Repensar o nosso papel enquanto cidadão
Enquanto
não entendermos que a honestidade é a melhor diplomacia, jamais
seremos capazes de refrear os nossos anseios e enfrentar, com
determinação e coragem, os desafios que a vida nos proporciona.
Esta
reflexão não só se aplica a nossa vida em particular, como também
coletiva e associada à participação cívica e política, livre e
desapegada, enquanto povo que perfilha objectivos e interesses comuns.
Daí
salientar que tudo o que tem acontecido na Guiné-Bissau não fosse a
mera ausência de uma cidadania forte e exigente, talvez deveria ser
repensado o nosso papel no quadro do que tem sido a nossa capacidade
de analisar e compreender correctamente o exercício do poder.
Hoje,
mais do que nunca, impõe-se que a participação cívica e política
seja a base sustentável para uma reforma séria e profunda do
conceito Estado e Nação Guineense.
Na
realidade, manifestamos as nossas angústias e projectamos a nossa
confiança no dia de amanhã, ou no que virá a seguir, esquecendo-se
que talvez o momento é agora, a participação cívica e política é
agora e que tudo deverá ser feito agora e na base de consensos,
tendo como pilares a educação (lato sensu), justiça,
organização e disciplina. No entanto, só entenderemos a amplitude
destes conceitos se tivermos em conta que a educação permite moldar
o comportamento dos indivíduos para uma ordem coerente com o bem colectivo, evitando dessa forma quem persegue unicamente os próprios
interesses particulares e reprováveis.
Em
boa verdade, o País tem vindo a confrontar-se com uma lógica
dominante e característico do sistema, o da especialização em
“aldrabice”. Esta lógica foi alimentada durante muitos anos,
triunfando assim o mal sobre o bem e aniquilando quaisquer expectativas de que a Nação deveria assentar-se sobre os pilares da
justiça, da educação e da formação do homem guineense.
Na
nossa sociedade é muito mais fácil criticar do que valorizar,
denegrir do que engrandecer, e este tem sido o método utilizado
desde a luta de independência até à presente data, criando dessa
forma espaço para promoção de indivíduos e de situações como as
que tem acontecido de alguns anos a esta parte. Cada vez que surgem
falhas no processo de afirmação democrática, automaticamente
surgirão indivíduos capazes de utilizar esta falha como proveito
próprio e de uma forma abominável.
De
quem será então a culpa e/ou responsabilidade? Obviamente de todos
nós!
Por
isso, é preciso compreender que a virtude cívica está
intrinsecamente vinculada à educação. Não são qualidades que
nascem com o homem, mas são cultivadas nele através de um processo
formativo. A educação pode tanto formar homens dotados das virtudes
imprescindíveis para ser um bom cidadão quanto pode fazer dele uma
pessoa fraca e arrogante. De alguma maneira os homens são o que a
educação fez deles, como bem dizia Nicolau Maquiavel.
Alguém
acredita que os que têm governado o País nestes últimos 40 anos
são produtos do divino? Claro que não! São produtos gerados por
nós enquanto sociedade e povo, pois não conseguimos entender que a
essência está na formação do individuo enquanto ferramenta de
afirmação de uma nação, esta dada pela educação. É urgente
mudar, mas deve ser igual para todos, assim como as oportunidades
também devem ser iguais para todos.
Torna-se
imprescindível e urgente proceder ao exorcismo da guerra, das
ideologias e da singularidade, no sentido de libertar os nossos medos
e anseios daquilo que deveria caracterizar a qualidade de cidadãos
como um todo.
Talvez
seja até necessário refundar o Estado e a Nação, mas então que
seja feita rapidamente. Essa refundação deverá ser feita sobre o
condão da justiça, defendida por cidadãos com
responsabilidades e competências necessárias, que defendem a
subordinação dos interesses particulares ao bem púbico, que
combatem a tirania e que alimentam o desejo de atingir a glória e a
honra para si e para a pátria.
Mas
para que isso aconteça é urgente fomentar a cultura do homem
guineense com o essencial de patriotismo e virtude cívica, pois
desenvolvem nele as capacidades de servir a pátria até com a
própria vida, se necessário, pois onde há homens de bem impera a
democracia e o sentido de pertença.
É
sobejamente discutido e reconhecido o falhanço na edificação do
Homem Guineense e pouco se tem feito no sentido de corrigir isso.
Será que não existem homens e mulheres a altura deste ideal
patriótico?
Claro
que existem, apenas devem saber ocupar o seu espaço e afirmarem-se
naquilo que mais sabem fazer, cada um na sua área e especialidade,
nomeadamente, carpinteiro, pedreiro, camponês, serralheiro, médico,
economista, engenheiro, gestor, professor, etc., mas todos imbuídos
de um único propósito: Guiné-Bissau em primeiro lugar!
Em
suma, é necessário dotar o País com homens e mulheres que façam
da vontade do povo a sua força, a carência a sua justiça, para que
estes não sejam privados de esperanças.
O
importante é pensarmos nos outros e não tanto em nós! LV
09/09/2013
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