Em meios que acompanham a situação na Guiné-Bissau é comumente reconhecido que a ajuda financeira e técnica prestada por Timor-Leste à preparação das eleições, agora previstas para 13 Abr. foi decisiva para o avanço do processo – até então remetido a uma letargia considerada da conveniência de escusos interesses internos e regionais, aparentemente em bom convívio com o impasse anterior.
Na esteira do anúncio da ajuda de Timor-Leste, compreendendo USD 6 milhões e a deslocação para a Guiné-Bissau de 20 técnicos especializados na montagem de actos eleitorais, incluindo operações de recenseamento, a Nigéria garantiu uma ajuda financeira de montante equivalente – ficando assim finalmente criadas condições para o avanço do processo. As autoridades timorenses invocam formalmente questões de princípio para justificar a sua política em relação à Guiné-Bissau:
a) os países lusófonos, em geral, foram os mais solidários com a resistência da Fretilin e do povo de Timor-Leste à ocupação indonésia; alguns desses países, em especial a Guiné-Bissau, encontram-se em situação difícil;
b) Timor-Leste deve ajudar os que atravessam dificuldades, fazendo-o em nome de uma dívida de gratidão e em razão de laços antigos e de afinidades múltiplas, mas também porque tem condições para o fazer devido ao seu elevadíssimo superavit em relação ao PIB.
Foram estes os elementos ponderados em conversas prévias sobre o assunto entre o actual Presidente, Taur Matan Ruak, o Primeiro Ministro, Xanana Gusmão e Ramos Horta, ex-Presidente e actual representante na ONU em Bissau.
Entre os analistas são, porém, consideradas outros factores adicionais na decisão das autoridades timorenses ajudar a Guiné-Bissau: projectar externamente a imagem do país – com as vantagens de o fazer em associação com uma boa causa (criação de condições para a realização de eleições); num país com dimensão à altura da sua e com o qual tem múltiplas afinidades; por fim, contribuir para o êxito da sensível missão de um compatriota, Ramos Horta.
São também correntes conjecturas segundo as quais Timor-Leste se moveu com o objectivo de colmatar lacunas decorrentes do relativo distanciamento a que a CPLP votou a Guiné-Bissau – enquanto tal ou na pessoa de alguns dos seus membros, como Angola, forçada a retirar-se do país no seguimento do golpe de Estado de 12 Abr. 2012.
Na perspectiva das autoridades timorenses, a sua “entrada em cena” na Guiné-Bissau também poderia ajudar a satisfazer exigências da CPLP como a de um retorno à ordem político-constitucional – condição imposta para o termo do isolamento do país por parte da organização.
Tendo em conta desconfianças regionais cultivadas pela CEDEAO e por alguns dos seus países mais influentes em relação à presença na Guiné-Bissau de países como Angola ou Moçambique, ou más vontades internas em relação a outros, como Cabo Verde, Timor-Leste apresentou-se com a vantagem de provir de uma parte distante do mundo, alheio a disputas regionais ou outras.
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