Régio Conrado, mestrando em Ciências Políticas no Institut d'Études Politiques de Bordéus e um dos oradores do simpósio promovido pela Embaixada de Moçambique, admitiu ter "dúvidas" de que se tenha conseguido "romper com a estrutura" do Moçambique colonial.
O também assistente do departamento de Ciências Políticas e Administração Pública da Universidade Eduardo Mondlane lembrou que na era colonial "toda a extracção dos recursos naturais em Moçambique era virada para Portugal" e que "a economia política da produção se baseava na zona centro e norte" enquanto o sul era "uma economia de serviços". "O que mudámos?", questionou.
"Hoje, 40 anos após a independência, quem vive os benefícios da independência? Avançámos ao nível da saúde, educação, universidades, mas se a colonização portuguesa atribuía um conjunto de territórios por mais de 50 anos, no contexto pós-colonial, os camponeses correm o risco de terem terras expropriadas", declarou Régio Conrado, defendendo que "há que repensar o imaginário nacional" e pensar em uma forma de "fazer o moçambicano do interior do país sentir-se parte deste projecto".
Questionado pela agência Lusa sobre a tensão política entre a Renamo e a Frelimo, Régio Conrado admitiu que o líder da oposição Afonso Dhlakama e o Presidente moçambicano Filipe Niusy "estão decididos em ultrapassar os seus diferendos", mas considerou que "Moçambique deve pertencer a todas as populações de Moçambique", lembrando que "mais do que vontade política é preciso que os moçambicanos compreendam que são sujeitos da história" e que não devem deixar essa história "ser capturada por duas figuras que não são nem a história de Moçambique nem o Estado moçambicano".
Também o investigador Elísio Muendane disse à Lusa que hoje se vive "uma situação de governação de incertezas" face às ameaças da Renamo em forçar o projeto de autarquias provinciais, defendendo que a urgência é a "reconciliação nacional".
"Muito rapidamente os moçambicanos precisam de se unir para encontrar a reconciliação, mais do que a paz, porque é um dos vazios que nós tivemos com o processo geral de paz. Houve um processo de pacificação, houve uma democratização, mas nunca houve uma reconciliação entre os moçambicanos", explicou o mestrando no Institut d'Études Politiques de Bordéus.
Maria de Lurdes Mangueleze, doutoranda em Ciências Políticas no mesmo instituto, considerou, na sua intervenção, que "a descoberta de recursos naturais constitui uma lufada de ar fresco que vai reduzir a interferência externa" porque "eleva a capacidade de endividamento do Estado", mas alertou que "os benefícios [para a população] não são imediatos", o que cria uma "frustração relativa" que constitui "um desafio à unidade nacional e um terreno fértil para conflitos sociais".
A investigadora sublinhou, também, que "Moçambique é independente há apenas 40 anos, pouco para o país amadurecer as suas instituições".
O embaixador de Moçambique em França, Alexandre Zandamela, lembrou que a história dos 40 anos da independência de Moçambique "simboliza os feitos dos heróis de ontem e dos protagonistas de hoje" e prestou uma homenagem "aos heróis que tombaram pela pátria-mãe" através de um minuto de silêncio. No final do simpósio, anunciou que no dia 27 de junho, vai haver "um brinde" na residência oficial em comemoração da festa da independência de 25 de junho.
No início da tarde, os participantes realizam um passeio de barco no Rio Sena, durante o qual vão assistir a um concerto do músico moçambicano Arcénio de Almeida, à leitura de poemas dos escritores moçambicanos Mia Couto e José Craveirinha e a uma apresentação das obras da fotógrafa francesa Aurore Vinot e do pintor Malangatana.
Na sexta-feira, os moçambicanos também se juntaram no café cultural Lusopholie's, em Paris, onde assistiram ao filme "Enquanto o pé bater na rocha" do realizador português César Pedro e a um concerto de Cândido e Cecília, um duo franco-moçambicano.
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