A reinvenção do modelo económico ao serviço da Nação.
O nosso desempenho económico só melhora com melhores instituições, melhor justiça, melhor Estado, melhor administração e a sua relação com os cidadãos e empresas.
A
existência de um futuro para a economia guineense, bem como a
renovação da esperança dos guineenses, implica uma alteração
total do nosso modelo de desenvolvimento. As reformas estruturais
devem ser encetadas e concretizadas com sucesso. Mas, para isso, é
importante criar condições de participação pública e privada na
esfera da economia real, dando ênfase às iniciativas geradoras de
emprego e aumento da produtividade.
Nesta
primeira fase é importante que a política económica seja orientada
para restaurar a credibilidade financeira do País, para reduzir o
endividamento nacional e o défice externo, para fomentar a
produtividade e competitividade e, para promover uma sustentada
reforma e a criação de emprego e solidariedade social. Para que
resulte no plano geral, torna relevante definir uma política
coerente de atração do investimento privado através de criação
de um ambiente favorável para o negócio, com a necessária
incrementação de uma diplomacia económica credível, garantindo
que os investimentos sejam executados pelos promotores mas
salvaguardando os interesses nacionais. Sem juízos de valor, julgo
que é importante:
- Imprimir uma nova dinâmica junto dos doadores e parceiros internacionais no sentido de garantir liquidez necessária para o funcionamento da economia e finanças do País.
- Fomentar o investimento privado e ponderar a possibilidade de avançar com as parcerias público privadas de forma séria e responsável no âmbito de um caderno de encargos que salvaguarde os interesses nacionais.
Renegociar
os acordos bilaterais assinados com as empresas e Estados parceiros
para exploração de bens não renováveis tais como o petróleo
(segundo informações, a petrolífera “Oryx Petroleum” estará a
efetuar trabalhos de exploração de crude numa zona de controlo
conjunto do Senegal e da Guiné-Bissau. O acordo existente determina
que a receita da exploração será repartida em 80% para o Senegal e
o restante para a Guiné-Bissau). Como é óbvio, é inconcebível
manter a lógica de 80% e 20%, tais como os acordos para exploração
de bauxite e fosfato assinados com empresas angolanas, também nas
mesmas condições, que urgentemente devem ser reavaliadas. O mesmo
se aplica as areias pesadas da Varela, uma situação que urge
resolver.
- Reativar os acordos bilaterais assinados no quadro das pescas, mas ter em atenção os investimentos que podem ser desenvolvidos nesta área, tais como: investimento e desenvolvimento de frotas nacionais; desenvolvimento de infraestruturas de apoio e indústria de transformação; investimento na segurança e higiene por forma a dotar o país de maior capacidade de realização de controlo sanitário do pescado internacionalmente aceite; investimento no reforço das capacidades nacionais de controlo e de vigilância da nossa Zona Económica Exclusiva.
- Avançar com a recuperação dos Portos de Pindjiquiti e de Buba. Com a recuperação do porto de “Pindjiguiti” o país poderia receber navios de grande porte e assim escoar as mercadorias por toda a África sem passar pelos portos da Gâmbia e do Senegal. Dispondo de todo o potencial marítimo a funcionar em pleno o país deveria usar a sua posição geoestratégica tendo em conta os vizinhos do Mali, Guiné-Conacri, Gâmbia e Senegal.
Esta
localização geográfica é uma mais-valia que proporcionará uma
vasta Zona Económica Exclusiva configurada num espaço marítimo
interterritorial que bem projetado aproveitaria a importante fonte de
recursos naturais. Com a construção do porto de Buba, as transações
económicas entre a Guiné-Bissau, Mali e Guiné Conacri serão mais
eficientes e lucrativas. A distância entre estes países sendo
próximos, comparativamente com o Senegal, resultará numa maior
eficiência económica uma vez que o porto de Dakar é mais distante
o que faz com que transação entre bens e serviços seja mais cara.
É importante que seja feito através do Investimento direto
estrangeiro e nacional.
- Incentivar o investimento direto estrangeiro e nacional na área de transformação e processamento da castanha de caju. Esta é uma área que deve ser pensada estrategicamente. Deve ser possível criar o conceito “Valor Acrescentado” de modo a que a sua dimensão e cotação seja justa.
A
exportação da castanha processada poderá representar um ganho de
95,8% relativamente à exportação da castanha em bruto. A indústria
de processamento da castanha de caju é intensiva em mão-de-obra e
pode desempenhar um papel importante no combate ao enorme desemprego
que se regista no País. Tem um impacto grande na economia nacional,
uma vez que é indutor de “ + atividade industrial + serviços +
empregos + rendimentos + contributo para o PIB.
- Apostar fortemente na agricultura e retomar o Plano Nacional de Investimento Agrário - Política Agrícola Comum da CEDEAO, na sua primeira fase e parte da segunda fase através da criação ou reabilitação de estruturas e infraestruturas de apoio à produção e reforçar a consolidação de iniciativas e dos investimentos privados, ao desenvolvimento e consolidação de cooperativas, de organizações camponesas e instituições de micro-finanças.
Para
além disso, é importante ter em atenção a questão da
agroalimentar, este é um sector onde podemos ter uma vantagem
competitiva sustentável em relação aos nossos vizinhos.
- No setor de turismo, realça-se a importância das excelentes condições e potencialidades turísticas aliadas à riqueza e diversidade cultural resultante do seu museu étnico, a gastronomia associada à excecional e rica paisagem natural, conferem à Guiné-Bissau vantagens competitivas sustentáveis para oferta de produtos turísticos altamente valorizados e em todos os seus domínios, nomeadamente, Turismo de Sol e Praia, Ecoturismo, Turismo Rural, Turismo ligado à Pesca e Caça Desportivas, etc.
