Policia da Guiné-Bissau disse no domingo que tinha desmantelado uma operação criminosa tráfico de 54 crianças para o Senegal, onde acredita-se que teriam sido forçadas por escolas islâmicas a mendigar nas ruas.
As crianças, com idades entre os cinco e 14 anos, estavam distribuídas por cinco viaturas onde viajavam escondidas "debaixo dos bancos e debaixo de panos, o que levantou suspeitas", descreveu à Lusa a alferes Rosa Djata, da Guarda Fronteiriça.
Os adultos que as acompanhavam eram pais de algumas delas e justificaram-se dizendo que iam até uma cerimónia religiosa numa aldeia do Senegal em que as crianças iam ser benzidas por um mestre corânico - líder de uma escola do Alcorão, livro de leituras islâmicas sagradas.
Situações semelhantes já aconteceram em que os pais acabam por "deixar os filhos com esses mestres", referiu Rosa Djata.
Os menores acabam depois na mendicidade e a viver sem condições (crianças conhecidas como "talibés"), muitas vezes sem conhecimento dos pais, pedindo nas ruas para pagar as despesas dos alegados chefes corânicos.
Depois de terem sido travadas na fronteira, as 54 crianças e os adultos tiveram de fazer meia-volta e foram conduzidos pela Guarda Nacional para o centro de acolhimentos de Bafatá - segunda cidade do país, no centro da Guiné-Bissau.
No entanto, ao centro só terão chegado 32 crianças (12 do sexo feminino), enquanto as outras fugiram pelo caminho, disse à Lusa fonte daquela estrutura.
Os que lá chegaram vão permanecer no centro por um período que pode ir até 72 horas e em que as diferentes autoridades e instituições da área vão fazer registos da ocorrência.
Depois, "o caso será entregue ao Ministério Público", explicou Malam Biai, responsável pelo espaço.
Os casos de crianças intercetadas ao serem levadas para alegadas escolas do Alcorão em países vizinhos, mas que na realidade acabam na mendicidade ou exploradas noutras atividades, são recorrentes.
Após um caso semelhante, em novembro de 2013, Bubacar Djaló, presidente da União Nacional dos Imãs (líderes religiosos islâmicos) da Guiné-Bissau, disse à agência Lusa que a melhor estratégia para lutar contra o tráfico de crianças passa por um trabalho entre os defensores dos direitos dos menores e os chefes islâmicos.
O líder muçulmano propõe que "ao invés de se gastar dinheiro" no combate e na vigilância àqueles que tentam levar as crianças, sejam criadas escolas do Alcorão e centros de acolhimento na Guiné-Bissau que seriam entregues aos imãs.
Em 2014, a Associação dos Amigos da Criança (AMIC) da Guiné-Bissau lidou com os casos de 108 crianças que tinham sido traficadas, 32 dentro do país, 76 da Guiné-Bissau para o Senegal.
A polícia e os agentes de migração resgataram o grupo de crianças, com idades entre cinco e 15 anos, na sexta-feira perto de um posto de fronteira de Cambadju, uma vila de 200 km (125 milhas) a nordeste da capital Bissau.
Organização das crianças, da ONU, UNICEF estima que cerca de 100 mil meninos - conhecidas como talibés - são forçadas a mendigar nas ruas do Senegal e da Gâmbia.
"Este é o tráfico de crianças, provavelmente, com um professor do Corão", disse Malam Balde, o chefe do "Cross-Border Initiative Wakilare", a campanha do projeto de rádio local contra a prática.
Em de maioria muçulmana Senegal, onde líderes religiosos têm um enorme poder social e político, as crianças têm sido confiadas a professores que os educam em escolas corânicas residenciais, chamadas escolas corânicas.
Mas a pesquisa da Human Rights Watch (HRW) mostrou que em muitas escolas corânicas, os professores estão usando a educação como uma cobertura para enviar as crianças para mendigar, infligir maus tratos físicos e psicológicos graves sobre aqueles que não conseguem cumprir as cotas diárias.
A prática foi descrito em um relatório de 2010 pela HRW como "próximas da escravatura".
Organização das crianças, da ONU, UNICEF estima que cerca de 100 mil meninos - conhecidas como talibés - são forçadas a mendigar nas ruas do Senegal e da Gâmbia.
"O tráfico de crianças é um problema real na região. A maioria dos talibés nas ruas de Dakar são desta área", disse Balde.
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