Adiadas novamente, eleições no país devem ser realizadas em 13 abril. Liderada pelo Brasil, Comissão da ONU para a Construção de Paz na Guiné-Bissau relatou ao Conselho que o impacto da instabilidade política na economia do país é “devastadora”.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu
 nesta quarta-feira (26) que os actores sociais e políticos de 
Guiné-Bissau e a comunidade internacional redobrem os seus esforços para
 que o país possa estar preparado para a realização das eleições, que 
foram adiadas mais uma vez.
O Conselho reiterou que está disposto a utilizar sanções específicas 
contra civis e militares que minam os esforços para restaurar a ordem 
constitucional.
EM COMUNICADO À IMPRENSA (leia abaixo na íntegra, em português), o Conselho expressou 
preocupação com os atrasos contínuos nas eleições legislativas e 
presidenciais, que foram recentemente adiadas de 16 de março para 13 de 
abril.
“Esses atrasos têm um impacto negativo sobre o bem-estar social e 
econômico do país, na segurança nacional, que já é frágil, e na situação
 humanitária e dos direitos humanos na Guiné-Bissau”, afirmou o 
Conselho.
O representante especial do secretário-geral para a Guiné-Bissau, 
José Ramos-Horta, lembrou que o golpe militar interrompeu o segundo 
turno das eleições presidenciais em abril de 2012 e pediu que a defesa e
 as forças de segurança não interfiram nas próximas eleições e protejam 
os candidatos.
O
 embaixador brasileiro António de Aguiar Patriota, que preside a 
Configuração da Comissão da ONU para a Construção de Paz na 
Guiné-Bissau, relatou ao Conselho que o impacto da instabilidade 
política na economia do país é “devastadora”.
Patriota observou que há “um sentimento generalizado de cansaço no país” e que “as pessoas querem seguir em frente”.
Em entrevista à Rádio ONU, logo depois do discurso em Nova York, ele falou um pouco mais sobre as eleições.
“Nós esperamos que esse último atraso para 13 de abril seja o último e
 que elas possam ser realizadas. Mas a partir da constituição de um 
governo legítimo, do restabelecimento da ordem e com o apoio da ONU, o 
país africano e irmão do Brasil tem condições de ser uma nação estável, 
com boas instituições e democrático.”
O embaixador brasileiro disse
 que a Guiné-Bissau tem a possibilidade de aproveitar o potencial 
econômico em benefício de uma população que é relativamente pequena.
Para ele, o país tem um grande potencial agrícola e não há razão para
 importar alimentos. Patriota citou ainda o potencial dos setores de 
pesca e de turismo e a riqueza mineral da Guiné-Bissau.
No pronunciamento, Patriota propôs três objetivos realizáveis para o 
país. O primeiro deles é que o novo governo exerça seu mandato de uma 
maneira eficaz e que passe o poder para um outro governo 
democraticamente eleito.
No plano econômico-social, o embaixador brasileiro afirmou ser 
importante que todos trabalhem para a melhora dos indicadores do país em
 todos os aspectos, inclusive de educação, saúde, segurança alimentar e 
desenvolvimento rural.
Em terceiro lugar, Patriota falou sobre a importância da reforma e da
 modernização do sistema de defesa e segurança do país. Ele falou sobre o
 papel dos militares.
“Os militares asseguram a defesa, a segurança do país, mas não se 
envolvem em política. Protegem os governantes democraticamente eleitos 
e, assim, contribuem para um desenvolvimento que também represente uma 
evolução positiva do ponto de vista das instituições e da plena 
cidadania da população de Guiné-Bissau.”
Ouça aqui a matéria da Rádio ONU em português e saiba mais detalhes.
Leia abaixo o comunicado do Conselho na íntegra:
Comunicado de imprensa do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação na Guiné-Bissau
Nova York, 26 de fevereiro de 2014
Em 26 de fevereiro de 2014, os membros do Conselho de Segurança da 
ONU foram informados pelo representante especial do secretário-geral, 
José Ramos-Horta, e pelo presidente da Configuração da Comissão de 
Construção da Paz na Guiné-Bissau, rmbaixador Antonio de Aguiar Patriota
 (Brasil), sobre a situação no país.
Os membros do Conselho de Segurança notam que a normalização da 
situação de segurança, política, econômica e social na Guiné-Bissau 
depende do regresso à ordem constitucional através de eleições 
credíveis, reformas nos setores da defesa, da segurança e da justiça, a 
promoção do Estado de Direito, a proteção dos direitos humanos, a 
promoção do desenvolvimento sócio-econômico, a melhoria da situação 
humanitária e da luta contra a impunidade e ao tráfico de drogas.
