RESISTÊNCIA ECONÓMICA - Amílcar Cabral
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( V )
“Tudo está nas palavras de ordem do nosso Partido. Para quê ?. Para vermos se nos bastamos a nós próprios. Claro que a nossa terra tem condições especiais, infelizmente, que limitam muito as possibilidades do nosso trabalho nesse campo. A nossa terra estava economicamente muito atrasada, muito atrasada para podermos aplicar com bastante sucesso esses princípios fundamentais de resistência económica, mas não é razão para não fazermos o máximo que pudermos. Não podemos pretender, por exemplo, bastar-nos em matéria de tecidos, que o nosso povo estava habituado a comprar, sapatos, colares suponhamos, agulhas, máquinas de costura, etç, etç, coisas que fazem parte das primeiras necessidades criadas no nosso povo já por todo este tempo de colonialismo. Não podemos porque na nossa terra não há fábricas para produzir essas coisas.
Há muitas culturas agrícolas que nunca se fizeram e não é no meio desta guerra que as podemos fazer rapidamente. Mas devíamos ser capazes de fazer algumas delas. Não podemos pretender abastecer-nos por nós mesmos em matéria de medicamentos, mesmo medicamentos simples, mas há coisas que podemos fazer de facto. Aumentar a produção do arroz, aumentar a produção de mandioca, da batata, de outros produtos alimentares, garantir a produção em todas as áreas da nossa terra que nós controlamos, por exemplo. Aumentar a produção em grande. Isso podemos fazer e, nas nossas condições de luta, é uma base fundamental para a nossa resistência económica.
Devemos também procurar, já vos falei disso, desenvolver o nosso artesanato: potes, esteiras, panos, bandas, etç. O nosso Partido trabalhou um bocado nesse campo, mas não conseguiu fazer o que queria. Porque, no meio da guerra, nas condições da nossa terra, alguns responsáveis do Partido esqueceram as palavras de ordem nesse campo – desenvolver a produção, aumentar a produção, multiplicar ou diversificar, variar os produtos agrícolas na nossa terra. Claro que conseguimos alguns sucessos, houve áreas em que se produz mais mandioca do que antes, mais batata do que antes, mas devemos reconhecer que está longe de ser aquilo que podia ser. Se é verdade que nalgumas áreas, como em Quinara, por exemplo, antes, algumas populações que não cultivavam, hoje cultivam, também é verdade que noutras áreas em que a população cultivava muito, passou a cultivar menos, por causa da guerra. E um golpe grande na nossa resistência económica foi, e continua a ser, a saída de grande número de gente da nossa terra para o Senegal. É um golpe na nossa resistência económica, porque toda essa gente são braços capazes de trabalhar nas condições das nossas regiões libertadas e que vão trabalhar no Senegal, aumentando a economia do Senegal e diminuindo a nossa economia para uma resistência económica diante dos colonialistas portugueses.
Devemos dizer claro, que alguns dirigentes e responsáveis do Partido, a todos os níveis, não têm dado aquela importância devida à nossa resistência económica. Sempre dissemos que é necessário não só o povo trabalhar, a população trabalhar para produzir, mas os combatentes também devem trabalhar para produzir. Devemos mobilizar todas as forças na época das chuvas para a população trabalhar mais, para os combatentes cultivarem, para os milicianos cultivarem.. Nalgumas áreas foi possível, mas noutras áreas devemos reconhecer que mesmo os combatentes que não têm muito trabalho a fazerem, porque as áreas estão livres, não cultivam, esperando apenas que a população lhes dê de comer. E hoje, nalgumas áreas, chegamos a um ponto em que, por causa da falta de chuvas no ano passado, por exemplo, a população não pode dar comida, os combatentes não cultivaram nada, e têm que pedir à direcção do Partido para lhes mandar comida.
Devemos dizer claro aos camaradas que, se temos que alimentar os combatentes no fundo do mato da nossa terra, para podermos lutar contra os colonialistas portugueses, então os colonialistas portugueses ficam na nossa terra mais cem anos. Isso seria o resultado, sobretudo, da falta de camaradas responsáveis, que não foram capazes de pôr os combatentes a lavrar, na altura em que era preciso lavrar. Há até combatentes que nem sequer ajudam a população, como dissemos que deviam ajudar.
