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Joseph Pulitzer

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A. Cabral: "Resistência Económica" (III - IX)


RESISTÊNCIA ECONÓMICA - Amílcar Cabral 
 
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(III)

 
“ Na Guiné já conseguimos destruir muito. Ainda há dias, por exemplo, Rádio Bissau anunciou que chegou ao porto um barco grego que levou 3 mil toneladas de arroz. Vemos, portanto, nisso já um bocado de destruição do regime colonial , porque, como sabemos, a nossa gente era praticamente forçada a vender o arroz produzido pelo nosso povo à Ultramarina, para ser descascado e vendido à população. Mas os tugas, agora, têm que importar arroz. No ano passado importaram mais de dez mil toneladas de arroz só do Brasil, este ano já receberam três mil. E quem segue a estatística oficial vê que a exportação de mancarra baixou muito. Praticamente, da nossa terra, hoje, não há exportação. Os barcos vêm com material de guerra, ou com víveres para a tropa ou com mercadorias para as cidades, e regressam quase vazios. Regressam principalmente com sucatas de camiões e outros materiais que os nossos combatentes destroem.
 
Destruímos, portanto, em grande parte já, e temos que destruir tudo, completamente, o sistema económico colonial português na nossa terra. Para construirmos o quê ?
Desde já temos de começar a construir a nossa própria economia. E começamos desde há alguns anos para cá, porque lutar é muito bom, no plano político, no plano militar, mas um povo não pode lutar a sério se não tiver a barriga farta e boa saúde. Isso também é a forma de resistência. Para resistir de facto, sem comida, não é possível, sem saúde não é possível. Por isso mesmo, temos que desenvolver a nossa economia, ver a melhor maneira de fazer avançar a nossa economia, mesmo durante a luta, garantir o mínimo de condições para podermos garantir ao nosso povo meios de vida, meios de vida para os nossos combatentes e temos que fazer força mesmo, para melhorar pouco a pouco as condições do nosso povo, para ele sentir que vale de facto a pena sacrificar-se na luta para independência da nossa terra, debaixo da bandeira do nosso partido.
 
Na medida que o nosso Partido for capaz, em que nós, militantes, responsáveis, combatentes, dirigentes, formos capazes de melhorar pouco a pouco as condições de vida da nossa terra, mostrar claro que a miséria pode acabar, e sobretudo convencer cada um na sua consciência de que se hoje há miséria, amanhã a miséria vai acabar na nossa terra – e que isso depende do nosso próprio trabalho – estamos a avançar na nossa luta porque aquele que fia hoje, embora não tenha quase nada, que, se trabalhar bem, amanhã terá, esse já não é um miserável, é rico, porque o caminho está aberto. Temos que fazer isso no máximo, porque nós sabemos que cada homem que está na situação de miséria é uma presa fácil, é muito fácil ser apanhado pelo inimigo, contra o interesse do nosso povo. Basta lembrarmos, por exemplo, que se fizermos uma proporção entre o seguinte: que gente é que serve mais ao tuga na nossa terra ? Entre gente que tinha meios ou gente que não tinha meios, onde é que há mais servidores dos tugas ? Vemos que é entre aqueles que tinham menos meios que há mais servidores dos tugas. Em Bissau mesmo, vemos que é entre desempregados, vadios, etç., que os tugas recrutaram muitos dos seus agentes da PIDE-DGS.
 
Diante da nossa necessidade de resistência económica, temos que pôr claro uma pergunta: que é que o inimigo faz para destruir a nossa resistência económica ? O inimigo não está a lutar contra nós só com armas, também está a lutar economicamente contra nós. Por outro lado, nos locais onde ele ainda manda, está a fazer grande luta para o desenvolvimento económico, dizendo que a vida vai melhorar, dando emprego às pessoas para ver se a vida de facto melhora, procurando fazer bolanhas, arranjar mercadorias, etç. Por exemplo, toda a gente sabe, que em Cabo Verde, as mercadorias e coisas boas que lá chegam agora são mais do que nunca.
 
Isso é para evitar que continue aquela falta que costuma haver para alimentar revoltas. Mesmo na Guiné, hoje, várias coisas que os tugas nos compravam a nós, por exemplo arroz, compra agora por preços muito mais elevados. Isso para liquidar a nossa resistência económica. Faz propaganda que está a fazer grandes bolanhas na área de Tite, a ilha de Bissau está quase transformada em bolanhas, e está a ver a melhor maneira, portanto, de levantar economicamente o ambiente em que ainda manda, para garantir às pessoas que a vida está a melhorar e que não é preciso juntarem-se àqueles que estão a lutar.
Por outro lado, o tuga faz força para destruir completamente a economia que nos serve de base para a nossa luta.”
 
(continua)





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