Eles também observam que a restauração da ordem constitucional facilitaria o reengajamento pleno de parceiros internacionais.
Os membros do Conselho de Segurança informam que a conclusão do 
processo de recenseamento eleitoral é um passo significativo para a 
realização de eleições presidenciais e legislativas. O Conselho saúda os
 esforços das autoridades encarregadas do período de transição pela sua 
conclusão e parabeniza o povo da Guiné-Bissau pelo seu compromisso de 
exercer o seu direito democrático de forma pacífica.
Eles também elogiam a Comunidade Econômica dos Estados da África 
Ocidental (CEDEAO) e os governos do Timor-Leste e da Nigéria pela 
prestação de assistência técnica e financeira para que o processo de 
recenseamento eleitoral pudesse ser realizado e saúdam a intenção da 
CEDEAO de fortalecer a sua missão para ajudar as autoridades 
responsáveis pelo período de transição na garantia de segurança para as 
próximas eleições.
Os membros do Conselho de Segurança incentivam todas as partes 
nacionais interessadas a manter a dinâmica iniciada com o processo de 
registro, de trabalhar para que as eleições sejam realizadas em tempo 
hábil e de renovar o seu compromisso de garantir um ambiente propício 
nas últimas semanas antes das eleições.
Os membros do Conselho de Segurança elogiam os parceiros 
internacionais da Guiné-Bissau pelas suas promessas de apoio financeiro e
 técnico ao processo eleitoral e pedem que trabalhem em estreita 
coordenação com a Comissão Nacional Eleitoral para garantir o resultado 
rápido de seus compromissos declarados, a fim de facilitar um processo 
eleitoral suave, ressaltando a necessidade de um esforço redobrado no 
reforço da coordenação da assistência eleitoral sob a liderança de 
Ramos-Horta, em conformidade com a resolução do Conselho de Segurança 
2103 (2013) e em estreita colaboração com a Equipe da País das Nações 
Unidas.
Os membros do Conselho de Segurança expressam sua preocupação com os 
atrasos contínuos no processo eleitoral e ressaltam que esses atrasos 
têm um impacto negativo sobre o bem-estar social e econômico do país, na
 segurança nacional – que já é frágil – e na situação humanitária e dos 
direitos humanos na Guiné-Bissau.
Eles reiteram que a realização das eleições presidenciais e 
legislativas é imperativa, sem mais delongas. Eles pedem veementemente 
que as autoridades encarregadas do período de transição criem um 
ambiente propício para a participação segura, plena e igualitária de 
todos os atores, incluindo as mulheres, no processo eleitoral.
Os membros do Conselho de Segurança condenam os episódios de 
violência na Guiné-Bissau que contribuíram para a atmosfera de medo e 
intimidação entre a população. Eles reiteram sua preocupação com a 
cultura dominante da impunidade e da falta de prestação de contas na 
Guiné-Bissau. Eles pedem, a este respeito, que as autoridades 
encarregadas do período de transição ajam rapidamente para combater 
eficazmente a impunidade e promover a justiça, assegurando que os 
responsáveis por crimes sejam levados à justiça.
Os membros do Conselho de Segurança pedem às partes nacionais 
interessadas, incluindo os partidos políticos e todos aqueles que os 
apoiam, as forças de defesa e segurança, as organizações da sociedade 
civil, líderes tradicionais e religiosos, mulheres e grupos de jovens, 
bem como os meios de comunicação, para que se abstenham de qualquer ação
 que possa dificultar o processo eleitoral, a fim de facilitar a 
realização de eleições pacíficas e credíveis, e respeitar os resultados 
das eleições como o desejo e a vontade do povo da Guiné-Bissau.
Eles pedem que os militares respeitem a ordem constitucional, 
incluindo o processo eleitoral, e se entreguem plenamente ao controle 
civil. Os membros do Conselho de Segurança reiteram a sua 
disponibilidade para ponderar outras medidas, se necessário, incluindo 
sanções específicas contra indivíduos civis e militares que minam os 
esforços para restaurar a ordem constitucional.
Os membros do Conselho de Segurança expressam seu apoio à liderança 
de Ramos-Horta e elogiam seu papel na facilitação de um ambiente 
pré-eleitoral favorável, bem como suas propostas para reforçar a 
continuidade do compromisso internacional após as eleições para as 
principais reformas e para o fortalecimento de instituições do Estado, 
bem como a boa governança e o desenvolvimento social e econômico 
inclusivo.”

 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário