Para a maior parte dos inquiridos, na actuação contra as mudanças do clima a responsabilização deve ser global, de políticos, da sociedade e de cada um dos cidadãos.
Portugal, Brasil, Moçambique e Cabo Verde fizeram parte dos 90 países abrangidos por uma consulta pública sobre energia e clima, realizada em junho, com 100 participantes em cada estado.
As opiniões recolhidas serão transmitidas aos responsáveis políticos que vão estar na conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas, marcada para Paris, a partir de 30 de novembro.
Aqueles países "demonstraram uma preocupação muito elevada com as alterações climáticas, com 80% muito preocupados, e Portugal com um enfase um pouco menor", seguindo uma tendência mundial, disse hoje à agência Lusa a investigadora Luísa Schmidt.
A preocupação com os impactos das alterações climáticas é mais acentuada em Cabo Verde (92% dos inquiridos), enquanto em Moçambique é de 83% e no Brasil 75%.
Em Portugal, são pouco mais de metade (57%) os cidadãos muito preocupados, mas 42% estão somente preocupados.
A socióloga do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, entidade responsável pelo trabalho em Portugal, analisou os dados obtidos e concluiu que "a ideia generalizada, embora menos em Moçambique, entre as pessoas é que as alterações climáticas são uma oportunidade de mudança para uma economia mais verde, com as energias limpas, com eficiência, com transportes públicos".
Moçambique considera com maior frequência que as alterações climáticas "podem ser uma ameaça e isto tem a ver com as cheias e eventos extremos que têm sido mais visíveis" neste país, acrescentou.
Para 87% dos brasileiros, as medidas para combater as alterações climáticas são uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida, mas entre os moçambicanos 37% dizem que representam uma ameaça.
Em Portugal, para 81% são uma oportunidade, percentagem que em Cabo Verde é de 72%.
Para Luísa Schmidt, "é interessante verificar que todos os cidadãos, seja de que país for, entre estes da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa] que entraram na consulta pública, consideram que deve haver uma responsabilização que é global, dos decisores políticos, da sociedade civil e dos cidadãos" nas questões do clima.
Brasil e Portugal a responsabilidade deve ser global para 71% e 72%, respetivamente, em Moçambique 68% e Cabo Verde 64%, enquanto a opinião mundial ronda os 70%.
A pressão externa tem um papel decisivo, referem os inquiridos. Para a investigadora, este dado indica que os cidadãos consideram importante "as Nações Unidas pressionarem os países para tomarem uma série de medidas através dos acordos que se conseguirem".
Luísa Schmidt apontou ainda o destaque dado à investigação e ao desenvolvimento tecnológico, como ferramentas importantes no combate às mudanças do clima, e à capacitação, transmitindo que "é preciso investir mais" na ciência e no conhecimento e na sua transmissão.
Para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, principais responsáveis pelas alterações climáticas, os cidadãos preferem os subsídios às fontes de energia de baixo carbono e o apoio ao desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono.
Há concordância entre os cidadãos destes países acerca dos instrumentos mais adequados para reduzir emissões, com 74% a 80% a defender a educação do público, enquanto a proteção das florestais tropicais apresenta 53% no Brasil, 50% em Cabo Verde, 54% em Moçambique e 33% em Portugal.
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