A informação foi avançada a imprensa pelo ministro da Cultura cabo-verdiana, Mário Lúcio Sousa, e pelo secretário de Estado da Cultura de Portugal, Jorge Barreto Xavier, que iniciou hoje uma visita de três dias ao país africano para fortalecer as relações culturais e bilaterais.
O antigo campo de concentração do Tarrafal, situado na localidade de Chão Bom, foi criado pelo regime colonial português em abril de 1936 sob o nome de "Colónia Penal do Tarrafal" e encerrou oficialmente em 1954, embora a maior parte dos então detidos tenha sido libertada em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial.
Em junho de 1961, o então ministro do Ultramar português, Adriano Moreira, ordenou a reabertura das instalações sob o nome de "Campo de Trabalho de Chão Bom", desta feita para encarcerar resistentes à guerra colonial em Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde, tendo a segunda fase durado 13 anos, até ao seu encerramento definitivo, a 01 de maio de 1974.
"Já há um entendimento entre nós para criar uma equipa conjunta para fazer a musealização final do antigo campo de concentração do Tarrafal. As coisas terão os seus passos, já avançamos, há uma equipa a trabalhar nos projectos, já há um acordo político e agora sim se vai formar a equipa que começará a trabalhar logo que seja possível", indicou Mário Lúcio Sousa.
Para o ministro cabo-verdiano, os dois países querem "reinventar" novas formas de cooperação, fora dos planos indicativos, que "levam mais tempo e que precisam de mais meios".
"Sectorialmente podemos ir fazendo algumas coisas, com reciprocidade, com afecto e generosidade", prosseguiu Mário Lúcio Sousa, assegurando o envolvimento de outros países, como Moçambique, Angola e Guiné-Bissau, mas não avançando datas para o início dos trabalhos.
Reconhecendo o "simbolismo" do também conhecido como "campo da morte lenta", o secretário de Estado da Cultura de Portugal disse que a transformação em museu é um sinal de como se pode celebrar enquanto cidadãos, falantes da língua e pertencentes a uma comunidade.
A transformação do campo de concentração do Tarrafal em museu é um dos pontos de um protocolo de cooperação que será assinado sexta-feira, último dia da visita do governante português, e que abrangerá ainda áreas como património, bibliotecas, literatura, artes, direitos de autor e direitos conexos, arquivos e política do livro, entre outros.
Além de reuniões de trabalho com Mário Lúcio, o governante português será recebido por Manuel de Pina, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago - conhecida como Cidade Velha -, capital cabo-verdiana da cultura em 2015.
Na quinta-feira, Jorge Xavier Barreto desloca-se ao Tarrafal, onde se reunirá com o edil local e visita o antigo campo de concentração, actualmente denominado Museu da Resistência e que guarda hoje num mal conservado edifício a memória de centenas de antifascistas portugueses e nacionalistas africanos que ali estiveram encarcerados.
No último dia, o secretário de Estado português fará visitas ao Banco da Cultura de Cabo Verde, uma iniciativa do governo cabo-verdiano que promove o financiamento a artistas e agentes culturais locais, e ao futuro Museu da Música, que está a ser edificado na Cidade da Praia.
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