O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), participa de seminário sobre a “Evolução do Direito Constitucional na África”, realizado em Argel, capital da Argélia. O encontro foi organizado em comemoração aos 25 anos do Conselho Constitucional argelino.
Pronunciamento
Em discurso proferido ao final do seminário, o ministro Teori
Zavascki destacou a importância da Conferência das Jurisdições
Constitucionais dos Países de Língua Portuguesa e a Conferência
Ibero-americana de Justiça Constitucional, as quais representou no
encontro. Segundo o ministro, o objectivo das conferências, como a
Ibero-americana, é “servir como fonte de intercâmbio de experiências e
informação, para reforçar os sistemas constitucionais mediante a
reafirmação de postulados partilhados, e dar uma melhor resposta às
crescentes exigências dos cidadãos de diferentes países no âmbito da
justiça constitucional”.
A Conferência das Jurisdições Constitucionais dos Países de Língua
Portuguesa (CJCPLP) é integrada pelos Tribunais Constitucionais de
Angola e de Portugal, pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, pelos
Supremos Tribunais de Justiça de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de São
Tomé e Príncipe, pelo Conselho Constitucional de Moçambique e pelo
Tribunal de Recurso de Timor-Leste.
A CJCPLP foi criada em novembro de 2008 e teve seu estatuto
aprovado em maio de 2010, durante assembleia realizada em Lisboa. A
conferência é um instrumento de cooperação e aperfeiçoamento das
instituições judiciais dos países que a integram. Em junho deste ano,
foi realizada em Benguela, na Angola, a terceira assembleia da CJCPLP,
que teve como tema “O papel da justiça constitucional na protecção dos
direitos fundamentais”.
Seminário em Comemoração aos 25 anos do Conselho Constitucional argelino
A
Evolução do Direito Constitucional na África
Argel,
24 a 26 de novembro de 2014
Pronunciamento
de Sua Excelência o senhor Ministro do
Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki.
Excelentíssimo
Senhor Mourad Medelci, Presidente do Conselho
Constitucional argelino, na pessoa de quem cumprimento os demais
integrantes da Mesa desta sessão, Excelentíssimos senhores
Presidentes de agrupamentos regionais e linguísticos de Cortes
Constitucionais;
Excelentíssimos senhores Magistrados, Senhoras e Senhores, É com grande satisfação que faço o uso da palavra nesta oportunidade para apresentar, em breves linhas, a Conferência das Jurisdições Constitucionais da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Conferência Ibero-americana de Justiça Constitucional.
Excelentíssimos senhores Magistrados, Senhoras e Senhores, É com grande satisfação que faço o uso da palavra nesta oportunidade para apresentar, em breves linhas, a Conferência das Jurisdições Constitucionais da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Conferência Ibero-americana de Justiça Constitucional.
Antes
de iniciar minha apresentação, no entanto, permitam-me uma breve
digressão para externar meus sinceros agradecimentos pelo convite e
pela calorosa acolhida que recebi em Argel por parte do Conselho
Constitucional e de seu Excelentíssimo Senhor Presidente. Participar
de encontro de tão alto perfil foi, certamente, uma enriquecedora
experiência.
Ao
longo desses dois dias de apresentações e de debates, foi possível
entrar em contacto com o que há de mais actual nas discussões de
temas constitucionais no continente africano. Retorno ao Brasil
levando comigo um quadro completo e detalhado sobre a evolução do
Direito Constitucional na África. Em nome do Supremo Tribunal
Federal do Brasil, registo aqui os cumprimentos ao Poder Judiciário
da República da Argélia
e à organização do evento.
Senhoras
e Senhores, A Conferência das Jurisdições Constitucionais dos
Países de Língua Portuguesa (CJCPLP) é o agrupamento de Cortes e
de Órgãos com competência
em matéria constitucional dos países que a integram. Dela fazem
parte os Tribunais Constitucionais de Angola e de Portugal; o
Supremo Tribunal Federal do Brasil; os Supremos Tribunais de Justiça
de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de S. Tomé e Príncipe; o
Conselho Constitucional de Moçambique; e o Tribunal de Recurso de
Timor-Leste.
