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Joseph Pulitzer

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Dos teus amigos americanos. "As pessoas com ébola deviam ser executadas"


Extermínio em massa e sanitização com napalm. Todd Kincannon, antigo director do Partido Republicano da Carolina do Sul, não faz por menos.

Todd Kincannon é um advogado americano cheio de opiniões e expressa-as no Twitter sem se preocupar com a decência. "As pessoas com ébola nos Estados Unidos deviam ser executadas", escreveu há dois dias.


No caso da população afectada na África Ocidental, o antigo director-executivo do Partido Republicano da Carolina do Sul deixa uma receita semelhante: "O protocolo para um teste positivo de ébola devia ser execução imediata dos humanos e sanitização de toda a região".

Percebe-se, assim, que um banho de sangue resolveria o problema. Para conhecer o tipo de "sanitização" de que o advogado de 34 anos fala, basta ler um outro tweet: "Devíamos bombardear a região com napalm".

Torna-se também evidente que a população negra não lhe merece qualquer compaixão. "Os africanos têm a culpa da situação ser tão má. Eles devem deixar o canibalismo e aprender cálculo".

Kincannon escreve que "não há nada de errado com a necessidade de sobrevivência" e, enquanto 'perito' em terrorismo internacional, deixa o alerta: "Esperem até os terroristas usarem o ébola numa bomba biológica devido à nossa estúpida compaixão".

E há ainda a tese conspirativa, baseada na ideia de que a culpa é de Barack Obama, o primeiro Presidente afro-americano na história dos Estados Unidos. "Elegemos um queniano como Presidente. Agora temos ébola e desemprego", desabafou o causídico, que não esteve atento ao anúncio oficial, na passada sexta-feira, da queda da taxa de desemprego para 5,9%, a mais baixa dos últimos seis anos.

Bacoradas e eleições

Com os Estados Unidos em campanha eleitoral, devido às eleições intercalares do próximo dia 4 de novembro, vários republicanos demarcaram-se.

Karen Floyd, antiga presidente do Partido na Carolina do Sul, trabalhou com o jovem político e prefere não recordar esse tempo. "Ele trabalhou no partido apenas três meses e no fim foi convidado a sair. Sobre o que ele diz, não tenho qualquer interesse em comentar. Isso está no fim da lista das minhas preocupações", disse ao Expresso.

Após as presidenciais de Novembro de 2012, o Partido Republicano agendou um encontro, dois meses depois, na cidade de Charlotte, onde as principais figuras do conservadorismo americano concordaram, publicamente, que havia um problema de imagem.

O presidente do Comité Nacional, Reince Priebus, pediu a alguns membros que deixassem de dizer "coisas parvas", enquanto o governador do Louisiana, Bobby Jindal, apelou: "Temos de deixar de ser o partido estúpido".

Mas as organizações não podem controlar tudo, muito menos indivíduos como Kincannon.

Depois de ter escrito que os homossexuais deviam ser "colocados em campos de concentração" e que os veteranos de guerra que aderiram a organizações pacifistas teriam de "voltar para o Iraque e regressar num caixão", o seu espaço no Twitter foi cancelado.

Kincannon abriu nova conta e despejou mais bacoradas. As últimas foram as do ébola.

Diga-se que, sobre a doença e os cinco casos detectados nos Estados Unidos, Barack Obama recordou ontem à tarde que "as chances de uma epidemia de ébola nos Estados Unidos são, extraordinariamente, baixas".

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