A
Guiné-Bissau tem uma localização geográfica invejável para o
desenvolvimento do turismo de forma intensiva. A Zona Costeira,
constituída pelo Arquipélago dos Bijagós e a orla marítima
continental, apresenta grande variedade de animais marítimos,
excelentes praias e vários parques nacionais, destacando-se o Parque
Nacional Marítimo do Complexo de João Vieira – “O Poilão” -
Santuário das tartarugas marítimas - e o Parque do Grupo das Ilhas
de Orango. Na Zona do Interior, que engloba o Leste, o Norte e
parte Sul do país, existem diversos parques naturais e extensas
savanas que para além de permitirem a prática de caça, oferecem
lugares pitorescos pelas suas gentes, fauna e flora, próprios para o
desenvolvimento do Turismo Rural.
É
importante e necessário desenvolver uma política pública para este
setor no sentido de dar a conhecer as suas reais potencialidades e
oportunidades de negócios por forma a criar um referencial positivo
para o País. Tem sido feito muito e bom trabalho de divulgação,
mas importa agora definir uma estratégia mais consistente para o seu
desenvolvimento.
- No que concerne à economia do mar, realço a excelência do trabalho que está a ser desenvolvido pela equipa da Comissão Nacional de Extensão da Plataforma Continental da Guiné-Bissau – Extensão para além das 200 milhas marinhas - reforçando precisamente que a grande parte dos recursos económicos do País poderão advir da economia do mar.
Na
verdade, para além dos recursos pesqueiros o mar tem um papel
importante na nossa economia, não só como fonte de recursos
alimentares, mas também uma fonte de recursos minerais, geológicos
e de matérias-primas que podem ter um impacto substancial na
economia da Guiné-Bissau. O conhecimento do mar profundo poderá
trazer enormes potencialidades dos novos espaços marítimos ao país.
A
Guiné-Bissau possui uma faixa marítima de 274 km de costa para uma
superfície de plataforma continental de aproximadamente 53.000 Km2,
o que representa 75% do total da Zona Económica Exclusiva (ZEE). Em
média, a plataforma continental desce até uma profundidade de 200
metros, atingindo as bacias oceânicas. A característica principal
da Plataforma Continental da Guiné-Bissau reside na existência de
uma vasta placa continental, suportando um número considerável de
ilhas e ilhotas (aproximadamente 80).
A
Extensão da Plataforma Continental poderá proporcionar ao País uma
oportunidade para sair da letargia económica em que se encontra,
pois a descoberta recente de formas de vida a grandes profundidades,
com potencial de exploração biotecnológica poderá ser uma
possibilidade para o país, no futuro, obter potenciais benefícios
ao nível da economia e consequentemente atrair investimentos das
indústrias farmacêuticas.
A
concretizar este projeto terá um impacto socioeconómico que
produzirá mais riqueza e melhor qualidade de vida, permitirá o País
afirmar-se como uma Nação marítima no contexto da CEDEAO,
estabelecendo consequentemente um melhor futuro para as gerações
vindouras que certamente irão usufruir e explorar esta vasta zona
marinha.
Para
obtermos crescimento e competitividade na Economia do Mar temos que
valorizar este potencial como fonte de riqueza económica, de
conhecimento e de exploração sustentável dos seus recursos. Assim,
é importante promover a coordenação intersectorial e
interinstitucional e a cooperação entre “stakeholders” públicos
e privados com intervenção na área do Mar segundo lógicas que
valorizam a participação ativa através de uma abordagem “top-down”
e “bottom-up“; Modernizar as atividades marítimas tradicionais e
desenvolver novas atividades, produtos e serviços inovadores
direcionados para a exportação; Reforçar a investigação, o
desenvolvimento tecnológico, a inovação e a formação na área do
Mar.
O
conhecimento do mar profundo poderá trazer enormes potencialidades
dos novos espaços marítimos ao país, nomeadamente: 1) Recursos
Minerais - Metálicos:
Recursos fundamentais para aplicações industriais de grande valor,
nomeadamente no fabrico de ligas metálicas com utilização em
indústrias de ponta como a aeroespacial, eletrónica e
nanotecnologia. Não metálicos: Siltes, areias e cascalhos aplicados
à construção civil e obras públicas. Energéticos Não-Renováveis:
Novas oportunidades de prospeção de hidrocarbonetos e hidratos de
metano; 2) Recursos
Biológicos - Biotecnologia:
É a nova vaga da economia assente no conhecimento, criando
oportunidades para indústria alimentar e farmacêutica,
desenvolvimento de medicamentos modeladores hormonais, antibióticos,
antivirais, antifúngicos, etc.
- Finalmente, impulsionar as atividades previstas pela Agência de Promoção do Investimento – APIGB - tais como: Promoção da Guiné-Bissau como destino de investimento; Investigação e identificação dos investidores nacionais e estrangeiros; Seguimento dos contatos e avaliação dos projetos de investimento; Disponibilização permanente de informações económicas, comerciais e tecnológicas; Acolhimento e acompanhamento dos investidores nas etapas do investimento; Assistência aos investidores para as formalidades de formação de empresas e obtenção das diversas autorizações administrativas; A resolução dos problemas administrativos. Saliento ainda que nesta área, existe todo um trabalho teórico muito bem desenvolvido pelo nosso compatriota Pedro Té, a quem dou os meus parabéns pela clareza na abordagem.
Concluo
ressalvando o seguinte: Porém, “é um risco enorme pensar que a
riqueza económica reduz a pobreza, ou que a industrialização
constrói a riqueza cultural. Talvez seja importante
consciencializarmos que a grandeza de uma Nação reside na essência
do seu povo, a tal que se busca através da educação e do
conhecimento.”
Lisboa,
28-05-2014.
Luís
Vicente
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