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Joseph Pulitzer

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A verdade de um guineense

A minha verdade

Entre os Povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, não metas a colher. É preciso ler nas entrelinhas as declarações do comandante Pedro Pires. Para começar, em Cabo Verde existe Estado desde a abertura democrática. Mas já havia um Estado antes disso. Em Cabo Verde existe Estado. Um Estado soberano, crescido e, sobretudo, respeitado no mundo. De facto, o crescimento que Cabo Verde alcançou - apesar de todas as dificuldades e problemas que este País insular com 9 ilhas enfrenta - é simplesmente notável. Só na ilha de Santiago existem dezenas de fábricas funcionais, centenas de quilómetros de estradas abertas a pulso nas montanhas, todas alcatroadas. Não aquelas crateras que conhecemos...

Cabo Verde tem pouca água doce. Então, dessaliniza quase toda a água que é consumida no país. Outra coisa notável. Nós, que temos mais água que terra...andamos aos papéis. Não me doeu nem um pouco ver o desenvolvimento espectacular conseguido por este País. Muito pelo contrário, sinto um orgulho desmedido, e - devo confessar - alguma inveja, mas no bom sentido. Inveja por não termos, na Guiné-Bissau, essa visão de futuro. Inveja por não termos um só exemplo que nos empolgue. E raiva por nós, os guineenses, termos escolhido o caminho mais fácil - o das guerras intestinais, da calúnia, do ódio, da destruição, da matança gratuitas.

Para dar um exemplo, só na ilha de Santiago foram construídas 3 barragens, que, hoje mesmo, uma está a transbordar e as outras quase cheias - aliás, pode nem chover durante dois longos anos que haverá água doce para irrigar todos os campos e respectivas plantações!!! A isto chama-se trabalho. Que, lá está, leva ao desenvolvimento. Os cabo-verdianos uniram-se, as suas forças armadas são republicanas, obedientes ao poder político, e não andam aos tiros, sobressaltando a população, para tirar este ou aquele Governo ou impor este ou aquele Presidente. Não, caramba! É o Povo de Cabo Verde que escolhe quem quer para governar e para presidir os seus destinos. Ponto. Cabo Verde tem problemas graves como os crimes transnacionais, mas tem-no combatido, apesar das dificuldades.

O tráfico de droga, apesar de alguma falta de meios para cobrir nove ilhas e um zona marítima colossal, tem sido severamente combatido, e foi por várias vezes duramente atingido - dezenas de edifícios foram confiscados pelos tribunais em julgamentos mediáticos e reverteram todos a favor do Estado. Residências e viaturas de luxo e outros bens, também. Aliás, o moderníssimo edifício onde funciona o Estado Maior General das Forças Armadas é disso exemplo.

Em Cabo Verde, trabalha-se. Apesar das dificuldades, existe educação, a saúde funciona, há uma classe média exigente e um povo que sabe o que é Estado. As mulheres ocupam cada vez mais altos cargos na vida do País - da Assembleia Nacional aos municípios, do ensino à saúde, das empresas às áreas técnico-profissionais. As mulheres são, orgulhosamente, um força bastante considerável no desenvolvimento de Cabo Verde.

Na Guiné-Bissau, pura e simplesmente não existe Estado digno desse nome. Isto pode doer - e dói. A mim dói muito, imenso. Mas é a verdade. O comandante Pedro Pires, que foi membro do primeiro Governo da história da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, e depois primeiro-ministro e Presidente da República de Cabo Verde, apenas tocou na ferida. O que também doeu... AAS
 
(in: DC - 19/9/2013) 

(foto da net)

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