“O
Estado somos nós todos. Sempre que o estado perde somos nós todos
que perdemos“.
Quis
o destino que 18 de Abril, fosse o primeiro encontro do 1º ministro
Guiné Bissau com a comunidade Diáspora residente em Portugal.
Coincidência,
porque como todos se devem lembrar foi neste mês de Abril, dia 13 o
dia em que os guineenses foram chamados à urna; foi data em que cada
pessoa caminhou pelo seu pé, com esperança nos passos e futuro na
caneta e, riscou uma cruz onde entendeu em consciência. Nas eleições
reconhecidas como livres, justas e transparentes.
Nove
meses passaram após a tomada de posse do governo do Engº Domingos
Simões Pereira, em contagem decrescente, com o ponteiro do relógio
a contar desde o primeiro dia em que, na tomada de posse a Primeiro-
Ministro considerou que, “ hoje começa a tocar, no sentido
regressivo o relógio para, num período de quatro anos, mudarmos a
sorte e o destino desta Nação”.
A
sala do ISG -
Instituto Superior de Gestão do Grupo Lusófona
era pequena, para tanta afluência. Lugares sentados todos ocupados,
os espaços vazios de passagem serviram para acomodar os que, mesmo
no desconforto, preferiram ouvir o que governo tem feito e pretende
fazer para a sua pátria amada, terra ”ku no junta”, o que o
Primeiro- Ministro tem a dizer sobre o que o povo pode esperar para
os 3 anos e meio que ainda faltam de governação, de uma legislatura
de 4 anos em que o programa foi orientado para três fases:
-
Programa urgência
-
Programa de contingência
-
Programa de Desenvolvimento
Porque
todo o encontro também é uma oportunidade de partilha, convívio
não podiam faltar momentos de diversão, Dr. Eddy Sousa dos Santos
abre a sessão e faz apresentação dos momentos culturais que
seguem:
Começamos
por visionar um vídeo alusivo ao país. Um filme “Uma Nova Cara
da Guiné-Bissau”. Um filme bem conseguido: a primeira imagem que
salta a vista é das nossas paisagens e, quando os primeiros sons
soltam, é a voz de uma professora numa sala de aula, sob o olhar
atento das crianças. Depressa se compreende que é da
responsabilidade dos adultos proporcionar condições às crianças
dar-lhes conhecimento, porque elas constituem um estímulo para a tal
construção do País moderno assente na educação.
Pelo
filme percebemos que fomos abençoados pela Natureza, a nossa
biodiversidade que muito o governo tem promovido é a diferença que
nos distingue dos outros países, a nossa identidade e nossa vaidade.
E
se” Terra Ranka “ caminho também “lundju inda”, temos muito
trabalho pela frente. Os pés da palmeira de “Tchebem “ não
enganam, mostram a dificuldade, mas também a vontade de chegar
longe, esta passagem do filme arrancou aplausos.
Mesmo
as pernas “longas“ do personagem – nação a subir a palmeira
não fizeram chegar mais depressa, era de facto muito longa a subida.
Requer tempo, vontade e paciência.
Assim
também deve ser entendido o país.
A Karina Gomes acompanhada pelo músico Ibrahima Galissa cantou e
encantou ao som mágico do instrumento Kora, como sempre protagoniza
um bom momento de interacção com o público. Cria o diálogo à
volta do papel importante que a mulher desempenha e representa na
sociedade. A importância das Mulheres como mães, mulheres, esposas,
e donas de casa. A importância delas na construção de uma
sociedade mais justa e equilibrada.
Netos
di Gumbé, grupo de dança, vestidos a rigor com trajes típicos da
nossa terra, animaram o público, que se deixou “levar” pelo
momento, mas não esquecido do que os levou àquele espaço.
E
talvez por isso se começou a verificar sinais de impaciência. Algum
ruído de fundo de protesto, acusava à ansiedade pela espera de ver
o Responsável de Governo chegar.
E
como o relógio é o tempo, e como o tempo também não para (e até
exige), o Primeiro-Ministro chega às instalações sob fortes
aplausos e encontra-se com a comunidade guineense em Portugal, com
objectivo de a envolver na nova dinâmica que se exige, um novo ciclo
necessário e uma nova oportunidade que se abre e não se deve
desperdiçar que segundo o Primeiro–Ministro a todos deve orgulhar
constituindo um dever de todos, em participar e contribuir.
Até
porque se ponteiro do relógio não para, o tempo esse não perdoa!
Visivelmente
emocionado, postura firme, voz eloquente agradece a presença de
todos os guineenses e amigos da Guiné Bissau.
