Augusto Beteba ansiava ser doutor no Brasil, voltar à Guiné-Bissau e melhorar a realidade do seu país natal por meio da educação. O sonho dele transformou-se em pesadelo para a mulher, Paula, e o filho, Abene, nascido há dois anos em Porto Alegre.
Aluno do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFRGS e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o economista morreu no dia 8 deste mês, aos 36 anos, deixando mulher e filho sem amparo oficial para retornar à terra de origem.
Desde a morte do marido, Paula pensa apenas em regressar para junto de sua família. Perdida, preocupada com a sobrevivência diária, mal teve tempo de processar a viuvez. Abene — que repete o tempo todo a palavra "pai", uma das poucas que aprendeu — passa os dias vendo desenhos no computador.
A Capes e o Itamaraty informaram não se responsabilizar por familiares de bolsistas e que não há cobertura para o translado do corpo. Augusto teve de ser sepultado em Porto Alegre.
Indignados com a falta de assistência do governo brasileiro para custear o retorno de Paula e Abene à Guiné-Bissau, os colegas de Augusto na universidade fizeram uma vaquinha e já arrecadaram R$ 6 mil para as passagens (o total necessário são cerca de R$ 7 mil). Flávio Comim, orientador da tese de Augusto, desabafa: "É chocante como uma situação inesperada dessas acontece e não há garantias de nada. Fica um vazio institucional. O governo deveria ter uma previsão orçamentária para esses casos excepcionais".
As dificuldades enfrentadas pela família Beteba alertam para as condições encontradas pelos estudantes de mestrado e doutorado estrangeiros no Brasil. Atualmente, são cerca de 400 alunos na mesma modalidade de Augusto. Muitos deles com família acompanhante.
(Paula e Abene desejam retornar para Guiné-Bissaú e viver junto de seus familiares Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS) |
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