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Joseph Pulitzer

quinta-feira, 30 de abril de 2015

" Entre Nos Ku Nos "

“O Estado somos nós todos. Sempre que o estado perde somos nós todos que perdemos“.


Quis o destino que 18 de Abril, fosse o primeiro encontro do 1º ministro Guiné Bissau com a comunidade Diáspora residente em Portugal.
Coincidência, porque como todos se devem lembrar foi neste mês de Abril, dia 13 o dia em que os guineenses foram chamados à urna; foi data em que cada pessoa caminhou pelo seu pé, com esperança nos passos e futuro na caneta e, riscou uma cruz onde entendeu em consciência. Nas eleições reconhecidas como livres, justas e transparentes.

Nove meses passaram após a tomada de posse do governo do Engº Domingos Simões Pereira, em contagem decrescente, com o ponteiro do relógio a contar desde o primeiro dia em que, na tomada de posse a Primeiro- Ministro considerou que, “ hoje começa a tocar, no sentido regressivo o relógio para, num período de quatro anos, mudarmos a sorte e o destino desta Nação”.
A sala do ISG - Instituto Superior de Gestão do Grupo Lusófona era pequena, para tanta afluência. Lugares sentados todos ocupados, os espaços vazios de passagem serviram para acomodar os que, mesmo no desconforto, preferiram ouvir o que governo tem feito e pretende fazer para a sua pátria amada, terra ”ku no junta”, o que o Primeiro- Ministro tem a dizer sobre o que o povo pode esperar para os 3 anos e meio que ainda faltam de governação, de uma legislatura de 4 anos em que o programa foi orientado para três fases:

- Programa urgência

- Programa de contingência

- Programa de Desenvolvimento

Porque todo o encontro também é uma oportunidade de partilha, convívio não podiam faltar momentos de diversão, Dr. Eddy Sousa dos Santos abre a sessão e faz apresentação dos momentos culturais que seguem:

Começamos por visionar um vídeo alusivo ao país. Um filme “Uma Nova Cara da Guiné-Bissau”. Um filme bem conseguido: a primeira imagem que salta a vista é das nossas paisagens e, quando os primeiros sons soltam, é a voz de uma professora numa sala de aula, sob o olhar atento das crianças. Depressa se compreende que é da responsabilidade dos adultos proporcionar condições às crianças dar-lhes conhecimento, porque elas constituem um estímulo para a tal construção do País moderno assente na educação.

Pelo filme percebemos que fomos abençoados pela Natureza, a nossa biodiversidade que muito o governo tem promovido é a diferença que nos distingue dos outros países, a nossa identidade e nossa vaidade.

E se” Terra Ranka “ caminho também “lundju inda”, temos muito trabalho pela frente. Os pés da palmeira de “Tchebem “ não enganam, mostram a dificuldade, mas também a vontade de chegar longe, esta passagem do filme arrancou aplausos.

Mesmo as pernas “longas“ do personagem – nação a subir a palmeira não fizeram chegar mais depressa, era de facto muito longa a subida. Requer tempo, vontade e paciência.

Assim também deve ser entendido o país.

A Karina Gomes acompanhada pelo músico Ibrahima Galissa cantou e encantou ao som mágico do instrumento Kora, como sempre protagoniza um bom momento de interacção com o público. Cria o diálogo à volta do papel importante que a mulher desempenha e representa na sociedade. A importância das Mulheres como mães, mulheres, esposas, e donas de casa. A importância delas na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

Netos di Gumbé, grupo de dança, vestidos a rigor com trajes típicos da nossa terra, animaram o público, que se deixou “levar” pelo momento, mas não esquecido do que os levou àquele espaço.

E talvez por isso se começou a verificar sinais de impaciência. Algum ruído de fundo de protesto, acusava à ansiedade pela espera de ver o Responsável de Governo chegar.

E como o relógio é o tempo, e como o tempo também não para (e até exige), o Primeiro-Ministro chega às instalações sob fortes aplausos e encontra-se com a comunidade guineense em Portugal, com objectivo de a envolver na nova dinâmica que se exige, um novo ciclo necessário e uma nova oportunidade que se abre e não se deve desperdiçar que segundo o Primeiro–Ministro a todos deve orgulhar constituindo um dever de todos, em participar e contribuir.

Até porque se ponteiro do relógio não para, o tempo esse não perdoa!

Visivelmente emocionado, postura firme, voz eloquente agradece a presença de todos os guineenses e amigos da Guiné Bissau.

