado plano que segundo disse teria como objetivo levar o Parlamento - sem Cipriano Cassamá - a aprovar o programa do Governo de Umaro Sissoco Embaló.
Em reação à denúncia do líder da APU-PDGB, o Parlamento responsabilizou o Presidente guineense, José Mário Vaz, pelo alegado plano e disse estar na posse de "sinais evidentes" que apontam para a execução da iniciativa.
O Parlamento da Guiné-Bissau tem estado bloqueado através de votos maioritários de elementos do PAIGC, partido vencedor das últimas eleições legislativas mas arredado de governação, em sinal de protesto daquela formação política em relação às decisões do chefe do Estado.

O facto tem impedido a que programas de três governos e propostas de Orçamento Geral do Estado não sejam aprovados desde 2015.
O PAIGC já anunciou a sua intenção de voltar a impedir o funcionamento do Parlamento para que o programa do Governo do primeiro-ministro Umaro Sissoco Embaló não seja aprovado.



domingo, 1 de janeiro de 2017

FAO em Portugal prioriza cooperação com países africanos

O novo representante da agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO) em Portugal acredita que a cooperação entre os países lusófonos é uma vantagem nas ações de combate à fome e de promoção da nutrição adequada.

Em entrevista à ONU News, de Lisboa, Francisco Sarmento afirmou que por compartilharem uma cultura comum, os integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) podem realizar projetos e intercâmbios de forma muito mais rápida. Sarmento é também o representante da FAO junto à CPLP, na capital portuguesa.

"Haverá, provavelmente, um número até superior de pessoas que estão afetadas pela obesidade ou pelas doenças metabólicas, que são doenças que acabam por ser crónicas, do que os subnutridos afetados pelo flagelo da fome.  Eu diria, numa estimativa, eventualmente grosseira, que provavelmente metade dos habitantes dos países da CPLP sofrem – direta ou indiretamente -, algum impacto relativamente à alimentação que fazem."

A CPLP e FAO firmaram uma estratégia de cooperação para zerar a fome nos países do bloco em 2012.  A iniciativa foi assinada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Para Francisco Sarmento, a proposta já está a render frutos.
"Nós temos um vasto património cultural comum que permite a construção de laços de confiança mais rapidamente do que se não o tivéssemos e permite também identificar um conjunto de prioridades comuns e de ações comuns em que países que estejam, eventualmente, em diferentes velocidades relativamente em relação à solução de alguns problemas possam compartilhar os seus conhecimentos com os demais. E isso eu penso que é uma vantagem muito grande da Cplp."

Na entrevista que concedeu à ONU News, o novo representante da FAO em Portugal alertou que o trabalho para combater a desnutrição tem que continuar. Segundo ele,  22 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar na CPLP.