Porque
um Primeiro- Ministro que quer e já vê o país “iluminado”, ”Sol na iardi”, porque “Terra Ranka”, não pretende que seja ele
sozinho a ver essa “luz” e sentir esse “calor”. Com a sua
primeira intervenção passou calor a todos. Os ânimos depressa se
acalmaram dando lugar a entusiasmo e palmas. E depressa os sinais de
impaciência passaram a ser coisa de passado.
O
Primeiro- Ministro neste primeiro discurso entre o Kriolo e
Português, começou por falar da forma como foi pensada e preparada
a visão estratégica a apresentar em Bruxelas. Reconheceu o sucesso
porque conseguiram mobilizar várias sensibilidades, transversal a
toda sociedade nacional e internacional e definir um projecto que
reuniu o maior consenso possível e que resultasse num documento
forte e consensual, onde reflectisse, a visão estratégica e plano
operacional do desenvolvimento sustentável pretendido para Guiné-
Bissau, assente em 5 grandes áreas de intervenção. Mas projectada
em duas fases de diferentes períodos, “TERRA RANKA” 2015 -2020 e
“SOL NA IARDI” 2020 – 2025 “:
1
– PAZ E GOVERNAÇÃO
2 -
BIODIVERSIDADE E CAPITAL HUMANO
3 -
INFRA- ESTRUTURAS E DESENVOLVIMENTO URBANO
4 - DESENVOLVIMENTO HUMANO
5 -
AMBIENTE NEGÓCIOS
E
essa envolvência resultou no sucesso que foi à Mesa Redonda de
Bruxelas, a 25 de Março 2015.
Durante
horas Guiné- Bissau foi o centro das atenções, pelo lado positivo.
Segundo o Primeiro-Ministro (os números não enganam), dos 70 países
que fizeram parte, 45 tomaram palavra, e mostraram interesse em
colaborar no desenvolvimento do país.
O feedback foi positivo , diz o Primeiro–Ministro, as palavras
elogiosas para o país e seu povo foram encorajadoras. Ele sentiu e
ouviu a intenção da Comunidade Internacional voltar a ter A
Guiné-Bissau na sua agenda.
Era
visível o orgulho nos olhos das pessoas, a esperança no bater forte
das palmas. O Primeiro - Ministro fez uma pausa para sentir o
momento, mas logo fez com que as pessoas realizassem, que o foi feito
em Bruxelas foi importante, mas só e apenas valerá a pena se os
Guineenses tiverem a capacidade de se entenderem e juntos implementar
o projecto. Refere que “o sucesso da Mesa Redonda só depende de
nós”, da nossa vontade de Fazer acontecer aquelas intenções.
Para
isso volta a relembrar a Paz e Estabilidade necessárias no País.
Eleva
mais a voz para chamar a atenção para as responsabilidades que
temos e para a importância de não desperdiçamos tempo e nem de
voltarmos a arrepiar caminho.
O
país e as pessoas merecem uma nova Guiné- Bissau. Uma Guiné-Bissau Positiva, onde todos possam coabitar, dentro da
respeitabilidade, sem olhar a sobrenomes, a etnias, sem privilégios
para alguns em detrimento de outros.
O
discurso volta para “situações” internas e fala de algumas
polémicas que estão a ser na ordem do dia, em particular o “caso“
da exploração da madeira, onde se diz estar seu nome envolvido.
Refere estar a ser atacado por alguns meios de comunicação,
nomeadamente “blogues”.
Em
minha consciência, considero ter sido este, o “pecado” do
discurso do Primeiro-Ministro. Dar a conhecer as injustiças,
ataques que tem sofrido, não implica que tenha de mencionar que meio
especifico é esse. E quando um chefe de governo aponta este facto,
está a dar visibilidade a um meio que, na minha opinião, não
merecia sequer ser mencionado.
Até
porque os responsáveis por cargos públicos, têm a noção que não
estão imunes a críticas. Não são perfeitos e a crítica é
sinónimo de democracia, desde que seja construtiva. E devem estar
conscientes que há os meios de comunicação social que fazem bem o
seu papel (que é de informar), mas outros há também que de
comunicação social não têm nada, e visam apenas atacar, ofender e
levantar acusações, desestabilizar, incitar aos ódios etc…
Não
querendo eu desvalorizar a importância dos blogues, mas se alguns
blogues são de alguma forma responsáveis no tratamento da
informação, outros são “usados” por anónimos para atacarem
pessoas. Meios de comunicação que não têm a ética deontológica
da profissão, não informam com verdade, isenção e
responsabilidade, e não têm a mínima noção que a livre expressão
de opinião tem e deve ter limites. Estes meios de Comunicação
devem ser ignorados, e não se deve dar a importância que não têm.