Sua
declaração constitutiva foi assinada no dia 21 de novembro de
2008, em Brasília, e seus Estatutos foram aprovados durante a 1ª
Assembleia da Conferência, reunida em Lisboa, em maio de 2010.
Segundo
esses estatutos, a CJCPLP é uma organização de cooperação
judiciária, jurisprudencial e científica com o objectivo de
promover os direitos humanos, defender a democracia e a
independência judicial e que visa ao aprofundamento de uma cultura
constitucional comum aos países lusófonos. Tem a sua sede no País
do órgão constitucional que tiver sido escolhido como responsável
pela organização da próxima Assembleia, a quem caberá igualmente
a presidência, que é rotativa e bienal. Durante o biénio em curso
(2014-2016), o Brasil, por meio do Supremo Tribunal Federal, está
exercendo a presidência da CJCPLP.
Para
além do diálogo institucional, a CJCPLP representa um espaço de
congregação de países irmãos, unidos por laços culturais e por
um passado em comum, que buscam difundir, fomentar e fortalecer os
valores compartilhados em suas Constituições. Esses valores,
garantidos pelas Cortes Constitucionais nacionais e consagrados na
prática judiciária diária, reflectem, em verdade, anseios de
carácter universal, a exemplo das garantias aos direitos e
liberdades fundamentais da pessoa humana, do direito à inclusão
social e do direito ao desenvolvimento sustentável. Desse modo, a
CJCPLP configura um mecanismo de troca de ideias, de difusão de
conhecimento e de boas práticas e, principalmente, de cooperação
institucional na busca pelo aperfeiçoamento das instituições
judiciais dos países que adoptam a língua portuguesa.
A
3ª Assembleia Geral da CJPLP, realizada em Benguela, Angola, no
último mês de junho, teve como tema o papel da justiça
constitucional na protecção dos direitos fundamentais. Ali
reunidos, os membros da CJCPLP puderam debater e comparar seus
sistemas constitucionais de protecção aos direitos fundamentais da
pessoa humana sobre diversos aspectos, inclusive quanto ao uso,
pelos Tribunais Constitucionais, de jurisprudência comparada para
enriquecer a fundamentação das suas decisões no campo dos
direitos fundamentais.
Para
além do espaço geográfico dos Países que a integram, a CJCPLP
mantém relações substantivas com outros órgãos de objectivos
semelhantes no âmbito internacional, como é o caso da Comissão
Europeia para a Democracia através do Direito, mais conhecida como
a Comissão de Veneza, órgão consultivo do Conselho da Europa
sobre questões constitucionais.
Desde o início de suas actividades,a CJCPLP e a Comissão de Veneza têm trabalho em estreita cooperação, que foi formalizada com a assinatura do Acordo de Cooperação de Maputo, em maio de 2012. Essa cooperação possibilita, por exemplo, a difusão da jurisprudência constitucional dos países da CJCPLP, por meio da publicação do Boletim de Jurisprudência Constitucional, que oferece aos leitores resumos das decisões mais importantes das Cortes participantes da Comissão de Veneza e, em especial, por meio da CODICES, importante base de dados que contém milhares de decisões resumidas, textos completos das Constituições e informações sobre o funcionamento de inúmeras Cortes com competência constitucional ao redor do mundo.
Desde o início de suas actividades,a CJCPLP e a Comissão de Veneza têm trabalho em estreita cooperação, que foi formalizada com a assinatura do Acordo de Cooperação de Maputo, em maio de 2012. Essa cooperação possibilita, por exemplo, a difusão da jurisprudência constitucional dos países da CJCPLP, por meio da publicação do Boletim de Jurisprudência Constitucional, que oferece aos leitores resumos das decisões mais importantes das Cortes participantes da Comissão de Veneza e, em especial, por meio da CODICES, importante base de dados que contém milhares de decisões resumidas, textos completos das Constituições e informações sobre o funcionamento de inúmeras Cortes com competência constitucional ao redor do mundo.
