(Em Julho 2009) Não! Não declinemos a nossa responsabilidade!
Não! Não declinemos a nossa responsabilidade!
Infelizmente, na história deste nosso pequeno país, quando chega a hora da verdade, da assunção da responsabilidade individual e colectiva, verificamos a habitual displicência e o sintomático desinteresse pela causa nacional, sobrepondo-se os interesses pessoais e localizados em presença.
Aqui chegados: Malam ou Kumba?
Uma questão que, no âmago do pensar guineense, nunca deveria suscitar dúvidas, ainda que nos sintamos, de novo, defraudados e aspirantes de vingança colectiva.
No aprendizado deste país, na vontade eleitoral expressa e expressiva na paz e estabilidade, poderão existir dúvidas?
Um lamento para os que se recusam a ser consequentes!
Esta dura e crua realidade, obriga-nos diariamente a esforços introspectivos de adivinhar o futuro, situarmo-nos no presente e repudiar o passado.
Fase ao incipiente senso comum, pecamos permanentemente na falha da memória colectiva, vejamos:
• A história mal contada da morte de Amílcar Cabral, permitiu-nos celebrar o 14 de Novembro e o “anti-cabuernandade”;
• As primeiras eleições realizadas no país, permitiu-nos celebrar a corrupção e a ditadura de Estado e o anti-burmedjundade;
• O conflito armado permitiu-nos celebrar as nossas divergências;
• As eleições de 2000, permitiu-nos celebrar as nossas clivagens étnicas, o desnorte e o revanchismo;
• As presidenciais de 2005, permitiu-nos celebrar o retrocesso histórico, a mediocridade, o oportunismo político;
• As legislativas de 2008, permitiu-nos celebrar o nosso descontentamento relativamente ao status quo político e a nossa esperança;
• A primeira volta das presidenciais antecipadas de 2009, permitiu-nos celebrar o absentismo, o desencanto, a frustração e o cepticismo.
Porém, a finda primeira volta atira-nos à cara a nossa riqueza humana:
• somos animistas, muçulmanos e cristãos;
• somos analfabetos, bideiros, funcionários públicos, desempregados e doutores;
• somos do mato, da tabanca, da imigração e da praça;
• somos fulas, balantas, mandingas, manjacos, mancanhes, bijagós, flupes, beafadas, etc, e burmedjos.
Somos os únicos nesta África Ocidental, para não dizer que em toda a África não existe nenhum outro povo que, com esta diversidade humana e cultural, esteja localizado nuns parcos km2, configurando o seu Estado/Nação.
Somos a República da Guiné-Bissau: por um lado, desestruturada, violenta e promíscua; pelo outro, clemente, amistosa e promissora.
E agora?
Vêm aí a segunda volta das impostas e constitucionais presidenciais.
O interessante é que, nesta amálgama, continuamos humildes e crentes!
Vejam o apregoado civismo eleitoral: exemplar!
Por isso, ainda que não aparente, o optimismo persiste!
É a nossa natureza!
Persiste o optimismo na nossa luta do dia-a-dia, no olhar sorridente das nossas crianças, previdente das nossas mulheres e promissor dos jovens, aquelas e estes os maiores votantes! Persiste na nossa convicção de que não pode ser pior, e na nossa certeza de que temos potencialidades!
Mas, não há bela sem senão!
É certo que a tristeza toma o nosso ser: pela incerteza dos intelectuais, pela miséria de espíritos e princípios, pela incoerência das nossas almas.
Pasmados pelas mortes, consternados com a impunidade, desejosos de justificações, contemplamos, anestesiados!
Não nos serve de escusa a formação de outras nações, ainda que heterogéneas como a nossa!
Nem nos vale saber que Kennedy foi assassinado em Dallas, aos olhos de todos! A maior das Nações!
Nem nos vale saber que na contemporaneidade Nações se separaram digladiando-se por questões étnicas!
Nem nos vale conhecer os métodos eficientes e eficazes das máfias da droga!
Somos pela dignidade da pessoa humana, e é isso o que interessa!
Somos pelo Estado de Direito, a constitucionalidade, a democracia!
Uns sentem e toca-lhes a barbárie, outros, a maioria, tanto se lhes faz!
(montagem c.f.) |
Este o paradigma!
Esta a miscelânea da consciência axiológica colectiva!
Esta a realidade dura e crua!
Por isso, toco o bombolom, assopro o chifre, toco o sino, a buzina, a campainha, para antecipar festejos insalubres e despertar essa consciência axiológica colectiva, cumprindo com a minha responsabilidade, que a falta de modéstia não me perdoa.
Certamente, que ainda não será desta!
Estamos à procura e temos que confeccionar o prato com os ingredientes que se nos oferece! Não há como não comer! Senão morremos de fome!
Só não vê quem não quer! E nem sequer vou utilizar o slogan que nos chega das ruas de Bissau: “ O mal menor!”
Queremos paz, queremos estabilidade, queremos justiça, queremos luz e água, queremos escola, queremos saúde! Enfim: queremos Estado!
Temos à nossa frente a escolha da magistratura suprema da Nação. São 5 anos, que queremos ver sem interrupções, como muitos já escreveram:
Chega de mandatos populares seringados.
Que não nos abandone a nossa fé, as nossas crenças!
Que oiçamos os nossos cantores e os nossos sedentos locutores das rádios nacionais!
Que sintamos a nossa essência conturbada!
Que não, que em circunstância alguma, abandonemos a Guiné, porque, isso sim, seria abandonarmo-nos a nós próprios!...
Finalmente, e, agora, Guiné, sendo o passado já passado, aquele não volta mais, qual o presente que queremos para, sobre ele, construirmos o nosso futuro? Individual e colectivo!
Plenamente de acordo.
ResponderEliminarNenhum estado sobrevive ao permanente adiar dos anseios do povo, ainda por cima, se os que tanto prometeram tanto faltaram.
Um desejo de Paz e solução para o povo que aprendi a gostar.