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Joseph Pulitzer

sábado, 14 de fevereiro de 2015

O Senhor Presidente tem razão!

Continua-se a avaliar de forma mais insensata, a crise económica na Guiné-Bissau. No país existe, um barquinho cheio de ideias flutuantes a navegar com um rumo incerto em águas revoltas. O nó da crise está no facto de vivermos em grande parte desgovernados. Nunca se pensa em orientar os recursos financeiros, tecnológicos e humanos, para o que é essencial:



É do conhecimento de todos que o pilar do desenvolvimento económico no nosso país é a agricultura, sendo a nossa produção agrícola essencialmente familiar. Por isso, deve-se incentivar a agricultura familiar, propiciar condições para o desenvolvimento e aumentar a capacidade produtiva. É por aqui que se deve começar.

Investir na agricultura familiar, possibilitará às famílias tornarem-se mais produtivas e economicamente viáveis. Isso permitirá uma maior diversidade de produtos no mercado, gerar mais empregos, contribuir para o desenvolvimento local, possibilitando práticas de exploração agrícolas que preservem o meio ambiente, garantir maiores fontes de biodiversidade, proteger o capital cultural, fortalecer as relações familiares e ajudar na melhoria da segurança alimentar.

No entanto, sucessivos governos têm-se esquecido desse factor e teimam em fazer tudo ao contrário. Não se constrói uma casa começando pelo telhado, porque ela cai. Tem que se construir primeiro os alicerces que possam suportar essa casa. O desenvolvimento de um país processa-se da mesma maneira, primeiro tem que se construir infraestruturas que permitam o arranque e o suporte da economia.

No nosso pequeno e pobre país, com uma economia baseada predominantemente na pesca e castanhas de cajú, um belo dia descobrimos possuir importantes reservas minerais. Logo após essa descoberta, começaram a afluir em massa interesses estrangeiros. Atordoados com o desenrolar dos acontecimentos e sem pôr a massa cinzenta a funcionar, começa-se a dar maior relevância à exploração do mesmo, pondo de lado mais uma vez, a produção agrícola.

Tudo está destruído no país e não existe nenhuma infraestrutura apropriada para apostar na exploração de recursos naturais. Devido aos limitados recursos de que o governo dispõe, todo o investimento a ser realizado terá que ser com capital estrangeiro, o que irá gerar um maior déficit na já debilitada balança commercial, hipotecando ainda mais a pátria.

Estamos a falar em milhares de contos, e Guiné terá que construir basicamente tudo: poços petrolíferos, refinarias, oleodutos, estradas para escoar a produção, porto onde embarcar o produto, etc.

Terão de ser importados toneladas de equipamentos, materiais de construção, bens de consumo, formar a mão de obra para que ela se torne especializada, investir na segurança, transporte de materiais e trabalhadores, etc, etc.

Só começarão a ser explorados os recursos quando tudo estiver construído e operante, ou seja, uns anos depois, estando já os juros a ser aplicados.

Guiné exporta pouco ou nada, possui uma moeda bastante desvalorizada em relação ao dólar, não possui um banco próprio, a economia está totalmente dependente de capital estrangeiro o que é muito arriscado, pois este pode fugir a qualquer momento, o que iria provocar uma instabilidade na cotação do câmbio.

O que determina o câmbio num país, é o volume de dólares que entra e sai e a taxa cambial é o custo de uma moeda em relação a outro. A volatilidade da taxa de câmbio é associada a maiores custos de transacção, porque a incerteza é maior e proteger-se do risco cambial torna-se mais custoso.

É um risco enorme explorar os recursos naturais nestas condições. Tem portanto toda a razão o Presidente da República ao afirmar que a exploração do mesmo não é prioritário neste momento, devendo apostar-se sim na agricultura.

Pelos poderes que aufere, é seu dever alertar e até vetar a sua exploração imediata, caso seja necessário, porque em primeiro lugar estão os interesses da Nação.

Os nossos gestores nunca aprendem com o erro dos outros. Vejamos o caso de Angola que durante anos apostou mais na exploração do petróleo, diamantes e ouro, pondo de lado os sectores prioritários para o desenvolvimento.

Hoje, o país enfrenta graves dificuldades económicas e financeiras. A baixa dos preços do petróleo (principal fonte de receitas do Estado angolano), afectou sobremaneira as receitas do Estado. Diminuiu a capacidade do Executivo de realizar despesas públicas e de financiar a economia. Angola vai ter muita dificuldade em pagar as dívidas devido à entrada de menos divisas em dólares.

Muitos empresários não conseguem pagar os salários, outros devem já vários meses aos trabalhadores e devido aos limites de transferências impostos pelos bancos, não conseguem fazer sair dinheiro do país.

É já chegada a altura dos gestores guineenses entenderem de uma vez por todas, que têm de colocar no seu horizonte acções que assegurem a auto-suficiência alimentar e assegurar uma vida digna e sustentável para todos .

Isso só se consegue arregaçando as mangas para trabalhar arduamente, pôr a nuca a funcionar e investir onde se deve investir. Os sonhos devem ser mais realistas..
 
(de Otílio Camacho, 14/2/2015)


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