A Cinemateca Portuguesa quer aprofundar a colaboração com académicos para aprofundar o estudo do acervo cinematográfico da instituição, nomeadamente do período colonial, afirmou hoje em Londres o presidente, José Manuel Costa.
"A ponte entre o arquivo e a academia é decisiva para nós", afirmou à agência Lusa, à margem da conferência internacional "Lutas de libertação, a Queda do Império' e o nascimento [em imagens] das Nações Africanas", organizada pelas universidades de Reading e King's College London (KCL).
Um dos objectivos é facilitar uma "nova abordagem à história do cinema pelos novos académicos", que, ao contrário de muitos dos autores de estudos anteriores, não era investigadores profissionais nem usavam ferramentas de investigação científica.
"Muita da história do cinema [português] foi feita por gloriosos amadores", vincou José Manuel Costa.
Outro propósito, acrescentou, é, na sequência deste trabalho da academia sobre o acervo da Cinemateca Portuguesa, "criar bases para mostrar os arquivos em eventos que incluam não só a projeção de filmes mas também discussões científicas".
Desde o fim dos anos 1990 que o arquivo da Cinemateca Portuguesa está mais acessível a investigadores académicos, adiantou o presidente da instituição.
Um grupo que tem beneficiado deste acesso são alguns investigadores que fazem parte da Aleph - Plataforma de acção e investigação sobre imagens (anti-)coloniais.
"São cerca de 40-50 pessoas que têm uma ética comum, não de apropriação, mas de partilha e acesso livre, que pretende potenciar o arquivo e aumentar o conhecimento público", revelou uma das promotoras do Aleph, Maria do Carmo Piçarra.
Algumas desses investigadores, que incluem não só portugueses mas brasileiros ou britânicos, participaram como oradores na Conferência de dois dias, que começou na quarta-feira em Reading e terminou hoje no KCL em Londres, onde funciona um Centro Camões para a Língua e Cultura Portuguesa.
Ao todo, declarou o presidente, a Cinemateca Portuguesa terá uma colecção que ronda os 40 mil títulos, dos quais 10 a 13 mil são curtas-metragens factuais [não-ficção] de propaganda, muitas das quais sobre as colónias.
Além de material de propaganda do regime, inclui colecções de instituições do período do Estado Novo, como a Agência Geral Ultramarina, a Junta de Investigação Científica, de missões antropológicas como as lideradas por Jorge Dias a Moçambique ou Ruy Cinatti a Timor-Leste ou doações de privados.
No futuro, segundo Maria do Carmo Piçarra, a Aleph pretende "evoluir para um projeto mais formal e criar uma plataforma que não seja só uma base de dados, mas uma base de conhecimento".
A investigadora quer criar um portal na Internet onde os filmes, entretanto digitalizados, estejam disponíveis com acesso livre, juntamente com fotografias e textos, à semelhança do projecto Colonial Film [http://www.colonialfilm.org.uk/] do British Film Institut, a cinemateca britânica.
O plano prevê a cooperação de académicos e instituições como a Cinemateca Nacional de Angola e o Instituto Nacional de Audiovisual e Cinema de Moçambique, as quais possuem os seus próprios arquivos.
A ambição, confiou, é "criar um Atlas da Imagem Colonial".
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