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Joseph Pulitzer

terça-feira, 5 de abril de 2016

Seremos capazes ?

A crise global, desencadeada no sistema bancário nos EUA, em 2008, teve, como é sabido, repercussões graves em todos os azimutes. À imediata intervenção dos Estados para minorarem os impactos, sobretudo no desemprego, causando a subida dos défices, assistimos à generalização das políticas que passaram a sustentar que a menos Estado corresponde melhor Estado, com os resultados conhecidos.


Hoje são por demais evidentes os efeitos nefastos desta política que, em geral, deixou os cidadãos à mercê do agravamento da incerteza no futuro, desprotegidos pelas instituições públicas e, em muitos casos, entregues à sua própria sorte. Os conflitos generalizados em muitos países que, pelo Mediterrâneo fazem fronteira com a Europa, originaram uma onda de milhões de refugiados só com paralelo na 2ª Guerra Mundial, pressionando a própria UE, sem estratégia consequente para enfrentar essa pressão.

As recentes eleições na República Federal da Alemanha reflectem o estado de coisas a que se chegou, com a extrema-direita a crescer significativamente. No que respeita aos países de expressão oficial portuguesa, a queda do preço do petróleo conduziu em Angola a um sério agravamento dos preços, à grave diminuição das divisas e, por consequência, à afectação das relações comerciais com o exterior, à desvalorização da moeda nacional e a um impacto muito negativo na economia.

A situação é complexa, tal como é complexa a situação de Moçambique, prejudicada também pela baixa do preço do petróleo que se repercute na afectação dos investimentos previstos para a exploração do gás e do carvão. Melhor sorte não tem São Tomé e Príncipe ao ter de protelar o início da exploração dos blocos concessionados para extracção do petróleo. Isto para não falar na Guiné-Bissau, a braços com a persistência de uma incompreensível crise política. De alguma maneira Timor escapa a este quadro, mercê da disponibilização parcial de meios financeiros do Fundo criado pelas receitas das concessões, e Cabo Verde, país que fez sempre das fraquezas força assumindo uma boa governação.

As eleições que ocorreram no dia 20, para a Assembleia Legislativa em Cabo Verde e cuja campanha decorreu com invulgar elevação cívica, são um exemplo que não pode deixar de ser enaltecido. O facto do MdP, dirigido por Ulisses Correia da Silva, próximo Primeiro-ministro, ter sido eleito por maioria absoluta fazendo cessar a hegemonia do PAICV, que governou durante os últimos dezasseis anos, dá bem conta do funcionamento da democracia.

Quanto ao Brasil, infelizmente está com um
a situação económica desfavorável e uma crise política das mais sérias que o país até hoje enfrentou, sem se descortinar qual será a saída. Neste caso é a própria democracia que, infelizmente, começa a ser questionada.

Estas considerações sobre os países e povos de língua oficial portuguesa justificam-se, tanto mais quanto é certo falar-se nelas, uma das línguas mais divulgadas do mundo, singularmente a primeira do Atlântico Sul.

É, pois, a altura apropriada para, através da entreajuda entre todos os povos e países, sabermos mobilizar forças para respondermos ao futuro num mundo crescentemente global.

Só a consciência da união desta vasta comunidade de países pode reforçar o peso de cada um deles. Não faz sentido invocarmos piedosas intenções e caminharmos, de facto, de costas voltadas, procurando fazer valer interesses próprios e não cuidando dos que a todos nos devem unir. A entreajuda é, para este vasto espaço de cidadãos do mundo, o conceito que nos deve mobilizar.

A CPLP é por natureza o instrumento adequado para dar resposta a todos estes desafios, desde que haja ousadia para a conduzir a novas opções que conjuguem a economia com a cultura, numa visão mais abrangente do que a que tem existido. Seremos capazes?
 
 
Vítor Ramalho é secretário-geral da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa e assina quinzenalmente no Portugal Digital e no África 21 Digital a coluna "Observador Lusófono".
 
 
 

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