Escritores, especialistas e investigadores reuniram-se durante três dias num congresso internacional no Convento de São Francisco, em Coimbra, para debater a língua portuguesa como um idioma de futuro.
Com oradores vindos do Brasil, de Angola, de Moçambique, de Timor ou de Cabo Verde, o Congresso Internacional “Língua Portuguesa: uma Língua de Futuro” abordou a língua de diversas perspectivas: do ensino à literatura, e do português como língua de conhecimento, designadamente científico, ao futuro do idioma na era digital.
A sessão de abertura (no dia 2) contou com uma intervenção de Vítor Aguiar e Silva, um dos fundadores do Instituto Camões e coordenador da Comissão Nacional de Língua Portuguesa, que propôs um cânone literário a ser partilhado pelos sistemas de ensino dos vários países de língua portuguesa que “possa contribuir poderosamente para que a língua, nesta sua dimensão transnacional e transcultural, tenha alguma estabilidade”.
“A minha proposta é que seja cada país que tem como língua oficial o português a propor os autores e obras que integrarão esse cânone literário escolar”, disse o investigador, sugerindo que esses autores “devem ser sobretudo dos séculos XX e XXI” e as obras devem privilegiar “textos de natureza narrativa e descritiva, de mais fácil compreensão por parte dos destinatários ideais, que são os alunos dos vários graus de ensino”.
Hoje, na sessão de encerramento, os escritores Germano Almeida, de Cabo Verde, Luís Cardoso, de Timor-Leste, João Melo, de Angola, e Lídia Jorge, de Portugal, debateram o português “como língua literária”.
“O português como língua do futuro passará pela Diáspora portuguesa”, realçou Lídia Jorge no seu discurso, onde abordou os vários tipos de literatura existentes em Portugal, garantindo que “hoje não podemos pensar apenas no espaço português, a língua portuguesa vem de todos os lados e têm um potencial extraordinário”.
A escritora citou um poema de Boss AC intitulado “O portuga”, para dar o exemplo do “português criativo em busca de uma nova pureza”.
“Não podemos prever o que vai acontecer, mas sabemos que a vivacidade das nossas literaturas depende das nossas culturas”, concluiu.
Germano de Almeida, o jurista cabo-verdiano que também é escritor, fez questão de realçar que existe uma “ostensiva distância da língua portuguesa, sobretudo por parte da geração pós-independentista cabo-verdiana”.
“O dia a dia da vida em Cabo Verde decorre em crioulo ao contrário do que as pessoas dizem, Cabo Verde não é um país bilingue”. No entanto, refere, “a literatura cabo-verdiana é feita, exclusivamente, em língua portuguesa”.
O escritor realçou ainda que “Cabo Verde precisa do português para entrar na rota do desenvolvimento. E ter duas línguas oficiais – português e crioulo – será um ganho para Cabo Verde”.
Por sua vez, Luís Cardoso, escritor timorense, contou como “trocou” uma redação em língua portuguesa pelo primeiro pão que comeu na sua vida, na escola primária, e falou sobre o seu novo livro dedicado ao amigo Zeca Afonso.
De Angola chegou João Melo, que fez questão de realçar que “mais do que uma língua oficial em Angola, o português é uma das línguas do país”, destacando ainda que o português em angola tem a influência das várias línguas que lá se falam e, por isso, “podemos falar de um português angolano”.
No final, João Gabriel, reitor da Universidade de Coimbra, falou sobre um futuro plurilíngue. “A Universidade de Coimbra vai seguir com a internacionalização do português, assumindo em pleno que a língua portuguesa é de todos os que a usam”. E concluiu afirmando que “não há melhor encontro do que a língua que nos une”.
O Congresso Internacional “Língua Portuguesa: uma Língua de Futuro” foi a forma escolhida pela Universidade de Coimbra (UC) para encerrar as comemorações dos seus 725 anos, reforçando a estratégia de ter o idioma como elemento central da sua internacionalização e da sua afirmação como universidade global.
Sem comentários:
Enviar um comentário