COM O TEMPO UMA IMPRENSA CÍNICA, MERCENÁRIA, DEMAGÓGICA E CORRUPTA, FORMARÁ UM PÚBLICO TÃO VIL COMO ELA MESMO

Joseph Pulitzer

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O fim do começo!

Para se poder entender todo o clima hostil no relacionamento entre os dois mandatados do Povo que culminou com a demissão do governo, nada melhor que reflectir em primeiro lugar sobre a classe política que o país tem.

A falta de oportunidades no mercado do trabalho, a degradação social, cultural e económica, e a vida de luxo que os políticos ostentam, fizeram com que muita gente se enveredasse para a política. Vários partidos políticos fantoches e sem expressão surgiram, e deles só se ouve falar, nas eleições.
Os partidos políticos viram assim engrossar as suas fileiras de oportunistas, pretensos políticos, competindo desenfreadamente entre si, sem olhar a meios para atingir os fins. São homens sem escrúpulos, sem ideais, sem grandeza, talhados para ciclicamente organizarem o caos, por incompetência no exercício do poder. Uns autênticos sanguessugas que se alimentam da máquina governamental.
Estejam onde estiverem dividem-se em grupos de alcateias com afinidades tribais e interesses outros comuns. Move-os a calúnia e intrigas como forma de se auto-promoverem e de se sentirem mais próximos do almejado poder. Lamentavelmente, esses analfabetos políticos não conseguem entender, que o cerne de qualquer democracia é a convivência com a diferença.
O partido para eles serve apenas para negociatas. O modo de fazer política passou a ser negociar poderes, apoderando-se das lideranças, a todo o custo.
A corrupção tornou-se endémica e espalhou-se no aparelho estatal e por todo o país. As jogadas subterrâneas, a espiral de violência, e a luta fratricida pelo poder, passaram a fazer parte do quotidiano guineense.

Vive-se hoje uma total paralisia política, está instalado a politiquice e a idiotice. E onde não há política responsável, claro que medra a politicalha, que só alimenta a desordem e a instabilidade.
Esta geração de políticos à rasca está arruinando o país, não se entendem e nem a indignação nacional e internacional a harmoniza. Destilam veneno, rancôr, ódio, mágoa e ressentimentos uns contra os outros.

Infelizmente, aqueles a quem sempre recaíu o ónus da decisão na GB, salvo raríssimas excepções, têm com maior ou menor incidência, alinhado na baixa política, alimentando o tchutchi tchutchi, ainda característico em meios pequenos.

Registamos com alguma mágoa, que em pleno século XXI, a persistência da corrupção no seio estatal, a inexistência de sanções e outros factores nada abonatórios tenham sido o pomo da discórdia entre o PR e o PM.
Sendo ambos do PAIGC, as picardias entre o PR e o PM que poderiam ter sido resolvidas no seio do mesmo, dividiu ainda mais um partido já por si só moribundo, fragmentado em grupos, numa luta fratricida pelo poder. Um partido que precisa urgentemente de um novo Cassacá para promover uma reorganização interna e cortar as ervas daninhas pela raiz.
O PR destituiu o governo. Não me pronunciarei sobre os argumentos apresentados à Nação por nenhuma das partes. Gostaria, no entanto de deixar no ar o seguinte:
• Como é possível dar um passo de tal envergadura, sem sequer avaliar as consequências que tal passo terá no futuro?
• Como pode uma pessoa bem informada se deixar cegar por sua própria inconsequência política?
Um bom líder deve ser um modelo a ser seguido por todos. Tem que saber conquistar pelo exemplo e não pela imposição. Tem que saber honrar o cargo e respeitar as pessoas, qualquer que seja a sua condição.
Em momentos de conflito ou divergência, deve acolher todas as opiniões válidas, saber analisar os contraditórios, admitir os erros e cultivar a arte da reflexão e privilegiar o diálogo institucional.
Conduzir os destinos de uma nação, não é uma tarefa simples, mormente o da Guiné Bissau, é necessário antes de mais ser líder, e liderar não é para qualquer um. Um líder deve entender que nunca trabalha sozinho, deve entender que o sucesso dele depende em grande parte da capacidade de se respeitar e respeitar o outro, de reunir consensos em torno dos que colaboram com ele diariamente.
Sem querer apontar o culpado, até porque o consenso geral já o indicou, a queda do governo descredibiliza o país em todos os sentidos e já está a trazer prejuízos, cuja natureza e dimensão o tempo se encarrega de avaliar.

Entristecido com todo o circo mediático montado, o povo está farto de rastejar na lama e de viver numa democracia adulterada
É hora de os políticos guineenses se demarcarem de oportunistas, da baixa política, do tchutchi tchutchi.

(Otílio Camacho, 18/8/2015)

Sem comentários:

Enviar um comentário