A
CJCPLP é também um dos agrupamentos fundadores da Conferência
Mundial sobre Justiça Constitucional, cujo propósito é promover a
justiça constitucional como factor-chave para a garantia dos
direitos humanos e das instituições democráticas. O
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal do
Brasil, Ministro Ricardo Lewandowski, participou da 3ª edição da
Conferência Mundial sobre Justiça Constitucional, realizada em
Seul, República da Coreia, em setembro de 2014, tendo efectuado
pronunciamento, também na condição de Presidente da CJCPLP,
acerca do papel da Justiça Constitucional na integração social.
Outro
relevante agrupamento linguístico-regional de que
participa o Supremo Tribunal Federal do Brasil é a Conferência
Ibero-americana de Justiça Constitucional, integrada pelos
Tribunais, Cortes e Salas com competência em matéria
constitucional nos países de língua espanhola e portuguesa da
América e da Europa. Institucionalizada em Sevilha, Espanha, em
encontro ocorrido em outubro de 2005, a Conferência Ibero-americana
é actualmente presidida pelo Tribunal Constitucional do Peru.
Assim
como a CJCPLP, o objectivo principal da Conferência Ibero-americana
de Justiça Constitucional é servir como foro e de fonte de
intercâmbio de experiências e informação, para reforçar os
sistemas constitucionais
mediante a reafirmação de postulados partilhados e dar uma melhor
resposta às crescentes exigências dos cidadãos de diferentes
países no âmbito da justiça constitucional.
Em
sua 10ª Edição, realizada em março de 2014 em Santo Domingo,
República Dominicana, a Conferência Ibero-americana contou com a
presença, na condição de observadores, de representantes da
Conferência Mundial de Justiça Constitucional, da Comissão de
Veneza, da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Conselho
Constitucional do Reino do Marrocos. Ademais, naquela reunião,
foram iniciadas as tratativas para a celebração de um acordo de
cooperação entre a Conferência e a União das Cortes e Conselhos
Constitucionais Árabes (UCCCA), fato que demonstra
o grande potencial de agregação exercido por essa espécie de
agrupamento.
Senhoras
e Senhores, Vivemos hoje em uma sociedade global. Ultrapassando as
fronteiras dos Estados Nacionais, nossas sociedades compartilham
anseios e preocupações
no espaço globalizado.
Nossas crianças têm os mesmos sonhos; nossas famílias, os mesmos desejos; nossas instituições, as mesmas responsabilidades. As palavras de Martin Luther King Jr, proferidas muito antes da globalização ser o fenómeno inquestionável que hoje é, permanecem verdadeiras: “Injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à Justiça em todos os lugares.
Estamos presos em uma inescapável rede de reciprocidade, amarrada às vestimentas do destino.
Nossas crianças têm os mesmos sonhos; nossas famílias, os mesmos desejos; nossas instituições, as mesmas responsabilidades. As palavras de Martin Luther King Jr, proferidas muito antes da globalização ser o fenómeno inquestionável que hoje é, permanecem verdadeiras: “Injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à Justiça em todos os lugares.
Estamos presos em uma inescapável rede de reciprocidade, amarrada às vestimentas do destino.
O
que quer que afecte a alguém directamente, afecta a todos nós
indirectamente.
Na
condição de guardiões da Constituição de nossas Repúblicas
e, em última análise, de garantidores da própria Justiça em
nossos territórios nacionais, nós, Cortes e Órgãos
constitucionais, desempenhamos um papel fundamental para a garantia
dos direitos humanos e das instituições democráticas, conquistas
essenciais dos nossos povos, obtidas com grande esforço,
ao longo de sucessivas gerações.
Nesse
contexto, a cooperação regional e multilateral entre Cortes e
Órgãos constitucionais insere-se como um indispensável mecanismo
de diálogo e de auxílio mútuo entre nossas sociedades. Afinal, ao
compartilharmos visões académicas, experiências práticas e
decisões judiciais em matéria constitucional, conferimos à nossa
actividade jurisdicional a amplitude e a capacidade de difusão
condizentes com os desafios da nova sociedade global e contribuímos,
assim, para que a Justiça possa efectivamente prevalecer em todos os
lugares.
Muito
obrigado.
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