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Joseph Pulitzer

sábado, 5 de outubro de 2013

Quarenta anos depois, continua-se a matar Cabral todos os dias na Guiné-Bissau.

Guiné-Bissau - 40 Anos Depois: 

Compreender o Falhanço

A Guiné-Bissau e a miséria politica, económica, social e cultural em que se encontra têm uma explicação que vale a pena conhecer se queremos sair dela. Quando Amílcar Cabral começa a luta pela Independência de Guiné e Cabo Verde, ele é o único membro do PAIGC que sabe em que consiste a Independência politica, económica e cultural de um povo.

 

Ele é o único que sabe o que é, e como se constrói um Estado e para que serve tal Instituição.
Cabral é o único que sabe o que é uma Nação e que a Guiné-Bissau é constituída por várias nações e povos diferentes (Balantas, Fulas, Mandjacos...e os Cabo-verdianos).
É o único que sabe como se pega em várias nações e povos diferentes e se transforma num só Povo - O Povo Guineense.
Ele é o único que sabe como se constrói um Estado Independente, habitado por um Povo Digno, sendo que a Dignidade é para Cabral um conceito claramente materializável e não uma abstracção como o é para a maioria das elites políticas e intelectuais africanas e a “elite” Guineense em particular.
Para Cabral um povo digno é aquele que tem o suficiente para comer, tem casa para viver, tem acesso à agua potável, sabe ler e escrever e vive do suor do seu trabalho e, por último, ponto fulcral, essa dignidade só tem valor se for conseguida através de esforço interno, e não através da administração de uma potência estrangeira.
Cabral é o único que sabe o que é uma Revolução, o que é uma luta armada, o que é uma luta de guerrilha, o que é um partido. Cabral é o único que sabe como derrotar o colonialismo português.

Esses conceitos: nação, povo, luta de classes, colonização, revolução, nacionalismo, dignidade, não foram inventados por Cabral.
Ele aprendeu com Marx, Lenine, Mao Tsé Tung, Sékou-Touré, Fidel Castro, Ho Chi Minh, etc...
Aprendeu e tentou ensinar os seus irmãos “guineenses”: Aristides Pereira, Luis Cabral, Pedro Pires, Nino Vieira, Saturnino, Ansumané Mané...

Por razões fáceis de compreender, Cabo-Verde foi sempre, no que se refere à educação, a colónia privilegiada da administração colonial portuguesa.
Eis a razão que explica por que é que quando a luta da libertação começa, os membros da “tribo” cabo-verdiana da Guiné-Bissau são os que estão em melhor posição de compreender Cabral e os seus ideais.
Nino Vieira, por exemplo, nunca compreendeu esse “conceito abstracto” chamado Unidade Nacional e muito menos Unidade Guiné-Cabo Verde. A luta de Cabral estava pois condenada ao fracasso.
Não tivesse ele sido morto pelo cancro que mais mata em África - o cancro da traição - Cabral teria sem dúvida falhado.

Se mesmo lidando apenas com os povos “originários” da Guiné-Bissau, a tarefa da construção de uma Identidade Guineense, de um Povo Guineense estava condenada ao fracasso, introduzir na luta da libertação um povo “não originário” da Guiné e de “pele clara”, era garantir o insucesso da aventura chamada Luta da Libertação Nacional.
Porquê? Porque Cabral introduzia na luta, sem saber, o vírus que atinge mais gravemente o homem africano. Dois exemplos de “ilustres” Africano e Afro-Americano atingidos por esse vírus: Leopold Sédar Senghor e Michael Jackson.
A Alienação é o nome da doença provocada por esse vírus. É a alienação que explica a “divergência” durante a luta de Independência entre a “ala guineense” e a “ala cabo-verdiana.”

É a alienação que explica o golpe de estado de 1980 contra Luís Cabral...pelo Movimento Reajustador. Reajustador das cores.
Não tivesse Cabral sido assassinado, teria ele tido tempo de encontrar a cura contra esta doença , que explica o complexo de inferioridade de que tanto sofremos e que explica muito dos nossos problemas hoje em dia ?
Não! Se é verdade que Cabral não ignorava a existência dessa doença, ele nunca poderia ter encontrado a cura porque simplesmente ela não existia à época e mesmo ainda hoje poucos africanos têm consciência da existência dessa doença e muito menos sabem que remédio contra essa doença existe.

Os Afro-Americanos, por exemplo, admiram e votam na esmagadora maioria, (99,9%) por Barack Obama.
Não há nenhuma dúvida de que o homem é, como todos os presidentes americanos, excepto Jimmy Carter, um criminoso.
A questão que devemos colocar então é a seguinte: Porquê esse apoio esmagador a um criminoso por parte dos Afro-americanos e dos Africanos? Resposta : A alienação profunda de que o homem africano sofre. Não interessa o crime, se o criminoso tiver a mesma cor de pele que nós. Os crimes de Nino Vieira não são crimes, mas os de Luís Cabral são.
Não temos nada contra a máfia e os crimes da máfia se o líder da mafia tiver a mesma cor de pele que nós. Eis o que a explica a popularidade de que goza Barack Obama.

Os crimes de George Bush, Clinton, não temos dúvida em apontá-los mas os do presidente que tem a mesma cor que nós, nem pensar!
Martin Luther King e Amílcar Cabral ensinaram que o homem devia ser julgado pela sua personalidade e não pela sua cor de pele.
Claro que esse princípio moral só deve ser aplicado quando nos convém, caso contrário não conseguiríamos explicar a popularidade dos nossos mafiosos, quando criticamos implacavelmente os mafiosos de pele branca ou mais clara que a do autor deste artigo (Guineense preto).

E na Guiné-Bissau nunca conseguiríamos explicar o nosso “ódio” (ou será inveja?) do Cabo-verdiano.
“Ódio” que explica a traição a Cabral, o golpe de estado contra Luís Cabral e, também o golpe de estado contra Carlos Gomes Jr (Cadogo). Carlos Gomes Jr era um Primeiro-Ministro incompetente e teria sido sem dúvida um péssimo Presidente de Guiné-Bissau.
Mas o seu defeito não era ser incompetente. Ser incompetente é a condição sine qua non para governar a Guiné-Bissau.
O seu defeito mortal era ser “burmedjo”. É esse facto que explica o ódio que o bando armado e a “classe política” guineense têm a “Cadogo”.
Quarenta anos depois da Independência, a “elite” militar e política guineense continua pois na mata a lutar contra os Cabo-verdianos.

Sem reconhecermos essa verdade, NUNCA conseguiremos mudar a nossa terra.
Recapitulemos: vários povos e nações a transformar num só-Povo Guineense e uma Nação Guineense-cancro da traição, a Alienação, povos “originários” da Guiné com níveis de instrução extremamente baixos e incapazes de compreender os conceitos e ideais “abstractos” de Cabral (Liberdade, Unidade, Dignidade, Luta), etc.
Isso significa que só por milagre, quarenta anos depois, um dos países que Cabral criou, poderia estar numa situação politica, económica, social e cultural diferente.
Cabral falhou. Mas essencialmente são os povos da Guiné-Bissau que falharam. E continuam a falhar. Quarenta anos depois, O Povo Guineense ainda não existe.
Quarenta anos depois, continua-se a matar Cabral todos os dias na Guiné-Bissau.

((Azibo Berta, 10/2013) Mov. Salvação GBissau))

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