O actual cenário na Guiné-Bissau é positivo após a realização das eleições legislativas e presidenciais e vários fatores contribuíram para esta situação de normalidade e estabilidade política, disse hoje um investigador do Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF).
«Eu creio que, pela primeira vez, em muito tempo, o cenário na Guiné-Bissau é positivo», disse à agência Lusa Fernando Jorge Cardoso.
«O facto relevante dos resultados da segunda volta das eleições presidenciais na Guiné-Bissau é o comunicado emitido pelo chefe do Estado-Maior das forças armadas, o general António Indjai, a dizer que aceita os resultados das urnas», acrescentou o investigador.
Para Fernando Jorge Cardoso, a posição tomada por Indjai confirma que os resultados das eleições «inauguram uma situação de estabilização da situação política na Guiné-Bissau» e espera-se ainda melhorias «na situação geral do país».
A Guiné-Bissau - depois do golpe de Estado militar de abril de 2012, liderado por Indjai, e a composição de um governo de transição - realizou eleições legislativas e presidenciais a 13 de abril.
A segunda volta das presidenciais foi realizada no passado domingo e o vencedor, anunciado na terça-feira pela Comissão Nacional de Eleições, foi o candidato do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), José Mário Vaz.
No início de maio, o embaixador dos Estados Unidos para o Senegal e Guiné-Bissau, Lewis Lukens, pediu ao líder das forças armadas guineenses, general António Indjai, que os militares não voltassem a interferir na ordem constitucional do país.
Segundo o investigador, este encontro serviu como «recado» da Administração norte-americana para o general Indjai «ficar quieto, não tentar nenhuma acção de natureza militar» que pudesse desestabilizar a situação do país.
Um antigo chefe da marinha guineense, Bubo Na Tchuto, foi preso em 2013 pelos Estados Unidos por tráfico de drogas. António Indjai também é acusado pela justiça norte-americana de estar envolvido em tráfico de droga, que teria a Europa e Estados Unidos como destino.
«Na verdade, a estabilização da Guiné-Bissau interessa, nesta altura, a um conjunto muito vasto de actores externos, para além dos próprios guineenses», sublinhou o investigador.
Para o investigador, a estabilização política na Guiné-Bissau interessa à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), porque o grupo africano quer provar que sua intervenção (com um contingente armado) na Guiné-Bissau, depois do golpe militar de abril de 2012, foi um sucesso.
Também interessa, de acordo com Cardoso, à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), pois os candidatos vencedores do PAIGC nas eleições têm uma linha de pensamento positivo relativo ao reforço dos laços com o bloco lusófono e, também, com Portugal.
«Apesar das fricções entre a CEDEAO (que aceitou o governo de transição em Bissau depois do golpe militar) e a CPLP (que não aceitou o governo de transição), as duas organizações estão de acordo em que estas eleições têm de ser respeitadas e o país tem de voltar a normalidade», referiu.
Para o investigador do IMVF, tudo se conjuga para que haja «uma situação de acalmia, de normalidade no relacionamento da Guiné-Bissau com o mundo».
«Desde logo, com a União Europeia, com o retomar das acções de financiamento e de apoio dos países europeus e da Comissão Europeia para o desenvolvimento do país e, particularmente, para a estabilização e a continuação do esforço que estava a ser feito para a reforma do sector de segurança», acrescentou.
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