A chegada da temporada das chuvas em Timor-Leste deverá atrasar-se este ano, com o fenómeno El Niño a fazer prolongar o período de seca até abril, disse à Lusa o ministro da Agricultura e Pescas timorense.
Uma situação que terá impacto na segurança alimentar das populações, especialmente das zonas costeiras do norte do país, onde as chuvas ainda não começaram.
"Se atingirmos metade da chuva já é bom. Mas dificilmente vamos conseguir", disse à Lusa Estanislau da Silva.
"A nossa maior preocupação é que as chuvas chegam, as pessoas plantam mas depois as chuvas param. A produção vai ficar seriamente afectada", afirmou o ministro.
Uma situação que levou o Governo a preparar planos de contingência que passam pela compra e distribuição de sementes e alimentos e por apoio aos agricultores.
Os fenómenos El Niño são alterações de entre 12 e 18 meses na distribuição da temperatura da superfície da água do oceano Pacífico que têm efeitos na meteorologia da região.
Especialistas referem que o fenómeno deste ano - um dos três maiores já registados - começou em maio, com uma intensidade entre "moderada e forte", e deverá prolongar-se até ao início de 2016.
Em junho, a região central e leste do Pacífico registou anomalias de temperatura equivalentes a um El Niño forte e este mês as temperaturas na região central foram superiores às do grande evento de 1997-98.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial, este é um dos três maiores eventos do tipo jamais registado, a par dos de 1997-1998 e 1982-1983.
"Diria que as populações que vivem nas zonas costeiras, especialmente na costa norte, vão ser seriamente afectadas. No interior, por causa do clima de altitude, vão ser menos afectadas, apesar das chuvas serem menores", disse Estanislau da Silva.
A par disso, referiu ainda, a pouca chuva, o pó e a poluição acabam por afetar também os sectores da população com maiores problemas respiratórios.
O governante recordou que a par dos efeitos cíclicos do El Niño, já se começa a sentir também o impacto das alterações climáticas.
"O El Niño é um ciclo mas recentemente agravou-se mais pelas alterações climáticas que tornaram esse ciclo mais prolongado. Uma das mudanças para as quais as nossas populações não estão devidamente preparadas", disse.
Estanislau da Silva falava à agência Lusa à margem de um seminário em Díli com o tema "Desafios Globais, Respostas Regionais e Nacionais à Insegurança Alimentar e Nutricional", que coincide com a primeira reunião extraordinária do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do espaço lusófono (CONSAN-CPLP).
O objetivo da reunião, que se prolonga até 26 de novembro, é debater um plano de trabalho conjunto para a erradicação da fome e da desnutrição na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Um estudo divulgado este ano pelo Seeds of Life (SoL), um programa do Ministério de Agricultura e Pescas timorense, financiado com apoio australiano, conclui que o clima pode ter um impacto significativo na segurança alimentar em Timor-Leste.
O estudo indica que cerca de 9,2% das famílias timorenses mais vulneráveis, especialmente nas zonas rurais, são obrigadas a recorrer a comida silvestre depois de agosto quando, normalmente, terminam os 'stocks' de cultivo.
Esse consumo é ainda mais elevado em anos de défice agrícola, quando a alimentação selvagem ou silvestre começa a ser utilizada dois meses antes e por metade dos lares mais pobres.
"Num ano normal, o 'stock' alimentar termina em agosto e só 9,2% das famílias consumia comida silvestre. No entanto, em anos de défice alimentar com problemas de má nutrição, os 'stocks' de grão terminam normalmente dois meses antes do normal e metade das famílias já têm de recorrer a comida silvestre a partir de maio", revela o estudo.
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