(Continua)
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( V )
“Tudo está nas palavras de ordem do nosso Partido. Para quê ?. Para vermos se nos bastamos a nós próprios. Claro que a nossa terra tem condições especiais, infelizmente, que limitam muito as possibilidades do nosso trabalho nesse campo. A nossa terra estava economicamente muito atrasada, muito atrasada para podermos aplicar com bastante sucesso esses princípios fundamentais de resistência económica, mas não é razão para não fazermos o máximo que pudermos. Não podemos pretender, por exemplo, bastar-nos em matéria de tecidos, que o nosso povo estava habituado a comprar, sapatos, colares suponhamos, agulhas, máquinas de costura, etç, etç, coisas que fazem parte das primeiras necessidades criadas no nosso povo já por todo este tempo de colonialismo. Não podemos porque na nossa terra não há fábricas para produzir essas coisas.
Há muitas culturas agrícolas que nunca se fizeram e não é no meio desta guerra que as podemos fazer rapidamente. Mas devíamos ser capazes de fazer algumas delas. Não podemos pretender abastecer-nos por nós mesmos em matéria de medicamentos, mesmo medicamentos simples, mas há coisas que podemos fazer de facto. Aumentar a produção do arroz, aumentar a produção de mandioca, da batata, de outros produtos alimentares, garantir a produção em todas as áreas da nossa terra que nós controlamos, por exemplo. Aumentar a produção em grande. Isso podemos fazer e, nas nossas condições de luta, é uma base fundamental para a nossa resistência económica.
Devemos também procurar, já vos falei disso, desenvolver o nosso artesanato: potes, esteiras, panos, bandas, etç. O nosso Partido trabalhou um bocado nesse campo, mas não conseguiu fazer o que queria. Porque, no meio da guerra, nas condições da nossa terra, alguns responsáveis do Partido esqueceram as palavras de ordem nesse campo – desenvolver a produção, aumentar a produção, multiplicar ou diversificar, variar os produtos agrícolas na nossa terra. Claro que conseguimos alguns sucessos, houve áreas em que se produz mais mandioca do que antes, mais batata do que antes, mas devemos reconhecer que está longe de ser aquilo que podia ser. Se é verdade que nalgumas áreas, como em Quinara, por exemplo, antes, algumas populações que não cultivavam, hoje cultivam, também é verdade que noutras áreas em que a população cultivava muito, passou a cultivar menos, por causa da guerra. E um golpe grande na nossa resistência económica foi, e continua a ser, a saída de grande número de gente da nossa terra para o Senegal. É um golpe na nossa resistência económica, porque toda essa gente são braços capazes de trabalhar nas condições das nossas regiões libertadas e que vão trabalhar no Senegal, aumentando a economia do Senegal e diminuindo a nossa economia para uma resistência económica diante dos colonialistas portugueses.
Devemos dizer claro, que alguns dirigentes e responsáveis do Partido, a todos os níveis, não têm dado aquela importância devida à nossa resistência económica. Sempre dissemos que é necessário não só o povo trabalhar, a população trabalhar para produzir, mas os combatentes também devem trabalhar para produzir. Devemos mobilizar todas as forças na época das chuvas para a população trabalhar mais, para os combatentes cultivarem, para os milicianos cultivarem.. Nalgumas áreas foi possível, mas noutras áreas devemos reconhecer que mesmo os combatentes que não têm muito trabalho a fazerem, porque as áreas estão livres, não cultivam, esperando apenas que a população lhes dê de comer. E hoje, nalgumas áreas, chegamos a um ponto em que, por causa da falta de chuvas no ano passado, por exemplo, a população não pode dar comida, os combatentes não cultivaram nada, e têm que pedir à direcção do Partido para lhes mandar comida.
Devemos dizer claro aos camaradas que, se temos que alimentar os combatentes no fundo do mato da nossa terra, para podermos lutar contra os colonialistas portugueses, então os colonialistas portugueses ficam na nossa terra mais cem anos. Isso seria o resultado, sobretudo, da falta de camaradas responsáveis, que não foram capazes de pôr os combatentes a lavrar, na altura em que era preciso lavrar. Há até combatentes que nem sequer ajudam a população, como dissemos que deviam ajudar.
(Continua)
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