A Língua Portuguesa recupera pouco a pouco a força no Timor-Leste devido, principalmente, a um plano de implementação na educação primária e no ensino médio.
Mari Alkatiri, que foi o primeiro líder do Executivo da recente história do Timor-Leste, entre 2002 e 2006, declarou à Agência EFE que a implementação do português na educação se deve ao fato de o tétum – a outra língua oficial do país – ainda não estar suficientemente desenvolvido de um ponto de vista académico e científico.
Alkatiri explica que outra razão pela qual o Governo decidiu que o idioma veicular da educação seja a Língua Portuguesa é que apresenta “uma identidade que diferencia o Timor-Leste dentro da região Ásia-Pacífico”.
Timor-Leste, o país asiático mais jovem e que conta com pouco mais de um milhão de habitantes, escreveu em sua Constituição, aprovada em 2002, que tanto o português como o tétum são línguas oficiais, relegando o indonésio a idioma de trabalho.
Após mais de quatro séculos de colonização portuguesa, o Exército indonésio aproveitou a proclamação da independência do Timor-Leste de Portugal, em 1975, e ocupou a pequena nação durante os 24 anos seguintes. Nesse período, o português foi proibido e perseguido ao constituir-se como a Língua da resistência timorense, confinada nas montanhas da ilha. Uma vez recuperada a soberania, em maio de 2002, o português voltou às ruas e às instituições políticas, como o Parlamento Nacional e as cortes de Justiça, enquanto ainda se consolida no sistema educacional.
Nas ruas do Timor, as saudações e os agradecimentos em português são parte da vida quotidiana, mas são o indonésio e o tétum que predominam nos ambientes de trabalho e são mais frequentes nos principais meios de comunicação. Alkatiri reivindica a necessidade de insistir na Língua Portuguesa, e não no indonésio ou no inglês, para evitar que o Timor se transforme em um país “satélite” da Indonésia ou da Austrália, as duas potências mais próximas geograficamente.
Longe desse sentimento de identidade, Luís Nivio, um professor timorense de 26 anos, reconheceu à EFE que a aplicação da nova Língua é mais difícil na prática: as crianças, quando chegam à escola, frequentemente não entendem português e, portanto, aprender algumas disciplinas lhes parece mais complicado. “O pior é que muitos professores também não falam português, ou quase não o conhecem, e por isso optam por ensinar em tétum ou misturar os dois idiomas durante as aulas”, confessou.
Nivio, que aprendeu português em Aveiro graças a um acordo em matéria de educação com o Governo de Portugal, admite que a falta de desenvolvimento gramatical do tétum complica muito a formação académica nesta língua.
Brasil e Portugal fecharam um acordo com o Timor-Leste para a expansão do português no país asiático mediante a colaboração de universidades para formar professores e criar material escolar. Segundo os dados do Governo do Timor-Leste, em 2010, cerca de 90% dos cidadãos do país utilizavam o tétum diariamente, 35% dominavam o indonésio e 23% falavam, liam e escreviam em português. No entanto, este último é o idioma que regista maior crescimento nos últimos anos.
O futuro d’”a Língua de Camões” no Timor-Leste parece promissor. José Ramos-Horta, ex-presidente do país, de maio de 2007 a maio de 2012, e Prémio Nobel da Paz de 1996 (ao lado do bispo de Díli, D. Carlos Filipe Ximenes Belo), deixou isso claro em um recente artigo no jornal indonésio The Jakarta Post. “Em 10 anos, pelo menos metade dos timorenses falarão português – nossa própria versão, tão viva e musical como a do Rio [de Janeiro] ou de Luanda”, previu o político.
(in: Observatório da Língua Portuguesa)
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