As declarações do antigo presidente timorense Ramos-Horta, que acusou Cavaco de “falsidades” caíram bastante mal na Presidência da República. Em Belém insiste-se em manter tudo o que Cavaco Silva escreveu no prefácio do seu Roteiros IX sobre a entrada da Guiné Equatorial para a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Fontes próximas do Presidente insistem, aliás, que o Cavaco “foi o único que não defendeu a adesão da Guiné Equatorial até à última” e que Portugal acabou por ceder “para não pôr em causa Timor Leste”.
Depois de Cavaco Silva ter vindo justificar o apoio da adesão da Guiné Equatorial à CPLP sob o argumento de que “um veto português” poderia “pôr em causa a sobrevivência da própria CPLP” e representaria “elevados danos de reputação para Timor Leste”, Ramos-Horta acusou no Facebook o Presidente da República de “falsidades” por querer atribuir a Timor Leste um papel de relevo na decisão de aprovar a adesão da Guiné Equatorial à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
“O lóbi forte pela admissão da Guiné Equatorial na CPLP foi sempre desencadeado por Angola e Brasil, apoiado por todos os outros países africanos da CPLP, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe”, escreveu Ramos-Horta.
“A reunião ministerial da CPLP que precedeu a Cimeira de Díli já tinha acordado consensualmente a adesão da GE. Perante a postura firme de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Angola, Portugal anuiu. Timor Leste simplesmente secundou esta posição”, acrescentou ainda o ex-presidente de Timor.
Ramos-Horta está em falta?
Na Presidência da República recorda-se, aliás, que o antigo presidente Ramos-Horta foi nomeado para, após a aprovação da adesão da Guiné Equatorial à CPLP, fazer o acompanhamento do processo de integração.
Entre os deveres de Ramos-Horta estaria, ao que o SOL apurou, assegurar-se de que aquele país cumpre as condições que lhe foram impostas, desde logo a moratória da pena de morte. Mas, aponta uma fonte conhecedora do processo, esse acompanhamento ainda não deu lugar a qualquer relatório.
Recorde-se que Portugal foi resistindo à adesão da Guiné Equatorial à CPLP e já atrasara o processo de entrada em duas cimeiras seguidas, a de 2010 em Angola e a de 2012 em Maputo.
Aquando da cimeira de Dili, em Julho de 2014 - e quando Timor-Leste se preparava para assumir a presidência da organização - a delegação portuguesa foi surpreendida à chegada por estar já tudo preparado como se a decisão da adesão da Guiné Equatorial já tivesse sido tomada.
Na reunião prévia dos chefes de Estado e de Governo onde a questão devia ser deliberada, até já estava reservado um lugar à mesa para Obiang, o chefe de Estado da Guiné Equatorial. Na altura, Cavaco levantou a questão e a delegação portuguesa protestou. Obiang ficou retido numa sala ao lado e só depois de responder às questões que o colectivo de dirigentes decidiu colocar-lhe foi formalmente aprovada a entrada da Guiné Equatorial na CPLP.
Agora no prefácio, que voltou a ressuscitar esta polémica, o Presidente recorda que era “a primeira vez que Timor-Leste era chamado a desempenhar uma tarefa de tal dimensão internacional” e explica que uma das razões para apoiar a entrada de um país onde não se fala português foi não querer deixar Timor ficar mal. “O insucesso da cimeira seria um golpe nos esforços de Timor-Leste para reforçar a sua credibilidade internacional. Neste quadro, uma questão não podia deixar de ser colocada: como reagiria Timor-Leste em relação a Portugal, encarado como o responsável pelo fracasso da Cimeira [se tivesse vetado a entrada]? Qual o efeito que isso teria sobre a difusão da língua portuguesa em Timor?”, reforça.
Ainda na senda das críticas lançadas a Cavaco no Facebook Ramos-Horta contrapõe: “Poderia Portugal continuar a opor-se à admissão da GE e isolar-se perante os outros sete países membros da CPLP?”.
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