REVISTA O MILITANTE
Edição Especial da Revista Oficial do PAIGC
A presente edição d”O Militante” está quase integralmente dedicada à celebração do 19 de Setembro, data em que Amílcar Cabral e seus companheiros fundaram em Bissau, o PAIGC. Hoje, há escritos que pontificam reservas sobre a existência de uma data e de um evento específicos que ditaram a fundação do partido. Mas ninguém questiona o ano de 1956 como o início formal da existência de um certo PAI que mais tarde assumiria a roupagem geográfica de Guiné e Cabo Verde para se distinguir de outra formação com a mesma sigla no Senegal.
São portanto 59 anos de existência para o PAIGC, que na sua evolução histórica de movimento de libertação a partido político já soletrou toda a cartilha de identidade e afirmação. Começou na clandestinidade e enfrentou os riscos da mobilização num espaço urbano tão restrito como era Bissau; seguiu para Dakar aonde se fermentou enquanto entidade política e principal movimento para a libertação e, chegou a Conakry já pronto para o início da luta armada. Para trás e no percurso ficaram lugares e encontros muito diversos, como Lisboa, Argel, Túnis, Roma, etc.
Foram anos muito difíceis, mas a clareza do pensamento e a linha ideológica (unidade e luta e a arma da teoria) definidas por Amílcar Cabral asseguraram uma estratégia capaz de conduzir à conquista da liberdade e proclamação do Estado independente. O PAIGC logrou um feito histórico sem precedentes ao conquistar a autodeterminação e a independência de dois países, separados por tantas milhas náuticas e uma grande diferença de cultura e identidade. Este desempenho extraordinário teve no entanto custos exorbitantes. Desde logo porque ceifou a vida de mulheres e homens de elevada dimensão e estatura política e nem poupou a do seu próprio líder e visionário. De tal forma que, as etapas seguintes da construção do Estado da Guiné-Bissau, um dos seus objectivos primordiais, acontecem num ambiente de muita indefinição e uma convulsão interna quase permanente. Tal como Amílcar já havia diagnosticado, a capacidade e propensão para a autodestruição, normalmente expressa através da traição e intrigas internas, começam a minar todos os pilares e fundamentos da unidade, tornam o partido cada vez mais frágil e este fica a mercê de interesses de grupos e de particulares.
Em 59 anos de vida e de luta, o PAIGC enfrentou desafios vários e conquistou importantes vitórias, tanto no campo da mobilização e na sua estruturação interna assim como na diplomacia activa e na sua afirmação pelo mundo. Mas, o PAIGC tem a cada momento de ser capaz não simplesmente de render homenagem e celebrar os seus feitos históricos, mas estar à altura dos desafios actuais e projectar o futuro com visão, confiança e optimismo, por forma sobretudo atrair e incorporar a nova geração de jovens, capazes, dedicados e nacionalistas.
Hoje, os problemas são diferentes no nível e na sua sofisticação mas mantêm a mesma natureza: os maus, os “amontões”, os que não são do partido e simplesmente precisam do partido para a materialização dos seus intentos pessoais, farão tudo para o assaltar, para o fragilizar e para o derrotar. Usarão da mesma arma da intriga, da traição, do oportunismo e do golpe baixo pelas costas. A sua linguagem estará sempre virada a explorar as diferenças e fazer delas factores de divisão e de enfraquecimento do partido. Continuarão a reunir-se por todos os sítios (e nunca na sede do partido) na calada das noites e falarão das diferenças religiosas, étnicas, regionais, culturais, económicas, etc. Evocarão legitimidades de todas as origens e todos os argumentos servirão. Estarão dispostos a mentir, a caluniar e a matar se necessário para sustentar a sua tese macabra e divisionista para atrair simpatias e armar seguidores.
É pois esta a principal razão porque faz sentido a presente edição d”O Militante”. Para lembrar todo o percurso do partido e avivar nossas memórias sobre o sacrifício consentido, por mulheres e homens desta terra, para se chegar aos dias de hoje. Chamar atenção para o privilégio e a responsabilidade que são, pertencer ao PAIGC e pretender ser um herdeiro ideológico de Amílcar Cabral. Mobilizar a presente geração para uma nova luta e para desta feita erradicar a mentira e o “mom-mole”, abraçar os que se arrependerem de verdade e estiverem disponíveis a corrigir o seu erro, mas afastar os traidores e oportunistas. Porque, “fracassará toda a revolução que não tiver capacidade de se defender”.
Temos a obrigação de preparar a nação para a consolidação do optimismo realista que promete “com muito trabalho, com a projeção dos melhores e dos que têm mais mérito, com o combate à corrupção, irmos ter nos próximos anos um país de que se orgulhar e no qual todos queiramos viver”. O ano de governação do nosso partido, os avanços e realizações descritas num suplemento ao presente caderno, interrompido abruptamente por razões ainda verdadeiramente por confessar, serão retomados com mais pujança e maior determinação. Nada nos irá desviar nem nos distrair da nossa promessa de mobilização de todas as competências nacionais, a favor do bem-estar e o desenvolvimento da nossa terra. Esse é o legado e o compromisso que nos propuseram, Amílcar e os seus companheiros, quando a 19 de Setembro de 1956 decidiram pela criação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo-Verde.
Parabéns ao PAIGC, feliz aniversário e força camaradas.
Domingos Simões Pereira
Presidente do PAIGC.
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