COM O TEMPO UMA IMPRENSA CÍNICA, MERCENÁRIA, DEMAGÓGICA E CORRUPTA, FORMARÁ UM PÚBLICO TÃO VIL COMO ELA MESMO

Joseph Pulitzer

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

"Cartas de Guerra", longa-metragem de Ivo M. Ferreira, na 66ª Edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim

"Cartas de Guerra", a terceira longa-metragem de Ivo M. Ferreira, está seleccionada para a Competição Oficial da 66ª Edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, concorrendo ao Urso de Ouro para Melhor Filme.


"Cartas de Guerra" é uma adaptação do livro "D'Este Viver Aqui Neste Papel Descripto, Cartas da Guerra" de António Lobo Antunes, com organização de Maria José Joana Lobo Antunes, e será apresentado no Berlinale a decorrer entre 11 e 21 de Fevereiro 2016.

O argumento é de Ivo M. Ferreira e Edgar Medina.

"1971. António vê a sua vida brutalmente interrompida quando é incorporado no exército português, para servir como médico numa das piores zonas da guerra colonial – o Leste de Angola. Longe de tudo que ama, escreve cartas à mulher à medida que se afunda num cenário de crescente violência. Enquanto percorre diversos aquartelamentos, apaixona-se por África e amadurece politicamente. A seu lado, uma geração desespera pelo regresso. Na incerteza dos acontecimentos de guerra, apenas as cartas o podem fazer sobreviver."


Miguel Nunes interpreta o personagem de António e Margarida-Vila Nova de sua mulher, Maria José. Do elenco fazem parte também Ricardo Pereira, João Pedro Vaz, Simão Cayatte, Isac Graça, e outros.

Em Portugal o filme deverá estrear no segundo semestre de 2016


A informação foi fixada ontem na página oficial do Festival Internacional de Cinema de Berlim. “Cartas da Guerra”, de Ivo M. Ferreira, foi seleccionado para a Competição Oficial da 66.ª edição da Berlinale, que este ano decorre entre 11 e 21 de Fevereiro. A partir de Lisboa, o realizador radicado em Macau falou ao PONTO FINAL de reconhecimento por 22 anos de trabalho, e partilhou a presença num dos mais conceituados festivais do mundo com aqueles que com ele estiveram envolvidos num filme que enfrentou uma longa travessia no deserto. Uma partilha que o cineasta, de 40 anos, estendeu aos realizadores portugueses. Também falou de sonho e da teimosia que quase sempre lhe está associada: “Isto era um sonho, isto era o melhor que podia acontecer”.

“É o reconhecimento de 22 anos de trabalho meu e mais não sei quantos meses de trabalho da equipa e dos actores. Partilho genuinamente este elogio com a toda a gente envolvida no filme, e não só neste filme, nos outros todos, que isto não surge de um dia para o outro. É muita persistência, muito empenho, muita dedicação e muita teimosia”, afirmou o realizador, que assumiu que agora tudo muda para um filme que previsivelmente irá despertar a atenção dos grandes distribuidores. “A partir de agora vai ter estreia comercial em muitos países da Europa e do mundo. O próximo filme será muito mais fácil de financiar internacionalmente. Mas também é muito importante para o cinema português, nesta altura de charneira em que se está a definir a política para os próximos anos. Acho que também é um prémio para os outros realizadores portugueses, e espero que, de alguma forma, até para o cinema de Macau”.

Num filme que tem como protagonistas Miguel Nunes e Margarida Vila-Nova, Ivo M. Ferreira assina o argumento em conjunto com Edgar Medina. E o argumento parte das cartas de amor escritas pelo então alferes e médico António Lobo Antunes, durante a comissão de serviço em Angola, entre 1971 e 1973, que o autor compilou no volume “D’este viver aqui neste papel descrito: Cartas da Guerra”. Cartas que serviram de “estrela polar na construção do filme”.

Longe de linear, o processo de construção do filme enfrentou dificuldades que tentaram o cineasta a largar o projecto. “Este filme foi o primeiro que nasceu de forma muito saudável e depois teve um período horrível de cinco anos parado. O ICA [Instituto do Cinema e do Audiovisual] paralisou a atribuição da verba, quando acabam com o Ministério da Cultura foi tudo muito complicado. Era um projecto muito caro, difícil de financiar, um filme de época, de guerra, e em África, filmado no meio do nada”. Mais tarde chegaria o interesse de distribuidores internacionais, após uma apresentação breve, de quatro minutos, no Festival de Veneza, e tudo muda para uma história que insistia em se colar à tormenta. “De repente, parece que os astros se alinharam e que este filme, que parecia amaldiçoado… houve uma recompensa do esforço, do empenho”.

As filhas do escritor, Maria José e Joana Lobo Antunes, que acompanharam o processo e a quem coube a aprovação da primeira versão do argumento, já viram o filme. António Lobo Antunes “verá em breve”. “Como artista, como pensador, com certeza ele vai perceber que isto é uma adaptação, e que é sempre uma interpretação da história recente de Portugal, da história da vida dele, da história das cartas”, remata o realizador.

Numa altura em que estão já 15 filmes seleccionados para a Competição Oficial, alinham-se, a par com a terceira longa do cineasta português, filmes dos irmãos Coen, de Jeff Nichols, de Vincent Perez, de Thomas Vinterberg, de Alex Gibney ou de Michael Grandage. Concorrência de peso que não belisca a dimensão do sonho: “Isto é o sonho, tudo o que fizemos para isto, com uma grande teimosia e praticamente falidos, e a acreditar que isto ia acontecer. Mas isto era um sonho, isto não era o que ia acontecer de bom, isto era o melhor que podia acontecer. E aconteceu, e fico contente”. S.G.
 
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário