Na verdade o desenvolvimento do turismo na Guiné-Bissau, como em qualquer outro País, implica a produção de dois documentos essenciais. O primeiro é um Plano Nacional de Turismo e, o segundo, um Plano Operacional.
Enquanto
o primeiro tem como objetivo geral a definição das grandes opções
para o setor, o segundo procurará identificar as metodologias de
trabalho, os meios, os instrumentos de ação, o quadro financeiro e
as medidas a considerar.
No entanto, importa sublinhar que a
importância do turismo, enquanto dinamizador do crescimento
económico e social reside, fundamentalmente, no volume de emprego
que gera e utiliza e, sobretudo, na extensão e diversidade de
atividades económicas nacionais, regionais e locais que envolvem
nomeadamente os transportes e as comunicações, a construção civil
e o saneamento, as indústrias alimentares e o ambiente, o comércio,
o mobiliário, o têxtil, entre outras.
Da
mesma forma, o turismo é considerado o elemento decisivo a para a
promoção e melhoria dos recursos naturais, patrimoniais, culturais
e ambientais dos Países com condições propícias para o efeito.
Neste processo, as diversas Estruturas e Instituições Públicas, ao
nível dos normativos e da segurança e, fundamentalmente, na
programação e execução das infraestruturas, não podem ficar de
fora. Note-se que, com esforço e opções consistentes, alguns
países de África têm conseguido transformar o turismo num setor
com alguma relevância.
Dados
da Organização Mundial do Turismo indicam que a África consegue
atrair só 4% dos fluxos internacionais e, destes, as chegadas ao
Quénia e Botswana, em conjunto, representam 13% do total, as
Maurícias 3% e a Namíbia 2%. Estes números são relevantes para se
perceber o esforço que importa realizar e os objetivos passíveis de
alcançar.
Como
antes se referiu, é absolutamente necessário estabelecer o quadro
geral em que o turismo se irá desenvolver. O ponto de partida é o
reconhecimento de que o turismo é uma atividade produtiva e que se
pretende seja compensadora dos desiquilíbrios económicos.
Por
outro lado, se é aceitável que o turismo é uma atividade
eminentemente privada, ele, todavia, necessita de construir um quadro
de desenvolvimento e definir uma regulação clara, de preferência
flexível e adaptável às realidades. Se é certo que o Plano
Nacional do Turismo é um documento relativamente curto, ele é o
resultado de uma intensa discussão com as autoridades públicas,
dado que é a elas que compete escolher as políticas para o setor.
Neste
quadro geral, importaria:
-
Definir os parâmetros de atuação do setor público no Turismo
-
Apontar os objetivos claros e as estratégias a considerar, ou seja, as opções e as prioridades dessa atividade
-
Definir os princípios orientadores das políticas
-
Identificar as áreas chave
-
Apontar os meios a desenvolver pelo Estado, nomeadamente as infraestruturas
-
Referir as medidas estratégicas a promover
-
Avaliar algumas perspetivas de ação
Sobre
este tipo de Plano, existente em vários países europeus e
africanos, percebe-se a sua importância tendo em consideração que
será com base nele que um vasto quadro de diplomas legais terão de
ser produzidos, que vai desde o quadro de oferta hoteleira que se
pretende permitir, até à formação que se deve implementar. Assim,
é importante e necessário ponderar a produção do Plano
Operacional de Turismo.
Certamente
que os cidadãos da Guiné-Bissau e os seus dirigentes concordam no
interesse turístico de muitos recursos, embora a maior parte
reconheça que as estruturas estão mal preparadas para receberem
fluxos de visitantes apreciáveis. Por outro lado, segundo dados do
próprio Ministério do Turismo, as chegadas de turistas ao país é
baixa, admitindo-se que algumas das entradas, como acontece em todo o
lado, possam corresponder a declarações de oportunidade ou mesmo
nacionais regressados por tempo limitado.
Chegada
dos Turistas no Aeroporto Osvaldo Vieira (2007)
-
ContinentesChegadasAmérica1.119Ásia2.495Europa4.285África7.694TOTAL15.593
Fonte:
Ministério Turismo Guiné-Bissau
Também
a oferta hoteleira está bastante concentrada, é muito limitada e de
qualidade muito desigual. Alguns exemplos, os hotéis existentes
concentram-se especialmente em Bissau (Hotel Ancar, Hotel Azalai,
Hotel Malaika, Coimbra Hotel e Spa e Lisboa Bissau, etc…), em
Bubaque (Hotel Lodge Ponta-Anchaca e Hotel Kasa Africana) e em Varela
(Le Mirage / Les Alises / Le Cap Ocean / Aparthotel Chez Helene).
Embora
sem chegar ao detalhe e com uma nota de otimismo, foi esta situação
que o chamado Relatório Nacional descreveu em maio de 2012,
documento produzido para a Cimeira Rio+20 (Cimeira Mundial sobre o
Desenvolvimento Sustentável). Nele reconhecia-se o potencial do
Turismo e referia-se a construção de alguns dos empreendimentos no
Arquipélago dos Bijagós e em Varela acima referidos. Mas o país
necessita sempre de um documento em que se indiquem os tipos e níveis
de oferta hoteleira que os privados podem promover.
