Natália Rocha, diretora da "Viver 100 Fronteiras", ONG que já enviou 44 contentores de ajuda humanitária para a Guiné-Bissau, num valor estimado em 52 milhões de euros, indicou serem agora necessárias pelo menos sete autorizações para retirar a carga da alfândega.
Uma organização não-governamental portuguesa que opera desde 2009 na
Guiné-Bissau está a ponderar abandonar as operações nesse país devido à
"cada vez maior burocracia" para desalfandegar a ajuda humanitária,
disse este domingo à agência Lusa a responsável da ONG.
Com um
contentor "preso" há três meses com vários produtos perecíveis - queimou
uma tonelada de medicamentos que entretanto ficaram fora de prazo após
demasiado tempo na alfândega - Natália Rocha explicou serem necessárias
autorizações dos ministérios do Plano, Economia e Finanças, Saúde,
Educação e Solidariedade Social, da Secretaria de Estado dos Transportes
e Comunicações e da Alfândega.
"Há outras ONG que retiram a carga
dos contentores com rapidez. Há aqui filhos e enteados. Recuso-me a dar
dinheiro para desbloquear os sucessivos impedimentos. É ajuda
humanitária a um país e parece que não a querem receber", explicou,
indignada.
Por outro lado, os pedidos de autorização nos diversos
departamentos governamentais estão sucessivamente a "desaparecer
misteriosamente", pelo que a missão médica realizada em fevereiro, com a
deslocação de pessoal médico e paramédico a Bissau para montar o
"contentor-hospital", acabou sem efeitos práticos por a carga, na
Alfândega desde dezembro, não ter sido desbloqueada.
O mesmo se passa com o "contentor-escola", que se encontra nas mesmas
circunstâncias, inviabilizando a missão prevista para abril.
"Não se pode trabalhar assim. Não se consegue planear nada", acrescentou.
Natália
Rocha sublinhou que estes dois projetos deverão ser "desviados" para
Dacar, no vizinho Senegal, onde os contactos nesse sentido estão já bem
avançados.
Paralelamente, a Viver 100 Fronteiras está também já a
"desviar" projetos para São Tomé e Príncipe e para Cabo Verde, onde a
ajuda humanitária "é bem tratada e bem recebida".
Criada em 2009, a
Viver 100 Fronteiras tem sede em Fiães, no concelho de Santa Maria da
Feira (norte de Portugal), desenvolve desde então operações de cariz
humanitário com vários hospitais e escolas guineenses.
A
organização não-governamental portuguesa tem trabalhado com os hospitais
e centros de saúde de Bor, Comura, Simão Mendes (os três em Bissau),
Mansoa (centro), Bafatá, Geba e Gabu (leste) e Catió (sul), bem como com
orfanatos e associações de deficientes e de cegos e ainda com
instituições muçulmanas.
Sem comentários:
Enviar um comentário