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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

As comunidades da Guiné-Bissau "ainda não reconhecem que a educação é fundamental para elas"

"Uma criança quando nasce em Portugal ou na Europa não estranha sequer por que é que vai para a escola, é inerente à sua vida. Na Guiné-Bissau é o inverso, ir à escola é uma coisa que não é inerente", distingue Catarina Lopes, técnica dos projectos de cooperação para o desenvolvimento da FEC, organismo da Igreja Católica.

 


 À medida que se vai envolvendo as comunidades no processo educativo, vai desaparecendo o "medo" da "escola do branco", assinala a técnica, comparando: "Antes tinha que ir às aldeias para falar da importância de ter um jardim-de-infância, hoje as crianças em Bissau são tantas que não há jardins suficientes para dar resposta, isto já é um primeiro indicador."
Indicadores como este mostram que, "no meio de tanta dificuldade, com tanto buraco, na estrada e fora dela, na sociedade também", as coisas vão mudando, porque as pessoas "acreditam convictamente que é possível mudar", observa, considerando que a Guiné "é um estímulo" para Portugal.
Quando a FEC iniciou os projetos de cooperação com a Guiné-Bissau, há mais de uma década, a educação era, quer no acesso, quer na qualidade do sistema, "uma fragilidade estrutural", recorda Susana Refega, directora executiva da FEC.
"A Guiné e os guineenses habituaram-se a viver sem um Estado e isso é bom e é mau", assinala, questionando "até que ponto" a presença de "uma data de organizações" no país lusófono "não tem também um efeito perverso", porque se vai "dando resposta".
Hoje, a Guiné continua "um Estado frágil", mas os projectos têm tido "alguns resultados". Os técnicos da FEC começaram por dar aulas, depois formaram professores e hoje já há formadores guineenses a formar professores guineenses, explica, sublinhando que as mudanças que envolvem pessoas "levam tempo".
Depois de trabalhar no ensino básico, a FEC começou a intervir noutros níveis de ensino, nomeadamente no pré-escolar, intervenção documentada no filme "Bambaram di Mindjer", que hoje será apresentado em Lisboa.
O documentário -- que teve estreia durante a entrega de diplomas aos professores, em Bafatá e Cachungo -- pretende dar "uma contra imagem" da Guiné-Bissau, mostrando "um pais bonito, a funcionar, com gente digna". Será exibido no Chapitô, às 20:00, e precedido de um debate sobre educação.
O foco da FEC no ensino pré-escolar decorreu da constatação de que "as crianças, quando entravam para o ensino básico, não estavam habituadas a estar em sala", porque, até ali, ficavam em casa ou em estruturas informais, e revelavam "muitas lacunas na questão da língua", justifica Susana Refega.
Apoiando a diocese de Bissau, a FEC ajudou a estruturar um curso, pois "não havia qualquer formação na Guiné-Bissau disponível para educadores de infância" e, neste momento, "já estão a sair os primeiros formandos", refere.
O objetivo mais lato da FEC -- que trabalha sobretudo em zonas rurais na Guiné -- é traçar "o diagnóstico da educação de infância a nível nacional", para "fazer uma radiografia" e saber onde estão as crianças antes do primeiro ciclo, resume Catarina Lopes, adiantando que os primeiros resultados devem começar a ser conhecidos no final do ano.


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