"Uma criança quando nasce em Portugal ou na Europa não estranha sequer por que é que vai para a escola, é inerente à sua vida. Na Guiné-Bissau é o inverso, ir à escola é uma coisa que não é inerente", distingue Catarina Lopes, técnica dos projectos de cooperação para o desenvolvimento da FEC, organismo da Igreja Católica.
À medida que se vai envolvendo as comunidades no processo educativo,
vai desaparecendo o "medo" da "escola do branco", assinala a técnica,
comparando: "Antes tinha que ir às aldeias para falar da importância de
ter um jardim-de-infância, hoje as crianças em Bissau são tantas que não
há jardins suficientes para dar resposta, isto já é um primeiro
indicador."
Indicadores como este mostram que, "no meio de tanta dificuldade, com
tanto buraco, na estrada e fora dela, na sociedade também", as coisas
vão mudando, porque as pessoas "acreditam convictamente que é possível
mudar", observa, considerando que a Guiné "é um estímulo" para Portugal.
Quando a FEC iniciou os projetos de cooperação com a Guiné-Bissau, há
mais de uma década, a educação era, quer no acesso, quer na qualidade
do sistema, "uma fragilidade estrutural", recorda Susana Refega, directora executiva da FEC.
"A Guiné e os guineenses habituaram-se a viver sem um Estado e isso é
bom e é mau", assinala, questionando "até que ponto" a presença de "uma
data de organizações" no país lusófono "não tem também um efeito
perverso", porque se vai "dando resposta".
Hoje, a Guiné continua "um Estado frágil", mas os projectos têm tido
"alguns resultados". Os técnicos da FEC começaram por dar aulas, depois
formaram professores e hoje já há formadores guineenses a formar
professores guineenses, explica, sublinhando que as mudanças que
envolvem pessoas "levam tempo".
Depois de trabalhar no ensino básico, a FEC começou a intervir
noutros níveis de ensino, nomeadamente no pré-escolar, intervenção
documentada no filme "Bambaram di Mindjer", que hoje será apresentado em
Lisboa.
O documentário -- que teve estreia durante a entrega de diplomas aos
professores, em Bafatá e Cachungo -- pretende dar "uma contra imagem" da
Guiné-Bissau, mostrando "um pais bonito, a funcionar, com gente digna".
Será exibido no Chapitô, às 20:00, e precedido de um debate sobre
educação.
O foco da FEC no ensino pré-escolar decorreu da constatação de que
"as crianças, quando entravam para o ensino básico, não estavam
habituadas a estar em sala", porque, até ali, ficavam em casa ou em
estruturas informais, e revelavam "muitas lacunas na questão da língua",
justifica Susana Refega.
Apoiando a diocese de Bissau, a FEC ajudou a estruturar um curso,
pois "não havia qualquer formação na Guiné-Bissau disponível para
educadores de infância" e, neste momento, "já estão a sair os primeiros
formandos", refere.
O objetivo mais lato da FEC -- que trabalha sobretudo em zonas rurais
na Guiné -- é traçar "o diagnóstico da educação de infância a nível
nacional", para "fazer uma radiografia" e saber onde estão as crianças
antes do primeiro ciclo, resume Catarina Lopes, adiantando que os
primeiros resultados devem começar a ser conhecidos no final do ano.
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