O académico cabo-verdiano Corsino Tolentino afirmou hoje na Cidade da Praia que falta "autonomia e segurança para dizer basta e dar o salto" na Guiné-Bissau, defendendo a "reconciliação com os mortos e entre os vivos".
O antigo diretor-geral da Fundação Calouste Gulbenkian, hoje quadro
superior do Ministério das Relações Exteriores de Cabo Verde, salientou a
importância de se saber lidar com factos históricos para que se possa
garantir a convivência num Estado laico e de direito.
"A reconciliação com os mortos e entre todos os vivos abrirá o
caminho a gente culta, honesta e pacífica. A nação guineense tem a gente
que precisa, mas faltam autonomia e segurança para dizer basta e dar o
salto", sustentou.
Nesse sentido, apelou à aceitação da separação dos Estados da Guiné e de Cabo Verde "sem qualquer ambiguidade".
"O melhor a fazer, para o bem de todos, é tirar proveito da vida, da
paz e da lei para todos, da educação e da formação profissional. E, como
no passado, lutaremos juntos para o que falta", sublinhou, ao dissertar
sobre o tema "Que fazer com o pior que aconteceu na terra de Amílcar
Cabral?".
O também primeiro ministro da Educação do Cabo Verde independente,
recomendou a valorização do mês de setembro, por ser "especial" para os
guineenses, uma vez que é o mês do nascimento de Cabral, o "pai" das
nacionalidades guineense e cabo-verdiana, da criação do PAIGC e da
proclamação unilateral da independência.
Lembrando o "19 de setembro de 1956", Corsino Tolentino recordou o
percurso de Cabral e os desafios, sucessos e fracassos do PAIGC que,
depois de 1980, após o golpe de Estado de "Nino" Vieira, pôs cobro à
unidade entre os dois países e levou a ala cabo-verdiana a criar o
Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).
Do percurso de Cabral lembrou o nascimento, os anos vividos em Cabo
Verde, seguidos pela viagem para Portugal, onde estudou Agronomia, a
fase da preparação da luta, em que despertou consciências e formou
homens e mulheres para a luta de libertação nacional da Guiné e Cabo
Verde.
Corsino Tolentino lembrou também os desafios identificados por
Cabral, assassinado em 1973 em Conacri em circunstâncias nunca apuradas,
e que visavam unir guineenses e cabo-verdianos na luta pelas respectivas
independências e construir a democracia, sociedades livres e
prosperidade.
Os sucessos, citou, passaram pela consolidação e crescimento do
PAIGC, pela colocação da Guiné-Bissau e Cabo Verde no "mapa-mundo" dos
Estados independentes e pela expansão do pan-africanismo e dos
movimentos de libertação de África.
A decapitação do PAIGC, a substituição da força da sabedoria pela
força das armas, a morte do projecto de unidade da Guiné e Cabo Verde e o
desconforto das populações da Guiné com a sua própria memória colectiva
foram apontados como os fracassos desta luta.
(in:lusa)
Sem comentários:
Enviar um comentário