Caros compatriotas,
Sei que as dificuldades de relacionamento institucional entre o
Primeiro-Ministro e o Presidente da República, já há muito são do
domínio público, e constituem sérios motivos de preocupação e
inquietação dos cidadãos, partidos políticos, deputados à Assembleia
Nacional Popular, bem como da comunidade internacional.
Na
qualidade de Primeiro-Ministro e Presidente do PAIGC, Partido que ganhou
as últimas eleições legislativas, considero legítimas essas
preocupações, na justa medida em que o cenário prevalecente pode
remeter, mais uma vez, a Guiné-Bissau para uma situação de instabilidade
governativa, o que representaria uma revolta e frustração absolutas
para todos quanto consideram a nova visão de governação a solução para a
paz, estabilidade e desenvolvimento da “nossa terra”.
Tentativas várias foram feitas, pelo PAIGC, por cidadãos e
personalidades guineenses, bem como pelos representantes e
personalidades da comunidade internacional, junto dos dois titulares dos
órgãos de soberania, Primeiro-Ministro e Sua Excelência o Senhor
Presidente da República, visando ultrapassar essas dificuldades.
Caros compatriotas,
Apesar da afirmação pública, perante os deputados, membros do Governo e
diplomatas e representantes do corpo diplomático, numa das sessões
solenes da Assembleia Nacional Popular, de que “nunca lhe passou pela
cabeça demitir o Governo” e a informação veiculada “não passava de um
mero boato”, Sua Excelência o Senhor Presidente da República manteve e
mantém o propósito de demitir o Governo.
Considerando que essa
ameaça permanente de demissão do Governo pelo Presidente da República
prejudica séria e profundamente o nosso País;
Considerando que ontem, o Gabinete de Sua Excelência o Senhor Presidente da República informou da decisão unilateral deste em cancelar, sem qualquer explicação, a reunião semanal de trabalho que mantém com o Primeiro-ministro e Chefe do Governo;
Considerando que ontem, o Gabinete de Sua Excelência o Senhor Presidente da República informou da decisão unilateral deste em cancelar, sem qualquer explicação, a reunião semanal de trabalho que mantém com o Primeiro-ministro e Chefe do Governo;
Tendo ainda em atenção que foi anunciado o início de consultas aos partidos políticos e se presume que visem a destituição do Governo;
Considerando finalmente que a Assembleia Nacional Popular denunciou a existência de um “Plano Estratégico” para o derrube do Governo e criação de um Governo de Unidade Nacional de base alargada.
Em nome e representação do
Governo a que tenho o privilégio e a responsabilidade de dirigir,
entendi como chegado o momento de levar ao conhecimento da opinião
Pública Nacional e dos Parceiros Internacionais de Cooperação, estes e
outros factos e a nossa leitura sobre as implicações da atual situação.
Primeiro, temos a informar que a proposta de remodelação governamental
está preparada há mais de um mês, tendo sido entregue ao Senhor
Presidente da República, há exactamente 16 dias.
