Apesar de a Guiné-Bissau estar referenciada sobretudo como um país de passagem de droga, Luís Vaz Martins, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, considera que o consumo "já devia preocupar as autoridades".
Aquele responsável falava à agência Lusa na sequência de um apelo 
da Comissão de Combate às Drogas na África Ocidental que pediu 
"determinação e vontade política" das autoridades de Bissau contra o 
tráfico e consumo de estupefacientes.
O apelo foi feito a 20 de agosto, em Bissau, após três dias de visita
 ao país por uma comitiva liderada pelo antigo presidente da Nigéria 
Olusegun Obasanjo, que dirige a comissão - designada de West Africa 
Commission on Drugs (WACD) e criada em janeiro por Kofi Annan, antigo 
secretário-geral da Nações Unidas.
Do ponto de vista humanitário, Luís Vaz Martins lamenta que não 
existam estruturas, nem centros preparados para acolher 
toxicodependentes na Guiné-Bissau.
Não há espaços, "não existem números, nem existem dados" sobre o problema, acrescentou.
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| Foto da net | 
O cenário agrava-se com o facto de a cultura local fazer com que 
muitas famílias encubram os problemas de toxicodependência dos seus 
membros, "para evitar que sejam a vergonha da comunidade".
Para Luís Vaz Martins, o ponto de partida "deve ser um reconhecimento
 [do Estado] em como a droga é um flagelo que afeta a sociedade".
"Sobretudo os detentores de cargos públicos não reconhecem os factos e
 às vezes limitam-se a procurar pretextos na falta de meios para o 
combate ao narcotráfico", queixa-se aquele responsável.
Para Luís Vaz Martins, os parcos recursos de fiscalização "são um 
problema, mas deve haver uma vontade expressa em fazer face ao 
narcotráfico" que se traduza em ações.
"A Guiné-Bissau é um país frágil, a droga movimenta mundos e fundos e
 isso tem de certa forma contribuído de forma negativa para a afirmação 
da democracia", refere o presidente da Liga Guineense dos Direitos 
Humanos, para quem o problema não pode ser resolvido por um único país.
Em vez de um "problema isolado", trata-se de um "problema global", 
que "tem que ser discutido do ponto de vista internacional: não se trata
 de responsabilizar os países produtores, de trânsito ou de consumo", 
concluiu.
Com base nas apreensões de cocaína na Europa, um relatório do 
Gabinete das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), publicado em 
fevereiro, refere que o fluxo em trânsito na região da África Ocidental 
"parece ter diminuído para cerca de 18 toneladas, tendo atingido um pico
 em 2007 de cerca de 47 toneladas".
"Apesar disto serem boas notícias, não é necessária uma grande 
quantidade de cocaína para causar problemas numa região com problemas de
 pobreza e governação", destaca o documento sobre "Criminalidade 
Organizada Transnacional na África Ocidental".
A UNODC refere que "o orçamento militar total em muitos países da 
África Ocidental", em que se inclui a Guiné-Bissau, "é menor do que o 
preço por grosso de uma tonelada de cocaína na Europa".
(in: Lusa) 

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