Repensar o nosso papel enquanto cidadãos
Hoje,
mais do que nunca, impõe-se que a participação cívica e política seja a
base para uma reforma séria e profunda do conceito Estado e nação
guineense. Por tudo o que tem acontecido na Guiné-Bissau, não fosse a
mera ausência de uma cidadania forte e exigente, talvez deveríamos
repensar o nosso papel enquanto cidadão, bem como a nossa capacidade de
analisar e compreender correctamente o exercício do poder.
Na
realidade, manifestamos as nossas angústias e projectamos a nossa
confiança no dia seguinte, mas esquecemos que talvez o momento é agora e
que tudo deverá ser feito agora, tendo como bases a educação, a
justiça, a organização e a disciplina. No entanto, só entendemos a
amplitude destes conceitos se tivermos em conta que a educação permite
moldar o comportamento dos indivíduos para uma ordem coerente com o bem colectivo, evitando dessa forma quem persegue unicamente os próprios
interesses particulares e reprováveis.
Em boa verdade, o País tem
vindo a confrontar-se com uma lógica dominante e característico do
sistema "Especialização em "aldrabice". Esta lógica foi alimentada
durante vários anos, triunfando assim o mal sobre o bem e aniquilando
quaisquer expectativas de que a nação deveria assentar-se sobre os
pilares da justiça, da educação e da formação do homem guineense. Na
nossa sociedade é muito mais fácil criticar do que valorizar, denegrir
do que engrandecer, este tem sido o método utilizado desde a luta de
independência até hoje, criando dessa forma espaços para promoção de
indivíduos e de situações como as que têm acontecido de alguns anos a
esta parte. Cada vez que surgem falhas no processo de afirmação
democrática, automaticamente surgirão indivíduos capazes de utilizar
esta falha para o proveito próprio e de forma abominável.
De quem
será então a culpa? Obviamente de todos nós! Precisamos de compreender
que a virtude cívica está intrinsecamente vinculada à educação. Não são
qualidades que nascem com o homem, mas são cultivadas nele através de um
processo formativo. A educação tanto pode formar homens dotados das
virtudes imprescindíveis para ser um bom cidadão, quanto pode fazer dele
uma pessoa fraca e arrogante. De alguma maneira, os homens são o que a
educação fez deles, como dizia Nicolau Maquiavel.
Alguém acredita
que os que têm governado nestes últimos 40 anos são produtos do divino?
Claro que não! São produtos gerados por nós enquanto sociedade e povo,
pois não conseguimos entender que a essência está na formação do
individuo enquanto ferramenta de afirmação de uma nação.
É
urgente proceder o exorcismo da guerra, das ideologias e da
singularidade, no sentido de libertar os nossos medos e anseios daquilo
que deveria caracterizar a qualidade de cidadão como um todo. Talvez
seja até necessário refundar o Estado e a Nação, mas então que seja
feita. Essa refundação deverá ser feita sobre o condão da justiça,
defendida por cidadãos com responsabilidades e competências necessárias,
que defendem a subordinação dos interesses particulares ao bem púbico,
que combatem a tirania e que alimentam o desejo de atingir a glória e a
honra para si e para a pátria. Para que isso aconteça é necessário
fomentar a cultura do homem guineense com o essencial de patriotismo e
virtude cívica, pois desenvolvem nele as capacidades de servir a pátria
até com a própria vida, se necessário.
É sobejamente discutido e
reconhecido o falhanço na edificação do homem guineense e pouco se tem
feito no sentido de corrigir isso. Mas será que não existem homens e
mulheres a altura do ideal patriótico? Claro que existem, apenas devem
saber ocupar o seu espaço e afirmarem-se naquilo que mais sabem fazer,
cada um na sua área e especialidade, nomeadamente: carpinteiro,
pedreiro, serralheiro, médico, economista, engenheiro, gestor,
professor, etc., mas todos imbuídos de um único propósito, Guiné-Bissau
em primeiro lugar, pois o importante é pensarmos nos outros e não tanto
em nós!
(in: DN, por Luís Vicente)
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