Foi um presidente guineense enfraquecido politicamente que fez a deslocação a Dakar para participar na Cimeira da CEDEAO. José Mario Vaz hipotecou uma parte o seu futuro politico ao perder o braço de ferro que o opôs ao ex-primero-ministro, Domingos Simões Pereira.
Ao observá-lo parece sereno, passo de marcha altivo. Assim estava, o chefe de Estado José Mário Vaz, sexta feira, ao passar revista à guarda de honra no aeroporto Osvaldo Vieira de Bissau, aparentando mais uma vez, um ar de imponência, ao subir a bordo do Focker da Força Aérea senegalesa posta à sua disposição pelo presidente Macky Sall para participar na Cimeira extraordinária da CEDEAO que se realizou em Dacar.
Porém, apesar do aparato e das aparências, o presidente José Mário Vaz é um homem profundamente abalado. 48 horas antes, acabara de receber um terrível e imprevisível golpe. Surpreendentemente, fazendo prova de uma independência insuspeita, os juízes do Supremo Tribunal acabaram de invalidar a nomeação do seu primeiro ministro Baciro Dja. O qual, entretanto havia formado o seu governo dois dias antes.
Os apoiantes do primeiro ministro demitido, Domingos Simões Pereira, alias DSP, tinham introduzido um recurso na justiça invocando o motivo de que, a nomeação de Dja não é conforme, nem com a Constituição, nem com os estatutos do PAIGC, a formação política histórica no poder, fundada por Amílcar Cabral.
Um revês politico de envergadura para o presidente Mário Vaz que se engajou num braço de ferro com o primeiro ministro, o qual destituiu brutalmente, apesar dos apelos da comunidade internacional no sentido de acalmar a tensão para evitar um novo período de instabilidade para a Guiné-Bissau.
Sobre essa situação, num tweet elucidativo do presidente nigeriano Muhammad Buhari, peso pesado da CEDEAO, este não esconde o seu desagrado pela situação criada : "É desagradável, quando consultas de bons ofícios estejam em curso, que o presidente Vaz, para aumentar a pressão, tome a decisão de avançar, nomeando um novo primeiro ministro." Nessa base, mesmo se a Cimeira extraordinária da CEDEAO organizada em Dacar, seja oficialmente sobre a paz e a segurança na sub-região, o presidente Macky Sall e os seus homólogos, estão sobretudo preocupados pelo destino da antiga colónia portuguesa.
Entre assassinatos repetitivos e o narcotráfico, o país de Cabral encontra dificuldades em encontrar o rumo da estabilidade. Alguns factos ocorridos nos últimos anos da vertigens: o responsável da queda de Nino Vieira, em 1999, o General Ansumane Mané, foi massacrado à paulada, o General Veríssimo Correia Seabra efémero chefe de uma enésima junta militar, assassinado no decurso de um levantamento militar, Samba Djalo, antigo chefe dos serviços de informação militar, executado em plena rua, Baciro Dabo, antigo ministro do interior, metralhado em casa e para finalizar, o presidente Nino Vieira ele mesmo, esquartejado à catanada sob os olhos impotentes da sua esposa, algumas horas após do seu Chefe de Estado Maior, o general Tagme Na Waie, ter sido pulverizado por uma bomba. E a lista dos dirigentes do país que perderam a vida esta longe de ser exaustiva.
Felizmente, graças às ultimas eleições gerais de 2014 ganhas pelo PAIGC que conduziu JOMAV à presidência e DSP a PM, os humores políticos serenaram um pouco. Bissau não oferece mais a impressão de ser um Far-west tropical e as populações ocupam-se dos seus afazeres. "É o único país no mundo onde se pode assassinar friamente um presidente da República e, no dia seguinte, as pessoas vão tranquilamente ao trabalho como se nada se tivesse passado" indigna-se um homem de negócios.
A ECOMIB, o contingente militar deslocado nesse país pela CEDEAO, está em alerta máximo tendo sido estrategicamente colocados nas várias artérias da capital.
Duelo Fratricida
Por este momento é DSP que leva a melhor no seu duelo com JOMAV. Depois de algum tempo, essas duas cabeças do executivo guineense, cujo funcionamento se torna ainda mais complicado devido a um regime semi-presidencial onde o primeiro ministro detém na realidade dos factos o poder, não se falam de uns tempos a esta parte.
Na verdade, tudo, senão quase tudo opõe JOMAV a DSP. O chefe de Estado é um homem de carácter fechado, no limite do taciturno, que tem reputação de ser intransigente. De sorriso fácil, DSP, apesar da sua juventude, é um político rodado, experimentado no aparelho da possante máquina de guerra eleitoral que é o PAIGC, no qual ele é o presidente desde o famoso Congresso de Cacheu. Além disso, a sua grande ascensão preocupa o campo presidencial.
Acusações mútuas não faltam entre os dois homens. Um velho contencioso os opõe, desde que Vaz, na época ministro das Finanças, pediu a cabeça da esposa de DSP, na época Directora do Tesouro, por desvios de fundos públicos. Uma nova frente foi aberta quando o presidente Vaz pediu ao seu primeiro ministro para se desembaraçar de uma dúzia de ministros os quais ele acusava de corrupção, pedido sobre os quais DSP não deu seguimento.
"O Presidente Vaz, não compreendeu infelizmente o papel que lhe atribui a Constituição e o seu único programa é de derrubar o meu Governo. Tudo isso é desagradável no momento em que o país começa a sair da rotina", lamenta o antigo primeiro ministro no seu gabinete na sede do PAIGC. Outro pomo de discórdia, o regresso a Bissau do antigo Chefe de Estado Maior, Zamora Induta que fugira do país nos dias seguintes ao golpe de 2012 que pôs fim ao regime de Carlos Gomes Junior alias "Cadogo", o qual ele é muito próximo e que Vaz suspeita ser um dos patrocinadores oficiais de DSP.
Em Bissau, apesar do seu exílio em Cabo-Verde, Cadogo continua muito temido por causa da sua capacidade de manobra e das potentes redes de contactos. Contudo segundo um diplomata ocidental conhecedor profundo da realidade em Bissau, a verdadeira razão dos desentendimentos entre Vaz e Pereira é a gestão de um verdadeiro maná: as centenas de bilhões que a comunidade internacional pretende desbloquear para ajudar a Guiné-Bissau um dos países mais pobres do planeta.
Uma espécie de "tesouro de guerra" que o presidente JOMAV não esta disposto a deixar nas mãos de um DSP julgado muito ambicioso e que pode ser uma ameaça para ele nas próximas eleições presidenciais. Em DaCar, os mediadores tentaram convencer o duo de encontrarem um consenso, pedindo a DSP para se afastar voluntariamente em proveito um novo primeiro ministro com o qual JOMAV, politicamente na situação em curso será obrigado a coabitar.
Por: Barka BA, enviado a Bissau.
(Via: blog 'DC')
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