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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Falta autonomia e segurança para dizer basta na Guiné-Bissau, diz académico cabo-verdiano

O académico cabo-verdiano Corsino Tolentino afirmou hoje na Cidade da Praia que falta "autonomia e segurança para dizer basta e dar o salto" na Guiné-Bissau, defendendo a "reconciliação com os mortos e entre os vivos". 


Corsino Tolentino falava num colóquio realizado na capital cabo-verdiana para assinalar o 57.º aniversário da fundação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), promovido pelo núcleo do partido residente no país, sob o lema "PAIGC no Passado, Presente e Perspectiva para o Futuro".
O antigo diretor-geral da Fundação Calouste Gulbenkian, hoje quadro superior do Ministério das Relações Exteriores de Cabo Verde, salientou a importância de se saber lidar com factos históricos para que se possa garantir a convivência num Estado laico e de direito.
"A reconciliação com os mortos e entre todos os vivos abrirá o caminho a gente culta, honesta e pacífica. A nação guineense tem a gente que precisa, mas faltam autonomia e segurança para dizer basta e dar o salto", sustentou.
Nesse sentido, apelou à aceitação da separação dos Estados da Guiné e de Cabo Verde "sem qualquer ambiguidade".
"O melhor a fazer, para o bem de todos, é tirar proveito da vida, da paz e da lei para todos, da educação e da formação profissional. E, como no passado, lutaremos juntos para o que falta", sublinhou, ao dissertar sobre o tema "Que fazer com o pior que aconteceu na terra de Amílcar Cabral?".
O também primeiro ministro da Educação do Cabo Verde independente, recomendou a valorização do mês de setembro, por ser "especial" para os guineenses, uma vez que é o mês do nascimento de Cabral, o "pai" das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, da criação do PAIGC e da proclamação unilateral da independência.
Lembrando o "19 de setembro de 1956", Corsino Tolentino recordou o percurso de Cabral e os desafios, sucessos e fracassos do PAIGC que, depois de 1980, após o golpe de Estado de "Nino" Vieira, pôs cobro à unidade entre os dois países e levou a ala cabo-verdiana a criar o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).
Do percurso de Cabral lembrou o nascimento, os anos vividos em Cabo Verde, seguidos pela viagem para Portugal, onde estudou Agronomia, a fase da preparação da luta, em que despertou consciências e formou homens e mulheres para a luta de libertação nacional da Guiné e Cabo Verde.
Corsino Tolentino lembrou também os desafios identificados por Cabral, assassinado em 1973 em Conacri em circunstâncias nunca apuradas, e que visavam unir guineenses e cabo-verdianos na luta pelas respectivas independências e construir a democracia, sociedades livres e prosperidade.
Os sucessos, citou, passaram pela consolidação e crescimento do PAIGC, pela colocação da Guiné-Bissau e Cabo Verde no "mapa-mundo" dos Estados independentes e pela expansão do pan-africanismo e dos movimentos de libertação de África.
A decapitação do PAIGC, a substituição da força da sabedoria pela força das armas, a morte do projecto de unidade da Guiné e Cabo Verde e o desconforto das populações da Guiné com a sua própria memória colectiva foram apontados como os fracassos desta luta.

(in:lusa)

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