Porque um Primeiro- Ministro que quer e já vê o país “iluminado”, ”Sol na iardi”, porque “Terra Ranka”, não pretende que seja ele sozinho a ver essa “luz” e sentir esse “calor”. Com a sua primeira intervenção passou calor a todos. Os ânimos depressa se acalmaram dando lugar a entusiasmo e palmas. E depressa os sinais de impaciência passaram a ser coisa de passado.

O Primeiro- Ministro neste primeiro discurso entre o Kriolo e Português, começou por falar da forma como foi pensada e preparada a visão estratégica a apresentar em Bruxelas. Reconheceu o sucesso porque conseguiram mobilizar várias sensibilidades, transversal a toda sociedade nacional e internacional e definir um projecto que reuniu o maior consenso possível e que resultasse num documento forte e consensual, onde reflectisse, a visão estratégica e plano operacional do desenvolvimento sustentável pretendido para Guiné- Bissau, assente em 5 grandes áreas de intervenção. Mas projectada em duas fases de diferentes períodos, “TERRA RANKA” 2015 -2020 e “SOL NA IARDI” 2020 – 2025 “:

1 – PAZ E GOVERNAÇÃO

2 - BIODIVERSIDADE E CAPITAL HUMANO

3 - INFRA- ESTRUTURAS E DESENVOLVIMENTO URBANO

4 - DESENVOLVIMENTO HUMANO

5 - AMBIENTE NEGÓCIOS

E essa envolvência resultou no sucesso que foi à Mesa Redonda de Bruxelas, a 25 de Março 2015.

Durante horas Guiné- Bissau foi o centro das atenções, pelo lado positivo. Segundo o Primeiro-Ministro (os números não enganam), dos 70 países que fizeram parte, 45 tomaram palavra, e mostraram interesse em colaborar no desenvolvimento do país.

O feedback foi positivo , diz o Primeiro–Ministro, as palavras elogiosas para o país e seu povo foram encorajadoras. Ele sentiu e ouviu a intenção da Comunidade Internacional voltar a ter A Guiné-Bissau na sua agenda.

Era visível o orgulho nos olhos das pessoas, a esperança no bater forte das palmas. O Primeiro - Ministro fez uma pausa para sentir o momento, mas logo fez com que as pessoas realizassem, que o foi feito em Bruxelas foi importante, mas só e apenas valerá a pena se os Guineenses tiverem a capacidade de se entenderem e juntos implementar o projecto. Refere que “o sucesso da Mesa Redonda só depende de nós”, da nossa vontade de Fazer acontecer aquelas intenções.

Para isso volta a relembrar a Paz e Estabilidade necessárias no País.

Eleva mais a voz para chamar a atenção para as responsabilidades que temos e para a importância de não desperdiçamos tempo e nem de voltarmos a arrepiar caminho.

O país e as pessoas merecem uma nova Guiné- Bissau. Uma Guiné-Bissau Positiva, onde todos possam coabitar, dentro da respeitabilidade, sem olhar a sobrenomes, a etnias, sem privilégios para alguns em detrimento de outros.

O discurso volta para “situações” internas e fala de algumas polémicas que estão a ser na ordem do dia, em particular o “caso“ da exploração da madeira, onde se diz estar seu nome envolvido. Refere estar a ser atacado por alguns meios de comunicação, nomeadamente “blogues”.



Em minha consciência, considero ter sido este, o “pecado” do discurso do Primeiro-Ministro. Dar a conhecer as injustiças, ataques que tem sofrido, não implica que tenha de mencionar que meio especifico é esse. E quando um chefe de governo aponta este facto, está a dar visibilidade a um meio que, na minha opinião, não merecia sequer ser mencionado.

Até porque os responsáveis por cargos públicos, têm a noção que não estão imunes a críticas. Não são perfeitos e a crítica é sinónimo de democracia, desde que seja construtiva. E devem estar conscientes que há os meios de comunicação social que fazem bem o seu papel (que é de informar), mas outros há também que de comunicação social não têm nada, e visam apenas atacar, ofender e levantar acusações, desestabilizar, incitar aos ódios etc…

Não querendo eu desvalorizar a importância dos blogues, mas se alguns blogues são de alguma forma responsáveis no tratamento da informação, outros são “usados” por anónimos para atacarem pessoas. Meios de comunicação que não têm a ética deontológica da profissão, não informam com verdade, isenção e responsabilidade, e não têm a mínima noção que a livre expressão de opinião tem e deve ter limites. Estes meios de Comunicação devem ser ignorados, e não se deve dar a importância que não têm.

