As sentenças aplicadas aos activistas angolanos geraram uma onda de contestação, tanto em Angola como internacionalmente. Os 17 activistas foram condenados a penas entre dois anos e três meses e oito anos e seis meses de prisão efectiva.
“Condenação ridícula”
A organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) qualificou a condenação como “extremamente ridícula”. Em declarações à Agência Lusa, Zenaida Machado, investigadora da HRW para Angola e Moçambique, afirmou que a organização vai “continuar a colocar pressão” sobre o regime de Luanda.
– É uma sentença extremamente ridícula e não sei baseada em quê, porque, durante estes meses a que estivemos a assistir ao julgamento, não foram apresentadas em tribunal nenhumas provas que justificassem penas tão pesadas contra estes 17 activistas – declarou Zenaida Machado.
“O presidente domina o judiciário”
O analista Rui Verde disse, em entrevista à Deutsche Welle, que a sentença mostra que o presidente angolano domina o poder judiciário. E isso “não é democracia, é ditadura”.
Verde alerta ainda que a condenação deve surtir o efeito contrário ao proposto: em vez de calar as manifestações, servirá de combustível à contestação, que deve aumentar no país:
– Já há uma imensa contestação nas redes sociais, que ainda não se traduziu na rua. Neste momento, falta apenas um rastilho qualquer para o povo se manifestar – pode ser esta condenação ou outra coisa. Mas a ligação que José Eduardo dos Santos tinha com o povo angolano, que o via como um certo obreiro da paz, terminou. A partir do momento em que manda prender 17 jovens, e vê-se claramente que é ele que manda prender, termina a ligação dele com o povo. Neste momento, [o Presidente] é um prisioneiro no seu próprio país – declarou.
“A condenação coloca a justiça numa situação difícil”
O ex-primeiro-ministro angolano Marcolino Moco considerou que a condenação “coloca a justiça angolana numa situação de indignidade difícil de explicar”, referindo que as penas em causa são “mais gravosas do que as dos crimes por que [os arguidos] sucessivamente foram sendo apontados”.
– Estão-se a expor a uma situação de serem referidos como ignorantes, que não percebem nada de direito e da sua aplicação, ou então que estão a ser pressionados pelo poder executivo – acrescentou o primeiro secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
“Erro estratégico”
Já para o escritor José Eduardo Agualusa, esta é uma decisão política e classificou como um erro estratégico avançar com condenações “tão pesadas”.
– No imediato, o que vai acontecer é a reactivação de todo o movimento de solidariedade para com estes jovens e a reactivação da contestação interna, além de um desgaste maior a nível internacional da imagem do próprio Presidente e do regime angolano – declarou.
Ataque a páginas do governo
Cerca de duas dezenas de páginas de internet do governo central, ministérios, governos provinciais e entidades públicas de Angola ficaram inacessíveis esta terça-feira, tendo o grupo auto-denominado Anonymous Portugal reivindicado tratar-se de um ataque.
“Os verdadeiros criminosos estão cá fora, defendidos por um sistema capitalista que cada vez mais se propaga na mente das pessoas fracas e carentes de independência intelectual, não te deixes levar“, afirma a mensagem.
Reprodução Facebook Anonymous PT |
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