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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Ébola será analisado em reunião de delegações da CPLP

A delegação portuguesa, que vai incluir dois representantes da direção-geral de saúde, dois representantes do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e dois representantes do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, desloca-se a Moçambique com o objectivo de "coordenar políticas no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)", adiantou a mesma fonte.


 
Segundo Jaime Nina, "Portugal faz parte de uma rede europeia de laboratórios de alta segurança e uma das condições da entrada para esta rede foi fazer uma ponte de acesso a vários países africanos de língua portuguesa".

De entre os laboratórios com esta classificação, existem vários níveis, "conforme se procede apenas a um diagnóstico para saber se uma pessoa está infectada, o que é feito com sangue inactivo, ou se se vai estudar o vírus, a sua origem, características, subtipo, etc., o que requer amostras vivas do vírus ", explicou o especialista à Lusa.

Neste segundo caso, "falamos de um laboratório de altíssima segurança, um laboratório P4, que não existe em qualquer dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) mas a que Portugal tem acesso devido a um acordo que lhe permite usufruir de alguns P4 da rede europeia, nomeadamente ao Instituto Pasteur de Lyon, em França, e ao Instituto de Marburgo, na Alemanha", acrescentou.

De acordo com o também professor no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, "o interesse dos vários países no encontro em Maputo é variável, estando a Guiné-Bissau particularmente interessada por ter a doença mesmo na fronteira", enquanto outros países se deslocam à capital moçambicana sobretudo para partilhar as suas experiências.

"O Brasil, que também possui uma enorme capacidade laboratorial, irá falar sobre o surto Sabiá, que é uma febre hemorrágica, como o Ébola, enquanto Moçambique irá dar testemunho de um surto de Mopeia, um vírus muito próximo do da febre de Lassa, também ela uma febre hemorrágica. Quanto a Angola, tem a experiência, vivida no Uíge em 2005, do surto Marburgo, que é o vírus mais próximo do Ébola que se conhece, o que torna o seu relato muito valioso", contou o especialista em doenças tropicais, que trabalha regularmente em África.

Questionado pela Lusa acerca do avanço na área das vacinas, Jaime Nina afirmou que estas "ainda estão numa fase muito precoce", sendo que a primeira vacina a ter ensaios no terreno, "em setembro, na Libéria", foi a do grupo farmacêutico GlaxoSmithKline (GSK).

Seguiu-se uma outra, criada - em parceria com os institutos nacionais de saúde pública do Canadá - por uma pequena empresa de biotecnologia californiana entretanto adquirida pela Merck Sharp & Dohme.

"Mas esta farmacêutica apenas em meados de outubro iniciou os ensaios em seres humanos, devendo começar os ensaios de fase três, que envolvem milhares de pessoas, a curto prazo em pelo menos dois dos três países mais afectados (Serra Leoa, Libéria e Guiné Conacri), não estando ainda definidos quais", esclareceu, adiantando que "além destas, contam-se cerca de dez vacinas em vários estádios de desenvolvimento, mas nenhuma na fase de ensaios em humanos".

Para Jaime Nina, não é possível dizer-se que "o surto do Ébola está controlado em qualquer dos três países", embora haja "a esperança de se estar a assistir a um recuo da doença", que teve casos pontuais também noutros países: um no Senegal, dois no Mali, dois na Nigéria, um em Espanha, dois nos Estados Unidos e um em Inglaterra.

"Isto mostra que ninguém está seguro. Enquanto houver epidemia, o vírus a qualquer momento pode surgir em qualquer lugar", sendo os aviões "um vetor extremamente potente de doenças infecciosas", pelo que "é importante todos os países estarem minimamente preparados para enfrentar casos", sublinhou o médico.

Em Portugal, existem enfermarias de isolamento de nível 6 - as que estão preparadas para doentes de Ébola - em Lisboa, no Hospital Curry Cabral (para adultos) e no Hospital Dona Estefânia (para crianças), e no Porto, no Hospital de São João (para adultos).

"Só na hipótese, altamente remota, de a capacidade destes hospitais ser ultrapassada, entram em acção os hospitais de segunda linha, aqueles onde, com um esforço mínimo, rapidamente há condições para receber doentes, caso do Hospital Egas Moniz", afirmou Jaime Nina.

Em termos globais, 21.296 pessoas foram infectadas com o Ébola desde o início deste surto, há cerca de um ano, tendo mais de 8.000 delas morrido, segundo os dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde.
 
 
 
 

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