A Guiné-Bissau "não pode dar-se ao luxo de continuar em instabilidade", porque não existem recursos internacionais "para continuar indefinidamente a financiar um regime de transição", advertiu o representante da ONU José Ramos-Horta.
Após um encontro quarta-feira com o presidente do conselho de administração da agência Lusa, em Lisboa (Portugal), o ex-chefe de Estado de Timor-Leste falou sobre a situação na Guiné-Bissau, onde exerce funções actualmente, como representante do secretário-geral das Nações Unidas.Rejeitando "dramatizar declarações da entidade a, b ou c", Ramos-Horta foi, no entanto, claro na mensagem: a actual situação política na Guiné-Bissau "é inaceitável", tanto para os guineenses, como para a comunidade internacional.
Nesse sentido, todos os dirigentes guineenses têm de "medir bem as palavras" e "procurarem entender-se, trabalharem juntos afincadamente", para estabilizar o país, vincou.
"A Guiné-Bissau precisa do apoio da comunidade internacional e, para que esse apoio venha, os políticos guineenses, incluindo os militares, têm que se entender e contribuir para apaziguar os ânimos e não para exacerbar as tensões", sustentou Ramos-Horta, que visitou a sede da agência de notícias portuguesa.
"Estamos em pleno século XXI, a Guiné-Bissau não pode dar-se ao luxo de continuar em instabilidade, porque a comunidade internacional, incluindo a regional, não tem recursos para continuar indefinidamente a financiar um regime de transição", avisou o representante das Nações Unidas.
Só num contexto de estabilidade será possível garantir financiamento internacional para depois das eleições,
período que Ramos-Horta antecipa de "maior dificuldade", nomeadamente na formação do governo.
"Quem vai ser primeiro-ministro?, quem vai ser presidente da República? Têm que ser pessoas que saibam unir o povo, que saibam fazer pontes, sarar as feridas e levar a Guiné-Bissau para a frente", defendeu.
Sobre o orçamento definitivo para a realização das eleições gerais na Guiné, agendadas para 24 de Novembro, Ramos-Horta continua a não dispor de "números precisos".
Confirmando que deverá rondar, "mais ou menos", os 13 a 15 milhões de dólares, Ramos-Horta disse que o orçamento ainda está a ser definido pelas autoridades guineenses e pelas Nações Unidas.
A concretização do montante "é urgente" para "mobilizar o financiamento necessário", reconheceu, confirmando que, até este momento, foram canalizados apenas três milhões de euros, "nem sequer um terço do que é necessário".
Reconhecendo "a grande demora" e os "atrasos" no processo, o representante das Nações Unidas responsabiliza os políticos guineenses por "não conseguirem chegar a acordo", enumerando alguns exemplos: o governo de inclusão prometido para Abril só se concretizou em Junho; ainda estão a ser debatidas emendas à lei eleitoral; e o processo de recenseamento ainda não começou.
"Estamos a trabalhar contracorrente para cumprir o prazo, a data das eleições, para não defraudar os próprios guineenses", vincou.
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