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Joseph Pulitzer

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Pequenos negócios nascem da escuridão de Bissau

Na escuridão da capital da Guiné-Bissau, há cada vez mais pessoas a aproveitar a oportunidade para criar pequenos negócios: uns carregam telemóveis, outros abastecem bairros inteiros.

Em Bissau raramente há electricidade e quem tem gerador tenta ganhar mais uns trocos que valem ouro para as famílias, num dos países mais pobres do mundo.

A situação crónica de falta de energia agravou-se com a fuga de capital e de ajudas ao país depois do golpe de Estado militar de abril de 2012.

Face à situação, Alteir Bonfim Ié, 23 anos, decidiu há dois meses aproveitar o pequeno gerador que ilumina a sua loja, entre as 19:00 e as 23:00, para carregar telemóveis.
Apesar de Bissau não ter eletricidade da rede pública, sistemas autónomos mantém em funcionamento as antenas de três redes móveis (Guinetel, MTN e Orange).

"Os guineenses precisam de comunicar" em especial com familiares emigrados noutros países, destaca Alteir.

O jovem carrega cada aparelho por 100 francos CFA (cerca de 15 cêntimos de euro) e diz que há dias em que chega a ter 75 clientes.
Na loja improvisada a partir de um contentor, na estrada da Zona 7 de Bissau, os aparelhos (ou apenas as baterias) são colocados num tabuleiro empoeirado, no chão, onde estão fixadas dezenas de tomadas numeradas à mão com uma caneta de feltro.
Quem estende o telemóvel para carregar, recebe um pedaço de cartão com um número, que corresponde à tomada de carregamento.
Alteir, solteiro e a viver com a família, não esconde que este "é um bom negócio". "É bom para a família, para os vizinhos e para toda a gente", refere.
Na mesma estrada está Ámadu Bari, 36 anos, que já carrega telemóveis no seu pequeno comércio há dois anos.
Descontando o custo do combustível e a amortização do gerador, o carregamento de telemóveis chega a render 45 mil francos CFA por mês (cerca de 68 euros) - na função pública da Guiné-Bissau o salário mais baixo é de 32 mil francos CFA (49 euros) e a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau (UNTG), defende que seja criado um salário mínimo (que não está institucionalizado) de 90 mil francos (137 euros).
"Comprei o gerador e estou quase a recuperar o investimento", diz Ámadu, casado, sem filhos, que usa o dinheiro do carregamento de telemóveis para "comprar pão" e outros alimentos e "ajudar outra família a fazer compras".
Noutro extremo de Bissau, já lá vão quase nove anos desde que Afonso Costa se juntou a outro sócio para fornecer energia aos vizinhos no Bairro da Ajuda (Cuburnel).
Tudo começou com "um pequeno gerador e dois ou três clientes", mas a recorrente falta de energia fez crescer o negócio: hoje têm duas unidades de grande dimensão que funcionam alternadamente e já passaram a fasquia dos 200 clientes.
Os vizinhos parecem já estar habituados ao barulho constante dos geradores, a partir dos quais serpenteiam dezenas de cabos eléctricos até casa dos clientes que pagam 700 francos CFA por quilowatt (cerca de um euro).
O negócio "é muito importante" para a família de Afonso Costa. "Ajuda a resolver muitos problemas", descreve.
O diretor-geral da empresa de Eletricidade e Água da Guiné-Bissau (EAGB), Wasna Papai Danfá, anunciou no final de julho que a empresa está "tecnicamente falida".
A EAGB não consegue facturar o suficiente para comprar gasóleo que alimente a central eléctrica de Bissau e proliferam as ligações pirata à rede.
O Governo chegou a anunciar posteriormente a contratação de um fornecimento de gasóleo para resolver a situação durante quatro meses, mas tetricidade continua a ser uma raridade.

(in:Lusa)

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