Peça teatral que pode ser lida como um romance, «Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito», do angolano Ondjaki, vencedor do Prémio Literário José Saramago 2013 com «Os Transparentes», ambos editados pela Caminho, é uma obra absolutamente hilariante, não tivéssemos 13 personagens oriundos de Angola, Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné Bissau. Finalmente uma CPLP que funciona…
Ondjaki já mostrou com as suas obras ser um dos escritores de língua portuguesa mais versáteis da atualidade. «Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito» é a prova disso. Livro para ser desfrutado em apenas uma tarde (infelizmente…), o angolano demonstra mais uma vez a sua astúcia com a linguagem, oferecendo ao leitor diálogos entusiasmantes, sempre pontuados por uma fina ironia que dificilmente não irá provocar risos ao leitor (fica o aviso: cuidado ao ler nos transportes públicos).
Tudo começa no Edifício Migração-Com-Fronteiras, quando encontramos os primeiros personagens desta peça teatral, que conta com 13 no total, oriundos dos mais diversos cantos do universo PALOP (embora a acção seja em Lisboa e o Brasil também seja referenciado). Em comum a todos, apenas a língua portuguesa.
E acaba por ser a língua portuguesa a 14.º protagonista da trama criada por Ondjaki, tal a diversidade criada pelo seu autor através de diálogos que nunca perdem o seu ritmo, apesar das gírias que apresenta. Como o segurança português do Edifício Migração-Com-Fronteiras, também nós, leitores, procuraremos nos “adaptar” a este rico universo linguístico, onde a mistura é a sua riqueza.
Se há um personagem que se sobressai esse é J.J. Mouraria, «originário barrigalmente das terras de São Tomé e Príncipe, mas já vindo ao mundo nesta capital lisboeta de frios e tanta africanidade. (…) O Jota Jota é de raízes familiares, o Mouraria é de afinidades urbanas…». É este personagem que conduz toda a trama, primeiro no Edifício Migração-Com-Fronteiras, depois na casa da sua namorada aquando do jogo Portugal-Angola, do Mundial 2010.
É verdade que tudo se passa em Lisboa, mas é-nos oferecido «uma confraternização palopiana sem interferências do carimbo Schengen». Ondjaki aborda de forma cáustica vários assuntos sérios, como a burocracia e a gravidez precoce, por exemplo, mas «Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito» é antes de tudo um livro sobre o relacionamento entre africanos em território europeu, da cultura dos PALOP, sempre dispostos ao convívio, desde que regado por cerveja gelada e, se possível, «peixe frito». Mas também sobre o lado humano dos personagens africanos, que, segundo o jornalista e poeta Abderrrahmane Ualibo, «sobrepõe-se às suas nacionalidades, mas não aos seus costumes».
Ondjaki prova mais uma vez com «Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito» o seu enorme talento, um autor que merece sem restrições o carinho de todos os leitores da CPLP.
É verdade que tudo se passa em Lisboa, mas é-nos oferecido «uma confraternização palopiana sem interferências do carimbo Schengen». Ondjaki aborda de forma cáustica vários assuntos sérios, como a burocracia e a gravidez precoce, por exemplo, mas «Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito» é antes de tudo um livro sobre o relacionamento entre africanos em território europeu, da cultura dos PALOP, sempre dispostos ao convívio, desde que regado por cerveja gelada e, se possível, «peixe frito». Mas também sobre o lado humano dos personagens africanos, que, segundo o jornalista e poeta Abderrrahmane Ualibo, «sobrepõe-se às suas nacionalidades, mas não aos seus costumes».
Ondjaki prova mais uma vez com «Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito» o seu enorme talento, um autor que merece sem restrições o carinho de todos os leitores da CPLP.
(De: Pedro Justino Alves)
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