Antes da
submissão dessa proposta de remodelação governamental (da competência e
responsabilidade do Chefe do Governo) ficaram acordadas as seguintes
disposições:
A. Que o PM deveria apresentar uma proposta para depois juntos analisarem os nomes e as opções aí inclusas;
B. Como não se chegou a realizar o debate de urgência pedido à ANP sobre a situação da justiça, que visava esclarecer o quadro de aplicação da lei 14/97 sobre os titulares de cargos políticos, foi recolhida informação sobre os processos judiciais em curso, o que permitiu a exclusão da lista proposta, dos passiveis de acusação;
C. O PM solicitou e recebeu a anuência do PR para incluir na sua proposta eventuais elementos tidos como próximos ou trabalhando no atual gabinete do PR. Nunca se tratou de ceder lugares para o preenchimento pelo próprio PR;
B. Como não se chegou a realizar o debate de urgência pedido à ANP sobre a situação da justiça, que visava esclarecer o quadro de aplicação da lei 14/97 sobre os titulares de cargos políticos, foi recolhida informação sobre os processos judiciais em curso, o que permitiu a exclusão da lista proposta, dos passiveis de acusação;
C. O PM solicitou e recebeu a anuência do PR para incluir na sua proposta eventuais elementos tidos como próximos ou trabalhando no atual gabinete do PR. Nunca se tratou de ceder lugares para o preenchimento pelo próprio PR;
Observados estes pressupostos, são tidos como pontos prevalecentes de discórdia entre o PR e o PM :
1. Mesa Redonda. O PR diz continuar a não conhecer os resultados reais
da MR e não aceita a explicação do governo em como os únicos documentos
são o comunicado final da Conferência e a lista dos “Pledges”, já há
muito e por várias vezes transmitidos. O PR assume a existência de um
fundo que o Governo não quer divulgar e que pretende gerir à margem do
seu conhecimento e fiscalização;
2. Mesa Redonda. O Senhor PR
quer participar ativamente na gestão dos recursos angariados. Para esse
feito, exige a nomeação de um membro do governo (da sua confiança)
funcionando sob a direta dependência do PM (e não do Ministro da
Economia e Finanças) que se ocuparia da gestão desses recursos
financeiros;
3. O PR entende que ainda estão no governo elementos
que não colhem a sua aprovação, por penderem suspeitas de crime ou por
outras situações. Contudo, nunca indicou de quem se tratavam e nunca se
disponibilizou a receber quaisquer explicações;
4. Finalmente a
inclusão no governo de elementos próximos ao PR. Essa proposta mereceu
uma reação negativa e forte do Senhor PR indicando ao PM que nunca havia
falado com ninguém sobre isso. Contudo agora se queixa de não ter sido
“nem tido nem achado”;
5. Mais recentemente foi incluído mais um
ponto de discórdia: o regresso ao país do Contra-almirante José Zamora
Induta, que o PR ser da responsabilidade do governo e tendo como
propósito desestabilizar o país e o seu mandato. Dados objectivos agora
na posse do governo indicam que o Senhor Presidente da república e o
Senhor Chefe de Estado-maior general, foram as duas entidades
contactadas e portanto com conhecimento da chegada do Contra-almirante,
sendo da sua exclusiva responsabilidade o seu acolhimento. Já estando no
país, o governo limitou-se a garantir a sua segurança preservação da
integridade física.
Com base em todos estes elementos factuais e objectivamente demonstráveis, o governo conclui da existência de:
• Uma intenção deliberada e evidente de provocar uma crise para justificar a decisão de destituição do governo resultante das últimas eleições legislativas;
• Uma falta grosseira de ponderação sobre as implicações e o alcance de tal medida, para a ordem interna e a estabilidade que estamos conquistando, no país e no mundo, para além de um rude e traiçoeiro golpe á esperança que a todos tem animado;
• A determinação do PAIGC e dos partidos e organizações políticas e sociais que o apoiam em defender e assegurar as suas conquistas eleitorais;
• A responsabilização política e judicial do autor de atos que ponham em causa a ordem interna e a estabilidade do país;
Nesta conformidade,
Quero através desta comunicação, exortar aos partidos políticos que
apoiam a atual governação, à sociedade civil e a toda a população
guineense a se manter calma e tranquila, mas atenta ao evoluir da
situação;
Assegurar que todos os mecanismos e dispositivos legais
e democráticos serão mobilizados para preservar a ordem e evitar a
interrupção desta caminhada do país rumo à paz e ao desenvolvimento;
Agradecer a confiança de todas e de todos e renovar a minha
determinação mobilizar toda a minha energia e competência e trabalhar a
favor do meu país e do meu povo.
Viva a Guiné-Bissau
Viva a Unidade Nacional
Viva a Democracia
Viva o Desenvolvimento
Bissau, 6 de Agosto de 2015
Domingos Simões Pereira / Primeiro-ministro
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