Entretanto,
todos os que trabalham no setor sabem reconhecer os recursos naturais
e culturais existentes na Guiné-Bissau. Só para dar um exemplo, os
fortes de São José da Amura (começou a construção em 1696) e do
Cacheu (iniciou os trabalhos em 1588) são verdadeiras etiquetas de
belas e valiosas estruturas do país. Mas de referência à escala
mundial são as áreas naturais (fauna, flora e habitats), algumas
das quais já classificadas pelo estado; são parques naturais e
nacionais os seguintes: Parque Natural das Lagoas de Cufada, Parques
Nacionais de Dulombi-Boé 1 e 2 / Parque Nacional das Florestas
Castanhez / Parque Nacional do Grupo de Ilhas de Orango / Parque
Nacional Marinho João Vieira e Poilão / Parque Nacional Varela.
Estas
áreas acolhem espécies faunísticas de todos os tipos, estruturam
habitats precisosos e plantas de grande valor conservacionista. Um só
exemplo refere-se às 5 espécies de tartarugas que “visitam” as
áreas costeiras e destas, na ilha de Urok, são comuns as
tartarugas-marinhas.
Todavia,
apesar de todos estes recursos naturais, a pretensão das autoridades
da Guiné-Bissau junto da UNESCO, em 2006, para integrar o
Arquipélago dos Bijagós como Reserva da Biosfera foi mal sucedida.
É indispensável retomar este processo.
Com
estes elementos, precebem-se melhor os objetivos do Plano Operacional
do Turismo. Como se compreende, a primeira atividade a realizar é um
diagnóstico da situação existente. Numa fase posterior, importa
levantar e avaliar os recursos existentes, discutir com as
autoridades as opções a tomar e elaborar depois o Plano
Operacional.
Para
que um diagnóstico desse tipo possa ser eficaz, o trabalho
realiza-se a diferentes níveis:
-
Recolha da informação nacional existente no Ministério do Turismo e, eventualmente, em alguns arquivos;
-
Recolha da informação em países outros e junto de organizações internacionais, incluindo alguns websites (Banco Mundial, Organização Mundial do Turismo, entre outros);
-
Deslocações e reconhecimento do terreno em alguns locais para validar a informação recolhida;
-
Reuniões no terreno com interessados, do setor público e privado.
Assim,
a realização do diagnóstico da situação referido incluirá:
-
Caracterização geral física do território e das regiões;
-
Caracterização económica e social;
-
Identificação e caracterização das Infraestruturas;
-
Rede elétrica e seus pontos fracos;
-
Rede de esgotos;
-
Rede de distribuição de águas e seu eventual tratamento;
-
Rede de saúde, nomeadamente hospitalar;
-
Rede de Transportes (estudo separado) - Levantamento das estruturas turísticas existentes;
-
Hotelaria;
-
Restauração;
-
Estruturas de informação existentes;
-
Estruturas: Agência nacional / Planos e legislação sectorial, etc.;
-
Formação existente;
-
Identificação do potencial turístico;
-
Património natural em geral;
-
Património cultural;
-
Artesanato e práticas tradicionais;
-
Valores imateriais (música, teatro popular, histórias e lendas, etc.).
Feito
este diagnóstico e depois de reconhecimentos locais e das reuniões
e discussões com as autoridades e outros interessados tornar-se-á
possível a elaboração do plano operacional que conterá:
-
A indicação das necessidades de formação nos diferentes níveis;
-
A apresentação de modelos de organização para o setor;
-
A cartografia dos recursos e a sua avaliação;
-
A situação das questões relativas à certificação;
-
A identificação da produção normativa que importará providenciar;
-
A estrutura global da oferta a considerar (hotelaria e restauração);
-
O aconselhamento sobre a retoma do processo da candidatura à UNESCO;
-
Os modelos de financiamento a envolver;
-
Os objetivos do plano devidamente quantificados;
Entende-se
que o desenvolvimento cadenciado e faseado de algumas das medidas
aqui apresentadas, a par de um conjunto de medidas de requalificação
urbana e de melhoramento das infraestruturas rodoviárias e dos
transportes, vão criar as condições necessárias de
sustentabilidade da sociedade guineense num quadro de alteração da
situação prevalecente e de maior modernidade que trará uma mudança
essencial na forma como o País passará a ser percebido por quem o
visitar.
Ainda
danificada pelas guerras civis e inquietação que marcaram sua
história, a capital Bissau é uma cidade a meio da reconstrução.
No entanto, a Guiné-Bissau tem condições para se constituir como
um ponto de atração cultural e turístico e simultaneamente de
motor do desenvolvimento da economia.
Julgo
que é cada vez mais importante pensar a fileira do turismo como
fator de desenvolvimento sustentável do País.
Lisboa,
03 de Setembro de 2014.
Luís
Vicente
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