Faz todo o sentido que Portugal não tenha a tentação de “portugalizar” a CPLP. A CPLP pode e deve ser um instrumento importante para Portugal e para os portugueses.
Portugal, no seio da CPLP e no quadro jurídico e político desta
organização e do seu relacionamento interno e externo, deve colocar como
uma das suas prioridades a aprovação do estatuto jurídico do cidadão
lusófono. Que, a ser consensualizado e aprovado e a entrar em vigor,
deve assumir-se como um instrumento estruturante para a criação, no
espaço da CPLP e da lusofonia, de uma melhor mobilidade e circulação de
pessoas (e, consequentemente, de empresas) nos territórios dos países
integrantes desta organização internacional.
O estatuto jurídico do cidadão lusófono é um projecto que tem vindo a
ser adiado na última década, sobretudo por não conseguir o consenso
junto de alguns dos governos de alguns dos países da CPLP. Sobretudo
desde o Fórum Parlamentar da CPLP realizado em Luanda, que a par da
aprovação formal da constituição da Assembleia Parlamentar da CPLP,
decidiu a aprovação do estatuto jurídico do cidadão lusófono,
definindo-o como prioritário para os povos e países falantes da língua
portuguesa, já que através da sua aprovação os impactos positivos, do
ponto de vista económico, social, jurídico, cultural e político, seriam
(serão) muito significativos.
Até no domínio do reforço da consciência e
identidade da CPLP, com a criação de melhores condições para o reforço
dos sentimentos de identidade e de pertença ao projecto subjacente à sua
criação e, por conseguinte, da sua mais recente adaptação a uma nova
realidade internacional. Esta organização internacional tem de
assumir-se cada vez mais como uma organização de cariz também económico e
com capacidade para ser mais atractiva, não só linguisticamente mas
também a outros níveis.
E neste particular faz todo o sentido que Portugal não tenha a
tentação de “portugalizar” a CPLP, sendo necessário que não se dêem
ouvidos a alguns “velhos e velhas do Restelo”, que pouco ou nada se
preocupam com a CPLP e que pouco por ela fizeram nos seus quase 20 anos
de vida. E que, quando a ela se referem, quase sempre é com
paternalismos dispensáveis. A CPLP pode e deve ser um instrumento
importante para Portugal e para os portugueses. Mas não pode ser vista
por nós como uma organização internacional apenas e só da cultura e da
língua portuguesa. Tem de ser isso (que foi o que na prática esteve na
sua origem), mas tem de ir mais longe.
Tem de ser uma organização com legitimidade e voz forte para falar em
nome dos seus países integrantes, à escala mundial, em outras áreas
como são sobretudo a económica e social. A nossa língua comum, o
português, é e tem de ser também uma língua de negócios. Daí que
precisemos de uma cooperação supra-estadual, no domínio técnico-jurídico
e também diplomático, muito mais forte. A aprovação do estatuto
jurídico do cidadão lusófono é um entre outros exemplos do que deve ser
feito a esse nível. Mas existem mais. Por exemplo, a harmonização
jurídico legislativa, ao nível das leis da nacionalidade, das leis da
imigração, entre vários outros instrumentos de forte impacto na vida das
pessoas e das empresas dos países lusófonos. Tudo tendo em vista a
criação de melhores condições para promover o desenvolvimento económico,
social e cultural dos vários milhões de pessoas que, dentro e fora dos
seus países, vivem e procuram a melhor satisfação das suas necessidades
colectivas ao nível económico, social e cultural. Quanto maior
mobilidade, mais e melhor integração e desenvolvimento serão alcançados.
E consequentemente serão reforçados os direitos, liberdades e
garantias. Os Estados de direito democráticos não percebem que não o
concretizarem é negarem a realidade. Quem quiser uma CPLP virada sobre
si mesma e sem uma agenda que priorize a criação de mais e melhor
desenvolvimento económico e social está de costas voltadas para o
futuro. E o seu futuro depende de se abrirem e actualizarem os seus
desígnios e objectivos estratégicos. Num mundo cada vez mais complexo e
concorrencial. E onde as organizações internacionais têm um cunho cada
vez mais económico.
(in: jornal I)
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