Mas
sobre este assunto da comunicação social, meios de informação
etc… tenho reparado, que requer discussão, em particular na Guiné–Bissau, sob pena de não se distinguir no futuro onde começa a
informação e onde terminam os ataques. A Comunicação assume uma
importância de extrema relevância numa sociedade, mas constitui um
perigo quando mal usada. Deve fazer reflectir a todos, porque ninguém
está imune a este “perigo” de desinformação.
Se
entendermos que quem constrói o país são as pessoas, perceberemos
que antes de tudo as mentalidades devem ser “edificadas”.
Ao
contrário de mim, de ter considerado esta passagem no discurso menos
relevante, porque tudo que são ataques pessoais, com verdade, ou
inverdades, não me despertam especial atenção. Assumo no entanto
que o público estava bastante atento, correspondia com palmas como
que a dizer ao Primeiro-ministro “compreendemos o seu estado de espírito, estamos solidários consigo”.
E
continuou seu discurso, desafiando, se algum dia se se vier a
verificar indício de má gestão e de lesão ao estado, nesse dia se
submeterá ao julgamento popular. Caso contrário apela para que o
deixem trabalhar, que deixem trabalhar sua equipa, até porque tem
responsabilidades para com o povo que o elegeu.
Diz
estar preparado para “suportar”os momentos menos bons, até
porque o governo tem de ter a coragem de implementar medidas mesmo
que “impopulares” mas necessárias. As pessoas têm que perceber
que há regras, leis e devem ser respeitadas para fazer funcionar as
instituições.
Referencia
as medidas “impopulares“ que já foram tomadas, mal recebidas/compreendidas em alguns meios, mas que eram de facto necessárias.
Pausa…
para que os membros e representantes das associações e
individualidades expressarem as suas opiniões, de apresentarem as
preocupações, dificuldades que a comunidade na Diáspora se
confronta em vários domínios: desemprego, saúde, junta médica,
documentação, as dificuldades que as embaixadas enfrentam para
servir condignamente os seus cidadãos etc…
O
Primeiro–Ministro ouviu atentamente cada uma das intervenções.
Tomou nota das preocupações levantadas.
Retoma
a palavra, e em jeito de síntese, vai passando pelas respostas e
também vai dando alguns exemplos de que em alguns assuntos
levantados, vários, já estão a ser analisados. Portanto conhece e
reconhece as dificuldades da Diáspora no momento, mesmo que lhe
falte alguns temas, o deputado da Diáspora na Assembleia Nacional
Popular, não o fará esquecer com certeza!
Uma
das preocupações levantadas é o regresso ao país. Neste ponto ele
entende, que tem de ser um regresso concertado/pensado. E o
governo vai trabalhar no sentido que visa contemplar toda a Diáspora
onde os guineenses estão representados a regressar, mas numa
estratégia bem estruturada.
Apelou
à consulta da página electrónica do Governo, para acompanhar
informações actualizada
Como
várias perguntas são de foro social, diz que a área da segurança
social é um dos assuntos que faz parte da sua agenda, como
prioridade.
Também
as embaixadas, as nossas representações diplomáticas também estão
a merecer uma atenção especial da sua parte e seu elenco.
Sendo
as embaixadas a extensão de um país, merecem que as estruturas
sejam condignas para que as pessoas sejam bem tratadas com respeito e
dignidade. As nossas diplomacias devem ser eficientes e eficazes para
que irem encontro das necessidades da comunidade. É nesse sentido
que vamos trabalhar.
Assim
como começou, o Primeiro-Ministro termina e dirige um apelo à
união de todos, à envolvência de todos, porque todos são
necessários para a construção da “Guiné Positiva”, todos são
necessários, cada um à sua medida para o desenvolvimento do País.
Assim
como começa, também termina, visivelmente emocionado quando se
refere a si como sendo o mesmo homem que era antes de ser Primeiro –
Ministro. Com mais responsabilidades, é certo. Mas o mesmo homem que
tem os mesmos hábitos, gosta e faz as mesmas coisas de antes. Com a
mesma vontade de estar e chegar a todos, mesmo que essa
disponibilidade seja agora mais limitada.
O
encontro foi positivo, foi esta a minha percepção dos comentários
que vieram da assistência. As perguntas com as preocupações do público
foram logo no início dissipadas e respondidas pelo chefe do
governo. É caso para dizer: mal seria se os nossos representantes
não tivessem a sensibilidade de perceber como vai o país e as
pessoas do país que representa.
O
Hino Nacional fez uso da sua função. Unir as pessoas na despedida.
Porque
no fim Guiné- Bissau e seu povo 1º
Amelia
Costa Injai (ACI), Abril 2015
Guineense
Gestora
Bancária
Licenciada
em Ciências da Comunicação e Cultura
Formação
Gestão e liderança