Fazer a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ir para além da política é um dos objectivos da União de Exportadores da CPLP (UE-CPLP), presidida pelo português Mário Costa. Uma cooperação económica consistente poderá mesmo vir a desembocar numa união bancária ou na livre circulação de pessoas, bens e capitais.
Objectivos que estão em cima da mesa, ainda que se saiba que não são fáceis de atingir. Durante o I Forum da UE-CPLP, que decorreu sexta-feira e sábado no Centro de Congressos de Lisboa, Luís Amado fez o primeiro aviso: a União Europeia, tal como a conhecemos hoje, começou como uma Comunidade Económica Europeia. Só actualmente, 60 anos depois, é que ela permite a livre circulação de pessoas – “na verdade, de trabalhadores”. E, notou, “esta não é uma comunidade económica”.
A questão de uma possível União Bancária, a longo prazo, foi também abordada, dois dias depois de o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, ter pedido aos responsáveis dos bancos centrais da CPLP que tentassem convergir mais com as regras europeias em termos de regulação. O responsável falava durante o XXV encontro de governadores de bancos centrais de língua portuguesa, e sublinhou a importância de convergir nas regras da supervisão para permitir relações económicas e financeiras mais saudáveis.
Luis Amado sublinhou ainda que “há uma concepção económica na génese de construção europeia que não podemos esquecer. A CPLP parte precisamente da dimensão terminal, da cidadania. E acho que isso, no plano político, ainda não foi percebido”, lamentou.
Mário Alkatiri, antigo primeiro-ministro de Timor Leste, secundou as palvaras de Amado. “Eu sou politico, quando dizem que os politicos devem decidir sobre a mobilidade e a abertura das fronteiras, concordo”. Depois, “o sector empresarial toma conta do resto”.
Segundo os vários responsáveis da Comunidade, tornar o sector empresarial da CPLP mais cooperante e dinâmico é mais do que uma necessidade. É o que faz sentido. Em declarações ao i antes de início do Fórum, Mário Costa salientava que países como a Guiné, Moçambique, Timor “são virgens e podem ser complementados”. Deu como exemplo a Castanha de Caju da Guiné Bissau, que está a ser levada para todo o mundo por duas empresas pertencentes a países da CPLP. A UE-CPLP apoiou na instalação do laboratório de Certificação da Castanha de Caju, que facilitou depois os contratos de exportação.
“O desafio é descobrir como se consegue passar de ser um pais de destino para ser um pais de procedência”, afirmou ainda Mario Alkatiri, pedindo um maior intercâmbio de know-how e especialização entre os vários Estados-membros.
Jorge Serrano, presidente de honra da CPLP, chamou a atenção para o facto de, no quadro sócio-económico actual, a Comunidade ter um papel relevante que não pode ser desperdiçado. “Somos diferentes e isso é uma mais valia para os negócios e para a riqueza cultural. Mas somos iguais porque efetivamente há um sentimento de partilha, um sentimento comum e uma empatia que não sabemos bem explicar, mas que existe. Empatia e proximidade, talvez seja o que nos define”. E continuou: “acho que os laços empresariais se estão efetivamente a estreitar entre as empresas CPLP e que as pequenas e médias empresas (PME) serão efectivamente o coração destas relações económicas”.
No I Forum da UE-CPLP houve ainda espaço para várias reuniões individuais entre empresários dos vários Estados-membros, para que pudessem estabelecer parcerias, avaliar negócios e criar contactos. A iniciativa encerrou uma missão empresarial de cerca de 20 dias, durante a qual os responsáveis da UE-CPLP passaram pela maior parte dos Estados-membros. A próxima geografia a receber a visita da UE-CPLP será Timor- Leste.
Sem comentários:
Enviar um comentário