O foto-jornalista Mário Cruz da agência Lusa, que hoje venceu o Prémio de Fotojornalismo Estação Imagem Viana do Castelo, acredita que o seu trabalho vai dar "visibilidade" à realidade das crianças escravizadas no Senegal e Guiné-Bissau.
"Tenho a certeza que esta distinção contribuirá para dar visibilidade a estas crianças que já há demasiado tempo são ignoradas, não só pela sociedade senegalesa mas por toda a comunidade internacional", afirmou o fotojornalista, de 28 anos.
Mário Cruz falava à Lusa no final da cerimónia de atribuição dos prémios da sétima edição do prémio que decorreu hoje no teatro municipal Sá de Miranda, em Viana do Castelo.
A reportagem intitulada "Talibés, escravos contemporâneos" retrata os "talibés", as crianças que são escravizadas e torturadas nas escolas islâmicas do Senegal e Guiné-Bissau e já foi premiado pelo World Press Photo.
A ideia de realizar o trabalho surgiu em 2009 quando estava na Guiné-Bissau a cobrir as eleições presidências.
Na altura, ouviu "histórias de crianças que estavam a desaparecer e a serem levadas para o Senegal para serem escravas". Investigou e, entre maio e junho de 2014, "tirou licença sem vencimento" para poder "documentar essa realidade".
Afirmou que "graças a esta, e a outras distinções o governo do senegalês já assumiu o compromisso de realizar uma campanha que vai percorrer o país todo para alertar para o que se está a passar".
Na categoria foto do ano, a novidade da sétima edição do Prémio Estação Imagem, o vencedor foi o galego Gabriel Tizón, com uma fotografia captada no campo de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia.
"Em termos pessoais este prémio é importante para me dar ânimo para continuar a trabalhar em tempos difíceis. Também é importante pelo tema, pelas pessoas que fotografei para que seja dada a conhecer a sua situação", sustentou à Lusa o fotógrafo galego.
Para o presidente do júri, Aidan Sullivan, vice-presidente da Getty Images e presidente do júri do World Press Photo 2012, as fotografias em concurso são "de grande qualidade e ao nível do melhor que se faz em todo o mundo.
"Sou júri em muitos prémios em todo o mundo e devo dizer que não sabia o que me esperava. Alguns trabalhos superaram, em muito, a minhas melhores expectativas. Foi muito difícil escolher", salientou.
João Silva, foto-jornalista do jornal New-York Times, que também integrou o júri, classificou como "super impressionante" o nível do foto-jornalismo português.
"É de nível internacional. Gostei muitos dos trabalhos e não foi fácil. Foi uma grande experiência", sustentou, destacando a importância do Prémio Estação Imagem Viana "para dar relevo ao foto-jornalismo, que se faz cada vez menos, por causa do problema económico que afecta a imprensa".
O diretor do Prémio, Luís Vasconcelos, destacou "a coincidência de alguns dos vencedores serem profissionais que recentemente foram despedidos e caíram nas malhas do desemprego, fruto do desinvestimento e consequente crise que afeta o panorama jornalístico".
Este ano o prémio Estação Imagem registou a participação de 200 foto-jornalistas, o que, segundo a organização, representa "a quase totalidade dos profissionais portugueses da área", e que apresentaram a concurso 336 reportagens e mais cerca de uma centena de candidaturas à bolsa e à foto do ano.
O prémio tem como parceiro principal a Câmara Municipal de Viana do Castelo.
O presidente José Maria Costa sublinhou a "elevada qualidade" dos trabalhos e dos temas abordados "muito actuais e que inquietam as consciências", e destacou a importância do foto-jornalismo.
"Infelizmente, hoje não se dá tanta atenção quanto se devia. A capacidade, a arte, a sensibilidade destes artistas que conseguem, numa imagem, exprimir, sentimentos, poesia, drama. Foi uma galeria de arte que hoje tivemos aqui ao vivo", disse.
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