A "Afectos com Letras", organização não-governamental portuguesa, tem
em marcha um plano para comercializar arroz biológico na Guiné-Bissau e
aumentar o rendimento local, disse à agência Lusa a presidente, Joana
Benzinho.
“O objetivo é criar uma cooperativa” na região de Cacheu, para
onde a ONG já doou três descascadoras de arroz que estão ao serviço em
diferentes aldeias e assim criar uma fonte de receita acrescida para a
população local.
O arroz está na base da alimentação guineense, de
manhã à noite, das crianças aos mais velhos. No entanto, o ciclo de
produção (da sementeira ao descasque) funciona de forma artesanal em
todo o país, ocupando grande parte do tempo das mulheres. A oferta de
descascadoras “tem tido impacto”, relatou Joana Benzinho.
“Há mudanças positivas: as meninas já frequentam as escolas, as
mães dedicam-se a outro tipo de horticultura que permite aumentar o
rendimento do agregado familiar e os vizinhos tentam também ter tempo
para usar a máquina”, descreveu.
A presidente da Afectos com
Letras quer que este seja o primeiro passo de um plano maior para
valorizar um produto alimentar guineense cujo potencial, baseado nas
propriedades de origem biológica, o país desconhece. “Neste momento não
há excedentes, a população consome tudo o que produz. Mas o objetivo é
criar uma cooperativa entre as três tabancas (aldeias) abrangidas:
Bamarmbe, Blequisse e Jeta” que possa promover o produto mal haja
quantidade.
Será criado um ponto de recolha geograficamente
equidistante das três descascadoras e para tratamento final do arroz, de
maneira a ser “ensacado e rotulado como arroz da terra, totalmente
biológico”, referiu. O “selo” biológico dos produtos locais pode ser o
contraponto de um setor onde a mecanização e o uso de adubos é quase
inexistente.
Um estudo encomendado pela União Europeia sobre o
potencial da Guiné-Bissau para produzir arroz e apresentado em 2015
concluiu que o país pode ser auto-suficiente e até exportar se apostar
na formação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico. No entanto, a
instabilidade política crónica tem feito com que as políticas públicas
não avancem e o território não supera a habitual produção anual a rondar
as 200 mil toneladas, às quais é preciso juntar outras 90 mil toneladas
de importação para satisfazer o mercado interno.
Na região de
Cacheu, a Afectos com Letras acompanha o trabalho feito pela população
com as descascadoras para avaliar o momento em que poderá ser dado o
passo para comercializar o arroz biológico. A produção pode dar o
exemplo de uma iniciativa que avança pela mão dos residentes,
independentemente da instabilidade política.
Uma das premissas
base, que as descascadoras funcionem, tem sido conseguida graças à
constituição de grupos locais que tratam da sua gestão e manutenção —
incluindo mudanças de filtros e óleos do motor da máquina. Tudo é
tratado “por três pessoas responsabilizadas pela gestão e manutenção” de
cada máquina.
Ter mulheres “sempre no comité de utilização é
importante porque como são elas as principais utilizadoras”, logo “a
tendência para tratar bem a máquina é maior”.
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