Mas sobre este assunto da comunicação social, meios de informação etc… tenho reparado, que requer discussão, em particular na Guiné–Bissau, sob pena de não se distinguir no futuro onde começa a informação e onde terminam os ataques. A Comunicação assume uma importância de extrema relevância numa sociedade, mas constitui um perigo quando mal usada. Deve fazer reflectir a todos, porque ninguém está imune a este “perigo” de desinformação.

Se entendermos que quem constrói o país são as pessoas, perceberemos que antes de tudo as mentalidades devem ser “edificadas”.

Ao contrário de mim, de ter considerado esta passagem no discurso menos relevante, porque tudo que são ataques pessoais, com verdade, ou inverdades, não me despertam especial atenção. Assumo no entanto que o público estava bastante atento, correspondia com palmas como que a dizer ao Primeiro-ministro “compreendemos o seu estado de espírito, estamos solidários consigo”.

E continuou seu discurso, desafiando, se algum dia se se vier a verificar indício de má gestão e de lesão ao estado, nesse dia se submeterá ao julgamento popular. Caso contrário apela para que o deixem trabalhar, que deixem trabalhar sua equipa, até porque tem responsabilidades para com o povo que o elegeu.

Diz estar preparado para “suportar”os momentos menos bons, até porque o governo tem de ter a coragem de implementar medidas mesmo que “impopulares” mas necessárias. As pessoas têm que perceber que há regras, leis e devem ser respeitadas para fazer funcionar as instituições. 

Referencia as medidas “impopulares“ que já foram tomadas, mal recebidas/compreendidas em alguns meios, mas que eram de facto necessárias.

Pausa… para que os membros e representantes das associações e individualidades expressarem as suas opiniões, de apresentarem as preocupações, dificuldades que a comunidade na Diáspora se confronta em vários domínios: desemprego, saúde, junta médica, documentação, as dificuldades que as embaixadas enfrentam para servir condignamente os seus cidadãos etc…

O Primeiro–Ministro ouviu atentamente cada uma das intervenções. Tomou nota das preocupações levantadas.

Retoma a palavra, e em jeito de síntese, vai passando pelas respostas e também vai dando alguns exemplos de que em alguns assuntos levantados, vários, já estão a ser analisados. Portanto conhece e reconhece as dificuldades da Diáspora no momento, mesmo que lhe falte alguns temas, o deputado da Diáspora na Assembleia Nacional Popular, não o fará esquecer com certeza!

Uma das preocupações levantadas é o regresso ao país. Neste ponto ele entende, que tem de ser um regresso concertado/pensado. E o governo vai trabalhar no sentido que visa contemplar toda a Diáspora onde os guineenses estão representados a regressar, mas numa estratégia bem estruturada.

Apelou à consulta da página electrónica do Governo, para acompanhar informações actualizada

Como várias perguntas são de foro social, diz que a área da segurança social é um dos assuntos que faz parte da sua agenda, como prioridade.

Também as embaixadas, as nossas representações diplomáticas também estão a merecer uma atenção especial da sua parte e seu elenco.

Sendo as embaixadas a extensão de um país, merecem que as estruturas sejam condignas para que as pessoas sejam bem tratadas com respeito e dignidade. As nossas diplomacias devem ser eficientes e eficazes para que irem encontro das necessidades da comunidade. É nesse sentido que vamos trabalhar.

Assim como começou, o Primeiro-Ministro termina e dirige um apelo à união de todos, à envolvência de todos, porque todos são necessários para a construção da “Guiné Positiva”, todos são necessários, cada um à sua medida para o desenvolvimento do País.

Assim como começa, também termina, visivelmente emocionado quando se refere a si como sendo o mesmo homem que era antes de ser Primeiro – Ministro. Com mais responsabilidades, é certo. Mas o mesmo homem que tem os mesmos hábitos, gosta e faz as mesmas coisas de antes. Com a mesma vontade de estar e chegar a todos, mesmo que essa disponibilidade seja agora mais limitada.

O encontro foi positivo, foi esta a minha percepção dos comentários que vieram da assistência. As perguntas com as preocupações do público foram logo no início dissipadas e respondidas pelo chefe do governo. É caso para dizer: mal seria se os nossos representantes não tivessem a sensibilidade de perceber como vai o país e as pessoas do país que representa.

O Hino Nacional fez uso da sua função. Unir as pessoas na despedida.

Porque no fim Guiné- Bissau e seu povo 1º




Amelia Costa Injai (ACI), Abril 2015

Guineense

Gestora Bancária

Licenciada em Ciências da Comunicação e Cultura

Formação Gestão e liderança


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